by Raquel Dominguez

View Original

Capítulo IX - Agra

Dia 21 de Agosto de 2012 || 21h50 – Agra

Até agora, hoje acho que foi o dia em que eu me senti o mais desconfortável possível. Isto porque, antes de chegarmos a Agra, parámos em Fatehpur Sikri (uma cidade abandonada), que em vez de estar cheia de turistas, estava cheia de “local people” devido a uns dias festivos que estão a decorrer (não percebi muito bem…). E foi simplesmente horrível!

O guia disse que eles são “illiterate people” e que não estão habituados a ver brancos. Ora, se já era desconfortável andar nas ruas indianas (seja de que cidade for), aqui ainda foi pior. Olhavam mais, e chegavam até a parar ao pé de nós enquanto o guia nos estava a explicar coisas. E não eram poucos! Houve um miúdo que até teve o descaramento de me passar a mão no rabo! Mas pior ainda foi quando entrámos numa zona sagrada (que era enorme; tinha uma grande praça no centro e uns edifícios a rodeá-la), descalças, claro, e com chuva. Esta praça estava cheia de gente e cheia de pequenas “lojas” montadas no centro. Acho que as únicas turistas éramos nós. Cada vez que o guia parava, um grupo de rapazes rodeava-nos e ficava ali a olhar para nós. Mas esta gente que olhava era diferente dos outros olhares. Estes eram mais incomodativos e “agressivos”. Eu já não queria ver mais nada. Eu só me queria vir embora. E o mais engraçado é que só eu é que parecia estar assim tão incomodada. Mas, de facto, estava-me mesmo a sentir como se estivesse num zoo, em que eu é que estava a ser observada (e bem de perto!).

Para piorar as coisas, estava a chover e eu estava com os pés numa miséria – sujos e tingidos de azul por causa das sandálias.

Chegámos a Agra e já era quase noite (mas também não é por isso que se ligam as luzes dos carros!!!) e… parecia que estava em Delhi outra vez! É que, realmente, a única coisa que a Índia tem para ver são os fortes, os palácios e as imponentes construções que os Marajás construíram no seu tempo. Porque de resto é tudo igual. Basta ir a Delhi para se ver o resto da Índia: caótica, imunda, cheia de gente, pobre, ensurdecedora… Enfim, sinceramente eu ainda não consegui arranjar muitos adjectivos positivos para descrever este país. Até agora ainda não houve nada que me fizesse dizer que não me importaria de vir aqui outra vez, mesmo que fosse para visitar outros lugares… Ou sou eu que sou muito limitada e insensível, ou então não percebo mesmo porque há tanta gente de fora que adora vir cá.

Esta era uma das razões pela qual eu queria vir à Índia – para saber porque há tanta gente que a adora, tendo em conta tudo o que eu já disse para trás. E até estava quase convencida que eu própria ia ser uma dessas pessoas. No entanto, ainda não consegui deixar de estar do lado daqueles que dizem que não gostaram da Índia…

Observações:

  • Aqui passa-se a vida a ver homens a mijar na rua (seja de pé ou de cócoras) e a cuspir (vi um que estava a conduzir uma mota e, em andamento, tirou o capacete – que é raro eles andarem com um –, cuspiu e voltou a colocar o capacete.

  • Quando chove ninguém se protege; as pessoas simplesmente andam à chuva, ficando completamente ensopadas.

  • Parece que o pessoal só acende as luzes dos carros e das motas quando é mesmo já de noite, ou seja, quando já está mesmo escuro, porque até lá andam na estrada como se nada fosse…

  • Aqui, na Índia, não há casas; há “construções” onde as pessoas vivem e pronto…

  • Os homens aqui são super vaidosos, no sentido em que adoram tirar fotos (posam e tudo!).

22-08-2012 || 12h54 – Agra

Eu só quero sair daqui o mais depressa possível! Se eu pudesse ia já para casa. Isto está a ser horrível.

Depois de ter ido ver o Taj Mahal e o Agra Fort esta manhã com as canadianas (Noémie e Daphenie), vim para o hotel ainda não eram 11h (tinha combinado com elas às 6h. Não dormi nada, claro, principalmente porque havia muito barulho exterior).

Quando cheguei o meu motorista pediu-me pelo dinheiro. Eu tinha que pagar 18.360 rupias e dei-lhe 19.000, sendo o resto a sua gorjeta. Pode não ser muito, mas também já não tenho muito mais (e também não posso gastar mais), e além disso não gostei muito do serviço. Para além de ele quase não falar inglês, o que tornou a viagem muito mais difícil (e ainda por cima eu não tinha mais ninguém com quem falar), ele apenas fazia o mínimo que tinha que fazer, ou seja, levava-me de uma cidade a outra, deixa-me nos hotéis e pronto. Eu vi outros condutores que faziam mais do que isso. Para além de que quando eu lhe pedia alguma coisa “extra”, ele não gostava. Tal como aconteceu em Jaipur e no caminho para Agra (porque ele não me queria levar a ver um poço em Abhaneri; disse que não ficava na estrada para Agra).

No entanto, e como eu já deveria esperar, ele não gostou da minha gorjeta e perguntou se ele não fez um bom serviço, se eu não estava contente. E deu a entender (no mau inglês dele) que ele só estava a receber isto pelos dias que esteve comigo. Eu disse-lhe que o resto já tinha pago à agência e que depois eles lhe pagariam pelo seu serviço. Mas parece que não… Já estava a ficar de tal maneira chateada e nervosa que comecei a chorar. Pedi para ele ligar ao Raja (o agente) para eu falar com ele. O Raja tinha-me dito que eu dava a “tip” no final se quisesse. Eu dei, mas parece que há um mínimo que é suposto pagar. Não faço ideia. Não estava a perceber nada, e parecia que a única coisa que ele ia receber era a minha “tip”, que não era muito.

Falei com o Raja e ele disse que eu só dava gorjeta se eu quisesse, e que ele depois falava com o Dimple. Bom, a verdade é que não ficou nada resolvido, porque parece que o Dimple ficou chateado na mesma e sem perceber o que se estava a passar. Eu mostrei-lhe o meu papel da agência (e ao recepcionista) onde estavam os 890€ que eu paguei e tudo o que estava incluído, nomeadamente o condutor. E disse-lhe que uma parte daquele dinheiro era para ele (ou deveria). Ele percebeu que eu dei a sua “tip” ao agente e ainda por cima no início da viagem, quando deveria ser no fim. O problema é que eu já não sabia se estávamos a falar do mesmo. Eu só chorava e ele lá acabou por dizer “no problem”.

Entretanto perguntei ao recepcionista quanto é que as pessoas costumam dar aos condutores. Ele disse que por 14 dias são mais ou menos 2.500 rupias. Por dia é mais ou menos 200. Se eu não estivesse sozinha, e se o condutor tivesse sido como o das espanholas, eu até daria esse dinheiro. Mas como não tenho esse dinheiro, não sabia que havia um mínimo e não gostei por aí além do seu serviço, dei o que pude.

Eu percebo que, segundo a cultura deles, ele se sinta “ofendido”, mas segundo a minha eu não estou a fazer nada de mal. Para além de que ainda não percebi se este dinheiro é mesmo só gorjeta ou se faz parte do “salário” dele.

Enquanto esperava no sofá da recepção que as horas passassem (apesar de, ironicamente, não querer nada ir de comboio para Varanasi), perguntei ao recepcionista se ele sabia como é que eu tinha que fazer para apanhar o comboio certo (isto depois de ele me dizer que costuma andar de comboio). Não me soube explicar nada. Mostrei-lhe o bilhete e tudo, e nada! Como é que isto é possível?! Que frustração! Somebody please take me out of here! I just want to go home… :(