by Raquel Dominguez

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O Pescador

Um homem de negócios americano, no ancoradouro de uma aldeia da costa mexicana, observava um pequeno barco de pesca que atracava naquele momento trazendo um único pescador. No barco trazia vários atuns grandes de barbatana amarela. O americano deu os parabéns ao pescador pela qualidade dos peixes e perguntou-lhe quanto tempo levara para pescá-los.

- Pouco tempo - respondeu o mexicano.

Em seguida, o americano perguntou-lhe porque é que ele não permanecia no mar por mais tempo, o que lhe permitiria uma pesca mais abundante.

O mexicano respondeu que tinha o bastante para atender as necessidades imediatas da sua família.

O americano voltou à carga:

- Mas o que é que você faz com o resto do seu tempo?

O mexicano respondeu:

- Durmo até tarde, pesco um pouco, brinco com os meus filhos, durmo a siesta com a minha mulher Maria, vou todas as noites à aldeia, bebo um pouco de vinho e toco violão com os meus amigos. Levo uma vida cheia e ocupada, senhor.

O americano assumiu um ar de pouco caso e disse:

- Eu sou formado em gestão de negócios em Harvard e posso ajudá-lo. Você deveria passar mais tempo a pescar e, com o lucro, comprar um barco maior. Com a renda produzida pelo novo barco, poderia comprar outros tantos. No fim, teria uma frota de barcos pesqueiros. Em vez de vender o peixe a um intermediário, venderia diretamente a uma indústria processadora e, no fim, poderia ter a sua própria indústria. Poderia controlar o produto, o processamento e a distribuição. Precisaria deixar esta pequena aldeia costeira de pescadores e mudar-se para a Cidade do México, em seguida para Los Angeles e, finalmente, para Nova York, de onde dirigiria a sua empresa em expansão.

- Mas senhor, quanto tempo isso levaria? - perguntou o pescador.

- Quinze ou vinte anos - respondeu o americano.

- E depois, senhor?

O americano riu e disse que essa seria a melhor parte.

- Quando chegar a ocasião certa, você poderá abrir o capital da sua empresa ao público e ficar muito rico. Ganharia milhões!

- Milhões, senhor? E depois?

- Depois - explicou o americano - você reformava-se. Mudar-se-ia para uma pequena aldeia costeira onde dormiria até tarde, pescaria um pouco, brincaria com os netos, dormiria a siesta com a esposa, iria à aldeia todas as noites, onde poderia tomar vinho e tocar violão com os amigos...

O que aprendi com esta história?

Quando olhamos para a vida de uma pessoa, conseguimos dizer se ela é bem sucedida ou não. Fazemos isso, em grande parte, avaliando os bens materiais que ela possui e o quanto cresceu na sua carreira (sobretudo quando comparamos com a nossa). No entanto, o que falhamos em ver é se a pessoa, apesar de todo o seu sucesso, é feliz ou não com a vida que tem.

E se não for, será que ela é bem sucedida?

Avaliar o sucesso olhando apenas para o que se tem é olhar para metade da equação.

Nunca se vai conseguir resolvê-la.

Nós achamos que ao termos o que queremos vamos sentir o que queremos. É por isso que passamos uma vida inteira a ir atrás do ter e não do ser. Mas a regra para a resolução da equação costuma ser clara e simples: crescimento exterior sem crescimento interior é crescer no vazio. É por isso que tanta gente tem tanta coisa e ainda assim se sente tão vazia.

Ter mais não significa necessariamente sentir-se melhor, tal como me ensinou esta belíssima história. Mas sentir-se bem com o que se tem - independentemente do que se tem - é, sem dúvida alguma, meio caminho andado para se sentir que já se tem tudo o que se quer na vida. E, para mim, essa é toda uma nova forma de olhar para o que significa, afinal, ter sucesso.