by Raquel Dominguez

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Como são as pessoas da cidade de onde vens?

Um senhor, na casa dos seus 80 anos, descansava no banco da praça de uma pequena cidade, quando foi abordado por um homem que tinha estacionado o carro ali perto:

- Bom dia, senhor. Como está?

- Bom dia, meu amigo - respondeu o idoso.

- O senhor mora aqui? - perguntou o homem.

- Sim, desde que nasci - disse o senhor com um tom de satisfação.

Ao que o visitante explicou:

- Eu e a minha família estamos prestes a mudar-nos para cá e eu gostava de saber como são as pessoas desta cidade. O senhor poderia dizer-me?

O idoso perguntou então ao homem:

- Antes deixe-me perguntar-lhe uma coisa: Como são as pessoas da cidade de onde você vem?

Sem constrangimentos, o futuro morador respondeu:

- Ah, de onde eu venho as pessoas são muito boas, hospitaleiras, amigas. Toda a gente se dá muito bem. Eu gosto imenso daquelas pessoas. Só estou mesmo a sair de lá porque a empresa onde eu trabalho abriu uma filial aqui e colocou-me como diretor.

Satisfeito com a resposta, o idoso comentou:

- O senhor é uma pessoa de sorte! Esta cidade é exatamente como a sua. Tenho a certeza que a sua família vai gostar muito das pessoas daqui. Na verdade, você acabou de ganhar um novo amigo! Eu chamo-me José, muito prazer!

Aquele homem agradeceu o idoso pela sua hospitalidade, voltou para o carro e foi-se embora.

Horas mais tarde, outro homem chegou à mesma praça onde se encontrava o idoso e fez-lhe a mesma pergunta.

- Senhor, boa tarde. Estou a pensar mudar-me para cá e gostaria de saber como são as pessoas desta cidade.

O idoso, então, perguntou:

- E como eram as pessoas da sua cidade, meu amigo?

Não percebendo muito bem a pergunta, o homem respondeu:

- Ah, eram pessoas sem educação nenhuma. Um bando de gente orgulhosa, preconceituosa, arrogante e mesquinha. Só para você ter uma ideia, eu morei lá mais de 15 anos e não fiz um único amigo sequer!

Com uma voz calma, o senhor de cabelos brancos disse ao homem:

-Então lamento muito, meu filho. Infelizmente você vai encontrar exatamente o mesmo tipo de pessoas nesta cidade. As pessoas aqui não são amigas de ninguém, são orgulhosas e vivem de cara fechada. Aconselho-o a procurar outra cidade para viver, pois as pessoas daqui vão decepcionar-lhe muito!

Um vendedor da praça, que assistiu à conversa toda do idoso com os dois homens, não se conteve e perguntou:

- Senhor José, o senhor desculpe-me, mas eu não pude deixar de ouvir as conversas que você teve com aqueles dois homens. Como é que o senhor pôde responder à mesma pergunta com duas respostas tão diferentes?

O senhor José riu da curiosidade do comerciante e respondeu:

- Ah, meu bom amigo... Nós sempre vemos e julgamos o mundo a partir da nossa visão, a partir de quem nós somos. Uma pessoa preconceituosa, por exemplo, vai ver todas as pessoas preconceituosas da cidade; uma pessoa conflituosa só verá as pessoas complicadas do sítio.

- Como assim, senhor José? Não percebo o que você quer dizer.

O idoso então explicou:

- Aquele homem que aqui veio de manhã vai ver as pessoas boas e amigas da nossa cidade; já o segundo, que acabou de se ir embora, só irá ver os orgulhosos, preconceituosos e arrogantes. Entenda uma coisa rapaz, o mundo depende da visão que nós temos. O exterior irá sempre refletir o que nós temos guardado no nosso interior.

O que aprendi com esta história?

É tão verdade o ensinamento que está contido nesta história. É difícil reconhecer isso, mas conheço uma história real que valida na perfeição a verdade que está a ser dita aqui.

Tenho uma amiga que sempre se deu mal nos trabalhos por onde passava. Ela vê o mundo de uma forma muito negativa, sobretudo as pessoas que nele habitam (consequência do ambiente onde cresceu).

Um dia, farta de estar em Portugal e não aguentando mais os portugueses, foi trabalhar para Inglaterra na esperança de que fosse correr melhor.

Não correu.

Encontrou o mesmo tipo de pessoas. Mesquinhas, falsas, problemáticas… É verdade que não a considero uma pessoa assim, mas é assim que ela acredita que a maior parte das pessoas é. Logo, é isso o que ela encontra. É isso o que ela vê.

Mais tarde, farta de estar em Inglaterra e não aguentando mais os ingleses, foi trabalhar para Itália na esperança de que fosse correr melhor.

Não correu.

Encontrou o mesmo tipo de pessoas. Acabou por voltar para Portugal.

Sim, temos muita tendência para ver o mundo como nós somos. Daí o famoso ditado “Quem não confia não é de confiança”. Mas acredito que nem sempre é assim. Tal como acontece com a minha amiga, por vezes nós só estamos a ver o mundo como ele nos foi apresentado logo na infância - inospitaleiro; que não se pode confiar. Outras vezes, foi mesmo a própria vida que nos tentou ensinar, da maneira mais difícil, que não podemos e não devemos confiar em toda a gente. São as tais lições de vida.

Mas seja porque razão for, o que esta história me ensinou foi a olhar para dentro de mim com todo o amor e carinho e perceber: Como são, de facto, as pessoas da cidade de onde eu venho?