by Raquel Dominguez

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O Anel

Há muito tempo atrás, um jovem que vivia desanimado dirigiu-se ao seu professor:

- Venho aqui, professor, porque sinto-me tão pouca coisa que não tenho forças para fazer nada. Dizem-me que não sirvo para nada, que não faço nada bem, que sou lerdo e muito idiota. Como posso melhorar? O que posso fazer para que me valorizem mais?

O professor, sem olhá-lo, disse-lhe:

- Lamento muito meu jovem, mas não posso ajudar. Devo primeiro resolver o meu próprio problema. Talvez depois.

E, fazendo uma pausa, disse:

- Se tu me ajudares, eu poderia resolver este problema com uma maior rapidez e depois, talvez, possa ajudar-te.

- Claro, professor – gaguejou o jovem, sentindo-se de imediato outra vez desvalorizado.

O professor tirou um anel que usava no dedo mindinho e deu ao rapaz dizendo:

- Pega no cavalo e vai até ao mercado. Devo vender esse anel porque tenho de pagar uma dívida. É preciso que obtenhas pelo anel o máximo possível, mas não aceites menos do que uma moeda de ouro. Vai e volta com a moeda o mais rapidamente possível.

O jovem pegou no anel e partiu. Mal chegou ao mercado, começou a oferecer o anel aos mercadores. Eles olhavam com algum interesse até o jovem dizer quanto pretendia pelo anel.

Quando o jovem mencionava a moeda de ouro, alguns riam, outros saíam sem sequer olharem para ele. Só um velhinho foi amável, a ponto de explicar que uma moeda de ouro era muito valiosa para comprar um anel.

Tentando ajudar o jovem, chegaram a oferecer uma moeda de prata e uma chávena de cobre, mas o jovem seguia as instruções de não aceitar menos do que uma moeda de ouro e recusava as ofertas.

Depois de oferecer a joia a todos os que passaram pelo mercado, abatido pelo fracasso, montou no cavalo e voltou. O jovem desejou ter uma moeda de ouro para que ele mesmo pudesse comprar o anel, livrando a preocupação do seu professor e assim receber ajuda e conselhos.

Já na escola, diante do seu mestre, disse:

- Professor, lamento muito, mas é impossível conseguir o que me pediu. Talvez pudesse ter conseguido duas ou três moedas de prata, mas não acho que se consiga enganar ninguém sobre o valor do anel.

- É importante o que disseste, meu jovem... – o professor disse, sorridente. – Devemos saber primeiro o valor do anel. Pega novamente no cavalo e vai até ao joalheiro. Quem melhor do que ele para saber o valor exato do anel? Diz-lhe que queres vender o anel e pergunta quanto ele te dá. Mas não importa o quanto ele te ofereça, não o vendas! Volta depois aqui com o meu anel.

O jovem foi até ao joalheiro e deu o anel para examinar. O joalheiro examinou o anel com uma lupa, pesou o anel e disse:

- Diz ao teu professor que se ele quiser vender agora, não posso dar mais do que 58 moedas de ouro pelo anel.

- 58 MOEDAS DE OURO!!! – exclamou o jovem.

- Sim, replicou o joalheiro, eu sei que, com tempo, eu poderia oferecer cerca de 70 moedas, mas se a venda é urgente...

O jovem correu emocionado para a escola para contar o que aconteceu. Depois de ouvir tudo o que o jovem lhe contou, o professor disse:

- Tu és como esse anel, uma joia valiosa e única, e que só pode ser avaliada por um entendido. Pensavas que qualquer um podia descobrir o teu verdadeiro valor?

E, dizendo isso, voltou a colocar o anel no dedo.

O que aprendi com esta história?

Há uma frase de Abraham Hicks que diz “As pessoas irão amar-te. As pessoas irão odiar-te. E nada disso terá alguma coisa a ver contigo.” É verdade, não tem. Tem a ver com a pessoa que te ama ou que te odeia. Tem a ver com a sua forma de pensar, as suas crenças, os seus valores; tem a ver com o seu passado e a sua experiência de vida; tem a ver com as suas inseguranças, as suas insatisfações, as suas necessidades e as suas motivações. No fundo, tem tudo a ver com ela e nada a ver contigo.

O teu valor nunca te poderá ser dado por outra pessoa. Ele é intrínseco a ti. Se ele é reconhecido pelos outros ou não, isso tem a ver com os outros. Se ele é reconhecido por uma pessoa muito importante para ti, isso tem a ver com essa pessoa e contigo. Se ele é reconhecido por ti, isso tem a ver apenas contigo.

Contudo, é perfeitamente normal quereremos ser reconhecidos pelos outros. Sobretudo por aqueles que nos são mais queridos. Ser aceite pelos nossos pares é de extrema importância para nós. Há muitos anos atrás isso traduzia-se mesmo em caso de vida ou morte, pois se fossemos expulsos da nossa tribo as nossas chances de sobrevivência diminuíam drasticamente.

O problema surge quando ficamos dependentes dessa aceitação externa, olhando para nós da mesma forma como os outros nos olham. Pois tal como aprendi com esta belíssima história, por vezes nós só estamos mesmo é no sítio errado com as pessoas erradas.