O diário da minha viagem à Índia
Capítulo XI - Varanasi
Dia 25 de Agosto de 2012 || 13h55 – Varanasi
Hoje (ainda há pouco) aconteceu uma coisa com o espanhol que eu não estava à espera. Mas vou começar por falar do final do dia de ontem.
Depois de termos ido jantar os dois ao mesmo bar do dia anterior, viemos para o lobby do hotel. Começámos a falar e ele percebeu que eu tinha um problema dentro de mim para resolver, que estava relacionado com o meu pai. Perguntou-me se eu queria fazer terapia com ele (uma que eu nunca tinha ouvido falar, e nem consegui perceber o nome), e eu lá acabei por aceitar. Foi rápido e estranho, mas acho que foi positivo. E foi estranho também isto ter acontecido aqui na Índia, com um espanhol que eu conheci há dois dias.
Hoje a coisa já foi diferente e também muito estranha. Tomámos o pequeno-almoço juntos e viemos outra vez para o lobby (onde me encontro, porque já tive que fazer o check-out). Como já tínhamos combinado antes que ele me ajudaria com a ida para a estação de comboios (e eu até lhe tinha pedido para ele ir comigo também), ele então foi ligar para o taxista que lhe tinha trazido até ao hotel. O hotel estava-me a pedir 800 rupias e ele pediu 400 ao seu condutor. Só que afinal este taxista é condutor de um tuc-tuc. E eu estava-lhe a dizer que achava muito porque eu tinha pago 500 por um carro da estação até ao hotel, e só não tinha pago 400 porque não regateei mais. Ora, nunca se paga o mesmo numa viagem que se faz de carro ou de tuc-tuc. E ele sabe isso muito bem. Eu até lhe perguntei se os 400 eram para a ida e para o regresso. E ele dizia que eram só para a ida, e que não interessava o transporte mas sim o caminho que se tem que percorrer.
Bom, como ele viu que eu não estava convencida, foi logo a correr desmarcar com o seu taxista. Ou seja, ele ficou chateado por eu estar a “pôr em causa” a ajuda dele, e por isso nem perguntou mais nada e de imediato desmarcou o transporte.
Eu depois liguei para o taxista que me tinha trazido e ele pediu-me 500 rupias outra vez. Primeiro eu disse-lhe que não e ele não se importou que eu recusasse e também não baixou o preço, mas depois tive que lhe ligar outra vez porque não consegui arranjar outra hipótese.
Entretanto (antes de ligar a segunda vez) o espanhol perguntou-me o que é que eu ia fazer em relação ao transporte e eu disse-lhe que não sabia. Ele então disse que ia a um templo que queria ir, perguntou-me se eu ficava (disse-lhe que sim) e foi-se embora despedindo-se de mim.
16h50 – Varanasi
Estou no lobby do hotel a fazer tempo desde o meio-dia. O taxista disse que vinha às 18h. É um bocado apertado, mas espero que corra tudo bem. Já fui à internet à rua, já fui almoçar e já falei com o Hacier outra vez (não conseguiu ir ao templo porque estava muito trânsito).
Espero conseguir chegar a tempo à estação de comboios, tal como também espero encontrar mais turistas como aconteceu na vinda para cá. Japoneses devo encontrar (o hotel está cheio deles), mas parece que eles não se misturam com mais ninguém, para além de que, curiosamente, muitos deles também não falam inglês.
Sei que falta pouco para chegar a casa, mas ao mesmo tempo parece que nunca mais acontece. Ainda continuo ansiosamente à espera da hora em que vou estar à espera para entrar no avião, depois de já ter feito o check-in…
20h15 – Varanasi
Já estou no comboio e acabei de ter a maior aventura da minha vida!
Mas primeiro o hotel.
Eu tinha pedido ao taxista para me vir buscar às 17h30. Da primeira vez ele disse que sim, mas no segundo telefonema disse que já não podia e marcou para as 18h. Eu tinha comboio às 19h47 e a estação ainda fica a 1h de caminho mais ou menos. Ainda me passou pela cabeça ir para a rua lá para as 17h e andar a perguntar aos rickshaws quanto me levavam, mas acabei por não o fazer (na verdade eu até nem tinha gostado muito do taxista, mas na altura não estava a ver outra opção). No entanto, eram para aí umas 17h30 e eu já estava a ficar nervosa, até porque estava a chover imenso pela segunda vez (o que significava que o trânsito iria estar ainda mais caótico). Para além disso, tinha comigo a ligeira sensação de que o taxista não iria aparecer ou então que chegaria bastante atrasado, não sei porquê.
Entretanto, eram umas 17h45 e chega um tuc-tuc ao hotel para deixar uns japoneses. Nem pensei duas vezes! Levantei-me e fui perguntar ao homem quanto me levava até à estação. Disse-me 300 (o mesmo que já me tinham pedido antes quando cheguei a Varanasi) e eu nem regateei! Só me queria vir embora o mais depressa possível, por um valor mais baixo, e se possível sem o outro homem! Fui! E nem quis saber do outro! Estes “índios” – como lhe chamam os espanhóis – também não são honestos connosco mesmo!
O homem deve ter percebido que eu estava com pressa porque foi a abrir! E como era um tuc-tuc conseguia passar melhor por entre o trânsito do que acontece com os carros. Ele até foi por outra estrada para se desviar do caos.
A certa altura ele parou numa bomba de gasolina para encher uma garrafa e, claro, aproveitou-se logo: “350 rupies for fast, madam?” “Ok!”, disse-lhe eu. Ficou todo contente e lá foi a abrir. Devia ter negociado o preço inicialmente, bolas!
Mais à frente o senhor parou outra vez. Primeiro acendeu uma luz no seu tuc-tuc, e assim que parou veio um homem pôr-lhe no guiador um fio de flores pequeninas (desses das oferendas). O homem lá pareceu benzer-se e seguiu. Sempre a abrir. Parecia um jogo de corridas, mas daqueles muito mau. O homem inclinava-se para um lado e para o outro e tudo!
Depois, passado um tempo, acendeu a luz outra vez, começou a abrandar a mota e atirou uma moeda (acho que para uma dessas pessoas dos fios de flores).
Até que chegámos! 1h15m depois. São e salvos! Perguntei-lhe se ele me poderia ajudar a ir comigo à plataforma correta, mas ele não percebia nada do que eu dizia. Veio um outro homem (aliás, vieram uma data deles) que falava inglês e que acabou por me levar até à plataforma 3.
Ainda procurei por estrangeiros, mas nada… Sentei-me num banco onde estava um indiano jovem que tinha bom aspeto. Perguntei-lhe se aquela era a plataforma correta e ele disse-me que sim, e que também ia no mesmo comboio que eu. Começámos a falar. Via-se que era de uma classe mais alta. Talvez média. E que tinha estudos. Falava inglês (com o típico sotaque dificílimo indiano) e era de Agra, onde trabalhava. Perguntei-lhe se me podia trocar uma nota de 500, para eu poder comprar uma garrafa de água. Trocou (tinha um maço de notas no bolso).
De repente ele começa a olhar para a plataforma 4, que estava do outro lado. Era o nosso comboio!!! Bem, eu nem sei o que aconteceria se eu nunca tivesse falado com este rapaz. Eu acho que neste momento estaria a chorar na estação por ter perdido o comboio!
Ele também está na carruagem A2. E começámos a correr! Bom, ele começou a correr e eu fui atrás dele. Só que… para o sentido inverso onde deveríamos ir! E isto à chuva! Da pesada!
Chegámos ao fim do comboio e afinal a nossa carruagem era a da frente! Começámos a correr para trás, até que ele entra numa carruagem de “sleepers”. Fiquei chocada com o que vi. Consegue-se perceber perfeitamente que esta é a zona da classe mais pobre. Está apinhada de gente! Não dá sequer para dormir a não ser sentado. Começámos a percorrer as carruagens, mas ainda estávamos muito longe. Ele saiu outra vez (ou fui eu, já não me lembro) e continuámos a correr no sentido correto. E mais uma vez à chuva! E as “sleepers” não acabavam! O comboio parecia que nunca mais tinha fim! Que pânico! Teríamos que subir outra vez ou o comboio partia sem nós!
Lá conseguimos entrar no princípio da carruagem correta e começámos a andar outra vez pelos corredores. Ele ficou-se logo por ali, e eu continuei sozinha. Entretanto dei com um revisor que me levou até à minha “cama” correta.
Estou com uma família (pai, mãe e filho). A mulher não tirava os olhos de mim. Não é simpática. Estrangeiros nem vê-los…
Já me fui mudar à casa-de-banho. Estava completamente ensopada. Dos pés à cabeça. Só não mudei as cuecas! Enfim… não é fácil…
(PS: Esqueci-me de dizer que o rapaz entretanto veio ver como eu estava. Tão querido! Também já tinha mudado de roupa. Outra coisa, esta gente arrota que nem uns porcos, bolas!)
Dia 26-08-2012 || 10h40 – Deli (aeroporto)
Estou tão contente! Finalmente estou no aeroporto! Ainda faltam mais de 12h para eu me ir embora, mas eu nem quero saber. Só esperava por este dia!
Ainda faltava uma hora para chegar e a família indiana já estava a tirar as malas debaixo dos assentos e pô-las a jeito. Pô-las a jeito significa que as encostaram à minha cama para eles terem espaço do lado deles para porem as pernas, ao contrário de mim! O pessoal aqui não tem mesmo noção de espaço, principalmente do espaço dos outros! E depois atiravam tudo para o chão, em vez de porem em cima da mesa, pois sabem que irá passar alguém para recolher. Ir à casa-de-banho também foi uma aventura! Desta vez, não sei porquê, não havia “western toilet”, só o buraco no chão. Estar de cócoras a fazer as minhas necessidades, com um comboio em movimento que me abana o corpo todo de um lado para o outro (e outras coisas mais), a tentar não molhar-me, enquanto me agarro a algo para não cair… Enfim, um filme…
Quando cheguei, reparei que havia duas saídas. Saí para a zona Pahar Ganj (onde eu tinha ficado quando cheguei a primeira vez à Índia). Não vi lá ninguém à minha espera como estava combinado com o Raja… A ida para o aeroporto também estava incluída no pacote que comprei, mas tudo bem… Eu também já não queria ir à agência. Queria mesmo era vir para o aeroporto.
Enfim… goodbye India!
Capítulo X - Varanasi
Dia 23 de Agosto de 2012 || 8h55 – Varanasi (cidade sagrada)
Acabei de chegar ao hotel de Varanasi. Acho que este é um dos melhores onde eu já fiquei (pelo menos é o que parece à primeira vista).
Ontem, quando ainda estava no hotel de Agra a fazer tempo para apanhar o comboio, o Dimple pediu ao dono do hotel (que estava na recepção) para me dizer que vinha aí chuva da grossa e que por isso era melhor irmos andando. Eram umas 15h e tal e eu só tinha comboio às 20h40. A estação ficava a 1h30 de Agra. Eu só pensava no que é que eu ia fazer estando tanto tempo na estação. E como é que seria a estação?! E como era longe de Agra provavelmente nem sequer ia encontrar lá turistas. Mas pronto, já não queria saber de mais nada e fui. No caminho o Dimple ainda perguntou se estava tudo bem comigo, e no fim lá tentou explicar-me no seu mau inglês que ia pedir a um dos rapazes que trabalha na estação para “tratar” de mim, ou seja, levar-me para o “waiting room” e depois até ao comboio e lugar correcto. Disse-me que só no final é que lhe pagava 100 rupias. Eu fiquei agradecida por isso, porque de facto a estação, apesar de ser pequena, é confusa. Ainda por cima está tudo escrito na língua deles.
Quando cheguei à sala de espera dos estrangeiros fiquei super contente quando vi uma rapariga lá sentada. E quase que chorei quando ela me disse que era brasileira. Eu estava mesmo muito sensível e só precisava de estar com alguém. E ela era uma querida, mais o namorado dela. Ficámos a falar o tempo todo até o comboio chegar. Ela vai noutro comboio, mas também é para Varanasi. Agora só me resta a esperança de voltar a vê-los nas ruas de Varanasi.
Eles contaram-me que estão a viajar há quase 45 dias e que a Índia é o último país que estão a visitar. Ficam só 8 dias e depois voltam para a Tailândia (onde já estiveram e que dizem que é fantástico) e a seguir vão para casa. Disseram-me que eu era muito corajosa por estar a viajar sozinha pela Índia (eu diria parva e louca!), porque de todos os países que eles visitaram (na Europa e Ásia) este está a ser o pior. E também não estão a gostar. Nem das pessoas. Dizem que estiveram noutros países pobres da Ásia e que as coisas não são nada assim. Nem as pessoas. Disseram-me também que se eu conseguisse sobreviver aqui sozinha então conseguiria ir a qualquer lado. Gostei mesmo muito deles e espero voltar a vê-los. Na Índia e fora dela.
Entretanto iam chegando mais turistas. Todos tínhamos comboio para Varanasi, mas ninguém ia no mesmo. Até que chegou um grupo de 3 espanholas que felizmente ia no mesmo comboio e classe que eu. E os lugares eram juntos! Que sorte a minha! O tempo acabou por passar depressa e bem na estação de comboios (o que foi muito bom para mim), a falar sobretudo com os brasileiros, enquanto controlava os ratos que circulavam pela sala. Alguns eram pequenos, e esses andavam por dentro dos tubos das cadeiras, mas também havia uma ratazana. E nos trilhos do comboio então nem se fala! Estavam empestados de ratos!
O comboio chegou – 20 minutos atrasado – e eu lá fui com as espanholas para as camas da 2ª classe. De um lado do corredor há quatro camas (um beliche de cada lado) e do outro só há duas camas, uma por cima da outra, encostadas à parede. E depois há cortinas que fecham cada um desses compartimentos, deixando um corredor com “paredes” de cortinas. O corredor é mesmo muito estreito. Não é para pessoas gordas e para malas muito grandes. O mais prático é de facto a mochila.
Ficámos um pouco a falar e depois tentámos dormir. Eu consegui dormir um pouco porque estava mesmo cansada, mas já me estava a doer o corpo e a começar a ter dor de cabeça. Como era suposto o comboio chegar por volta das 4h40 da manhã, por volta dessa hora preparámo-nos todas para depois sair. No entanto, o comboio só chegou à nossa estação de destino mais de 2h depois. Pelo menos chegámos de dia, mas foi chato termos estado a pé tão cedo, quando poderíamos ter descansado um pouco mais.
Chegadas à estação, elas tinham um motorista à sua espera (como quase todos os turistas), mas eu não… E lá arranjei um táxi por 500 rupias…
Sair da zona da estação foi difícil. Os carros estavam completamente parados e havia imensos camiões. À volta, só lama…
No caminho para o hotel vi barracas. Já tinha visto também em Jaipur, mas aqui parece que as coisas são ainda piores – mais pobre e mais sujo.
Entretanto já fui tomar o pequeno-almoço e falar com um espanhol que estava na piscina. É professor de ioga e já é a terceira vez que vem à Índia. A Varanasi é a primeira vez e diz que está a ser muito difícil, porque Varanasi é pior que Deli. Diz que acha que esta vai ser a sua última viagem à Índia…
Estivemos a falar um pouco sobre isso e de como eu me estava a sentir, até que ele me disse uma coisa muito acertada e que me deixou a pensar durante algum tempo. Ele disse: “estás a lutar contra ti mesma e não o deves fazer. Se não gostas da Índia não há problema. Não tens que gostar, e não tens que lutar contra esse sentimento”…
Dia 24-08-2012 || 9h00 – Varanasi
Ontem fiquei o dia todo no hotel. Como precisava de descansar e o quarto agrada-me (apesar da quantidade de baratas pequenas que tem…). Para além disso, ontem não queria ver nada. Ontem não queria “estar” na Índia… Fui só almoçar à rua com o espanhol que conheci ontem e de resto passei a tarde no quarto a dormir.
Fomos almoçar ao McDonald’s que há aqui perto. Queria ver como era aqui. Bom, até o Mac é diferente. Pedi um menu chicken. Já salivava ao pensar na primeira mordidela que ia dar naquele frango crocante. Mas não. Para além do frango não ser panado, tem ainda um sabor bem indiano e picante! A coca-cola e as batatas fritas eram das pequenas, não sei porquê.
Voltámos para o hotel e só nos encontrámos outra vez ao final da tarde para irmos jantar. O Haceri ainda me deixou usar o seu portátil para enviar um email à minha mãe, uma vez que neste hotel, pela primeira vez, não há internet.
Depois fomos comer a um bar que há aqui ao lado do hotel, muito agradável e nada indiano, e onde parece que é frequentado por indianos mais endinheirados (alguns estavam a fumar xixa, dada pelo bar). Queria comer qualquer coisa que não fosse indiana, mas sem ser a omelete ou uma pizza é difícil.
Hoje vou com ele aos gahts e andar de barco. Vamos lá ver…
17h38 – Varanasi
Já voltámos para o hotel. Ele estava muito cansado. Mas a verdade é que Varanasi também não tem muito para ver.
De manhã andámos de barco (só meia hora), e depois fomos pelas ruas estreitas até ao gaht maior onde se queimam os corpos.
Quando estávamos quase a lá chegar, passaram por nós uns homens que iam a cantar enquanto transportavam um corpo. Os corpos são enrolados num pano branco e depois num outro colorido. Parece que quanto mais velhas são as pessoas mais dourado tem esse pano. O das mulheres é mais para o vermelho. Depois prendem esses panos com umas faixas na zona dos pés e da cabeça (não sei se em mais algum sítio). Quando chegam ao local da cremação os corpos são primeiro mergulhados no rio (para os purificar). Os homens santos, as grávidas e as crianças não são cremados. São logo atirados para o rio porque já estão purificados.
Depois preparam as madeiras (aquilo que a família conseguir pagar). Põem o corpo em cima da fogueira (ainda por acender), só com o pano branco a cobri-lo, e depois põem mais alguns troncos por cima. Incendeiam-no e deixam-no a queimar até se acabar a madeira. Houve um corpo que, acidentalmente, se destapou na zona da cara e do peito enquanto ardia. Os homens ainda o tentaram cobrir, mas acabou por ficar com a cara a descoberto.
Eu até ficaria a ver mais tempo este ritual, mas o Haceri queria ir almoçar. Vimos ainda umas lojas para eu comprar umas calças e viemos embora.
(PS: A família não pode chorar a morte da pessoa porque senão ela não “sobe” para o Nirvana.)
Afinal Varanasi não me pareceu assim tão mau. Não a achei mais suja que as outras cidades que vi (antes pelo contrário; é que também não há muito espaço para acumular lixo), nem com mais gente, nem com mais e piores “perseguidores”. E creio que também não me pareceu tão mal porque aqui está muito calor e por isso as ruas estão secas.
Não sei se também não me pareceu tão mal porque criei uma expectativa muito má; porque já me habituei a isto e já nada me “choca”; ou porque já estou quase a ir para casa e já não quero saber de mais nada…
Capítulo IX - Agra
Dia 21 de Agosto de 2012 || 21h50 – Agra
Até agora, hoje acho que foi o dia em que eu me senti o mais desconfortável possível. Isto porque, antes de chegarmos a Agra, parámos em Fatehpur Sikri (uma cidade abandonada), que em vez de estar cheia de turistas, estava cheia de “local people” devido a uns dias festivos que estão a decorrer (não percebi muito bem…). E foi simplesmente horrível!
O guia disse que eles são “illiterate people” e que não estão habituados a ver brancos. Ora, se já era desconfortável andar nas ruas indianas (seja de que cidade for), aqui ainda foi pior. Olhavam mais, e chegavam até a parar ao pé de nós enquanto o guia nos estava a explicar coisas. E não eram poucos! Houve um miúdo que até teve o descaramento de me passar a mão no rabo! Mas pior ainda foi quando entrámos numa zona sagrada (que era enorme; tinha uma grande praça no centro e uns edifícios a rodeá-la), descalças, claro, e com chuva. Esta praça estava cheia de gente e cheia de pequenas “lojas” montadas no centro. Acho que as únicas turistas éramos nós. Cada vez que o guia parava, um grupo de rapazes rodeava-nos e ficava ali a olhar para nós. Mas esta gente que olhava era diferente dos outros olhares. Estes eram mais incomodativos e “agressivos”. Eu já não queria ver mais nada. Eu só me queria vir embora. E o mais engraçado é que só eu é que parecia estar assim tão incomodada. Mas, de facto, estava-me mesmo a sentir como se estivesse num zoo, em que eu é que estava a ser observada (e bem de perto!).
Para piorar as coisas, estava a chover e eu estava com os pés numa miséria – sujos e tingidos de azul por causa das sandálias.
Chegámos a Agra e já era quase noite (mas também não é por isso que se ligam as luzes dos carros!!!) e… parecia que estava em Delhi outra vez! É que, realmente, a única coisa que a Índia tem para ver são os fortes, os palácios e as imponentes construções que os Marajás construíram no seu tempo. Porque de resto é tudo igual. Basta ir a Delhi para se ver o resto da Índia: caótica, imunda, cheia de gente, pobre, ensurdecedora… Enfim, sinceramente eu ainda não consegui arranjar muitos adjectivos positivos para descrever este país. Até agora ainda não houve nada que me fizesse dizer que não me importaria de vir aqui outra vez, mesmo que fosse para visitar outros lugares… Ou sou eu que sou muito limitada e insensível, ou então não percebo mesmo porque há tanta gente de fora que adora vir cá.
Esta era uma das razões pela qual eu queria vir à Índia – para saber porque há tanta gente que a adora, tendo em conta tudo o que eu já disse para trás. E até estava quase convencida que eu própria ia ser uma dessas pessoas. No entanto, ainda não consegui deixar de estar do lado daqueles que dizem que não gostaram da Índia…
Observações:
Aqui passa-se a vida a ver homens a mijar na rua (seja de pé ou de cócoras) e a cuspir (vi um que estava a conduzir uma mota e, em andamento, tirou o capacete – que é raro eles andarem com um –, cuspiu e voltou a colocar o capacete.
Quando chove ninguém se protege; as pessoas simplesmente andam à chuva, ficando completamente ensopadas.
Parece que o pessoal só acende as luzes dos carros e das motas quando é mesmo já de noite, ou seja, quando já está mesmo escuro, porque até lá andam na estrada como se nada fosse…
Aqui, na Índia, não há casas; há “construções” onde as pessoas vivem e pronto…
Os homens aqui são super vaidosos, no sentido em que adoram tirar fotos (posam e tudo!).
22-08-2012 || 12h54 – Agra
Eu só quero sair daqui o mais depressa possível! Se eu pudesse ia já para casa. Isto está a ser horrível.
Depois de ter ido ver o Taj Mahal e o Agra Fort esta manhã com as canadianas (Noémie e Daphenie), vim para o hotel ainda não eram 11h (tinha combinado com elas às 6h. Não dormi nada, claro, principalmente porque havia muito barulho exterior).
Quando cheguei o meu motorista pediu-me pelo dinheiro. Eu tinha que pagar 18.360 rupias e dei-lhe 19.000, sendo o resto a sua gorjeta. Pode não ser muito, mas também já não tenho muito mais (e também não posso gastar mais), e além disso não gostei muito do serviço. Para além de ele quase não falar inglês, o que tornou a viagem muito mais difícil (e ainda por cima eu não tinha mais ninguém com quem falar), ele apenas fazia o mínimo que tinha que fazer, ou seja, levava-me de uma cidade a outra, deixa-me nos hotéis e pronto. Eu vi outros condutores que faziam mais do que isso. Para além de que quando eu lhe pedia alguma coisa “extra”, ele não gostava. Tal como aconteceu em Jaipur e no caminho para Agra (porque ele não me queria levar a ver um poço em Abhaneri; disse que não ficava na estrada para Agra).
No entanto, e como eu já deveria esperar, ele não gostou da minha gorjeta e perguntou se ele não fez um bom serviço, se eu não estava contente. E deu a entender (no mau inglês dele) que ele só estava a receber isto pelos dias que esteve comigo. Eu disse-lhe que o resto já tinha pago à agência e que depois eles lhe pagariam pelo seu serviço. Mas parece que não… Já estava a ficar de tal maneira chateada e nervosa que comecei a chorar. Pedi para ele ligar ao Raja (o agente) para eu falar com ele. O Raja tinha-me dito que eu dava a “tip” no final se quisesse. Eu dei, mas parece que há um mínimo que é suposto pagar. Não faço ideia. Não estava a perceber nada, e parecia que a única coisa que ele ia receber era a minha “tip”, que não era muito.
Falei com o Raja e ele disse que eu só dava gorjeta se eu quisesse, e que ele depois falava com o Dimple. Bom, a verdade é que não ficou nada resolvido, porque parece que o Dimple ficou chateado na mesma e sem perceber o que se estava a passar. Eu mostrei-lhe o meu papel da agência (e ao recepcionista) onde estavam os 890€ que eu paguei e tudo o que estava incluído, nomeadamente o condutor. E disse-lhe que uma parte daquele dinheiro era para ele (ou deveria). Ele percebeu que eu dei a sua “tip” ao agente e ainda por cima no início da viagem, quando deveria ser no fim. O problema é que eu já não sabia se estávamos a falar do mesmo. Eu só chorava e ele lá acabou por dizer “no problem”.
Entretanto perguntei ao recepcionista quanto é que as pessoas costumam dar aos condutores. Ele disse que por 14 dias são mais ou menos 2.500 rupias. Por dia é mais ou menos 200. Se eu não estivesse sozinha, e se o condutor tivesse sido como o das espanholas, eu até daria esse dinheiro. Mas como não tenho esse dinheiro, não sabia que havia um mínimo e não gostei por aí além do seu serviço, dei o que pude.
Eu percebo que, segundo a cultura deles, ele se sinta “ofendido”, mas segundo a minha eu não estou a fazer nada de mal. Para além de que ainda não percebi se este dinheiro é mesmo só gorjeta ou se faz parte do “salário” dele.
Enquanto esperava no sofá da recepção que as horas passassem (apesar de, ironicamente, não querer nada ir de comboio para Varanasi), perguntei ao recepcionista se ele sabia como é que eu tinha que fazer para apanhar o comboio certo (isto depois de ele me dizer que costuma andar de comboio). Não me soube explicar nada. Mostrei-lhe o bilhete e tudo, e nada! Como é que isto é possível?! Que frustração! Somebody please take me out of here! I just want to go home… :(
Capítulo VIII - Jaipur
Dia 19 de Agosto de 2012 || 23h25 – Jaipur (The Pink City)
Eu estou tão frustrada neste momento que só me apetece é gritar!
Acabei de vir do cinema, onde supostamente ia ver os indianos completamente loucos durante o filme (até os franceses me disseram esta manhã que eu tinha que ir ao cinema em Jaipur)… e nada! Nem um som! Aliás, eu já estive em cinemas mais “barulhentos” em Portugal do que aquilo que eu assisti hoje na Índia! Que frustração meu Deus! E aposto que foi porque, mais uma vez, o meu motorista não me levou ao cinema que era suposto! Fomos a um shopping e não a um dos maiores cinemas da Índia, como era suposto (e que tanta gente me disse para ir).
A frustração já começou de tarde, pois o meu motorista não me queria levar a lado nenhum. Chegámos à hora do almoço (isto porque eu disse para sairmos às 9h30 de Pushkar e não às 11h30 como ele tinha dito), viemos ao hotel, ele levou-me a almoçar à cidade e depois – “Ok, let’s go to the hotel”!
“Não, não vamos para o hotel! São 3h da tarde, o que é que eu vou fazer para o hotel?!” Caramba! Que azar que eu tive com o meu motorista! É bom homem, mas mal conseguimos comunicar e ele nunca me leva a lado nenhum (ao contrário do que acontece com outros motoristas). Até nem haveria problema se eu estivesse acompanhada, mas não estou!
Acabei por lhe pedir para ir tirar umas fotos a um lago que Jaipur também tem. Ainda lhe perguntei se podíamos ir a umas ruas com mercado que aparecem no Lonely Planet, mas ele lá arranjou umas desculpas para não irmos.
Depois de tirar as fotos disse-lhe que queria ir a um parque que tinha visto no caminho para o hotel. Fomos primeiro a um que pensávamos que era esse e que ficava ao pé daquele que eu tinha visto. Paguei 10 rupias para entrar numa coisa mínima. Depois lá demos com o outro (bem maior) e paguei 12 rupias. Mas como é que é possível que até a porcaria dos parques se pague aqui neste miserável país?! O que é curioso ver é como é que, até nos parques, existem referências às divindades. Neste, por exemplo, havia várias estátuas. (Ah! E nem um turista! Nem sequer um!…)
Aqui na Índia há templos em cada canto. Mesmo que sejam muito pequeninos e no meio da rua, há sempre um “cornerzinho” com uma divindade.
Hoje não encontrei ninguém (Ah! Outra frustração! Não consegui estar com as espanholas Irene e Leticia. Pedi ao Dimple para ligar para o motorista delas. Parece que ele estava “free” esta tarde e por isso não deu para ir ter com elas… Enfim, só me apetece é gritar com o homem também!). Nem consegui “colar-me” a ninguém. Parece que amanhã vou andar sozinha…
Já estou cansada de estar aqui. Só quero mesmo é ir para casa.
Dia 20-08-2012 || 22h00 – Jaipur
Hoje esteve a chover praticamente o dia todo. E a chover bem. Do género de ter que estar no forte à espera que a chuva passasse, porque, mais uma vez, deixei o guarda-chuva no hotel!
Quando cheguei ao forte (sozinha), mais uma vez tive um tipo a seguir-me o caminho todo enquanto me fazia perguntas. E ainda mal tinha subido o caminho até ao forte. Já estava a ficar tão desesperada que fui ter com o primeiro casal de estrangeiros que vi (italianos) e perguntei-lhes se eles se importavam que eu andasse com eles. Afinal não eram um casal, eram um grupo de amigos. Eles disseram-me que eram 6, mas eu contei 4 rapazes e 1 rapariga. E pronto, ninguém me chateou mais…
Mas depois, quando estávamos à entrada do forte, eles disseram que não o queriam ir ver. E então eu fui sozinha com um guia.
Quando a chuva lá acabou por ficar um bocadinho mais miúda, fui quase a correr para o carro. Fui para o hotel e… meti conversa com uma mãe e filha que estavam sentadas no “lobby” do hotel. São canadianas (do Quebec) e muito simpáticas. E lá consegui arranjar companhia para a tarde, principalmente para ir ver o que não queria ir ver sozinha – o mercado (bazar).
Continuou a chover de tarde. É uma chatice pois não dá para tirar grandes fotos. E torna as coisas ainda mais cansativas. Mas foi fixe. Ainda encontrei os italianos que conheci em Pushkar. Eles vão ficar mais um dia, e vão ao cinema que eu deveria ter ido… Enfim…!
Eram quase 19h quando chegámos ao hotel. Jantei com elas e já combinámos a ida para Agra juntas. Yeah!
Capítulo VII - Pushkar
Dia 17 de Agosto de 2012 || 18h14 – Pushkar (cidade sagrada)
Cheguei às 17h00 a Pushkar. Para trás, no caminho, ficaram as espanholas Maite e Lola com quem tive o prazer de ainda almoçar com elas.
Pushkar é uma cidade sagrada. Tem um lago onde as pessoas se banham e vêm fazer oferendas. As espanholas tinham dito que lhes chocou imenso esta cidade. Mas também foi a primeira que elas visitaram. Vamos ver como me sinto amanhã.
De momento estou a gostar imenso. Mais uma vez porque estou num sítio rodeado de montanhas, onde o ar é fresco e inspirador. Depois de tudo o que já ficou para trás, estar em locais rodeados pela natureza sabe mesmo muito bem. O hotel onde estou fica num desses sítios, a 10/15 minutos do lago. Tem uma piscina, uma horta, e uma espécie de jardim selvagem onde estou de momento, sentada numa maravilhosa cadeira de baloiço.
É realmente muito engraçado como as coisas são. De facto, não há nada como ver o pior para se apreciar de verdade o que se tem. Ou mesmo apreciar pequenas coisas como este baloiço onde me encontro, com vista para o que o mundo tem de melhor (a natureza), e ouvindo pássaros em vez de ensurdecedoras buzinas.
Dia 18-08-2012 || 21h43 – Pushkar
Hoje andei com o Roberto e a Francesca. Tinha que me colar a alguém! Não consegui ontem à noite, nem hoje de manhã no hotel, por isso à primeira oportunidade – “Do you mind If I walk with you?”.
Foi num dos gahts* que eu os conheci. Antes já tinha saído do hotel sozinha e andados uns 10/15 minutos a pé até onde os encontrei. Já estava assustada, claro! Houve um indiano que me “seguiu” praticamente desde o hotel até ao sítio onde parei a primeira vez – o gaht. E depois é o costume: os olhares, os miúdos a pedirem-te comida, as abordagens, enfim. Eu só queria arranjar companhia o mais rapidamente possível!
E ainda bem que o fiz, pois consegui andar pela pequena cidade quase toda e tirar bastantes e boas fotografias, o que não aconteceria se estivesse sozinha.
Afinal não fiquei chocada como as espanholas. Porque, afinal, tudo isto é mais do mesmo… Acho que é mesmo como diz o ditado: primeiro estranha-se e depois entranha-se. De certa maneira lá acabamos por nos habituar ao caos, à sujidade, ao barulho, etc. O que não deixa de ser cansativo na mesma…
Foi interessante ter chegado a uma cidade sagrada. Pushkar tem um lago (castanho, diga-se) onde todos os dias os indianos se banham e fazem oferendas.
Portanto, uma vez que um turista não é hindu, não faz sentido rezar ao(s) deus(es) deles e fazer oferendas, certo? Errado. É que é isso mesmo o que eles querem. Assim que podem dão-te logo para a mão umas pétalas de rosa que dizem que é para tu atirares ao lago sagrado. Até aqui tudo bem. O problema é que logo a seguir vem um “priest” ajudar-te a fazer a oferenda. Ou seja, rezas com ele e fazes o ritual que ele te pede, e quando dás por isso já tens um prato de oferendas ao teu lado. E porque é que eles querem que um turista que não é da religião deles faça isto? Dinheiro, claro! Portanto, como diria um americano “sacred my a**!”. Ou como diz uma famosa canção: “it’s all about the money…”
Então afinal onde está a espiritualidade? Mas depois, como é um lugar sagrado, não podes tirar fotografias… Enfim, quanto mais vejo e aprendo menos acredito na(s) religião(ões).
À tarde já estávamos os três bem cansados e já não sabíamos aonde ir (já não havia mais nada para ver). Eles foram muito simpáticos e vieram comigo até ao hotel, e amanhã vão para Jaipur.
Entretanto, quando cheguei ao hotel, encontrei a família francesa que tinha conhecido no camel safari! É muito giro quando isto acontece, e eu fico muito contente quando encontro caras “conhecidas”.
Observações:
Eu nem acredito que aqui também se pagam estradas! É que algumas parecem mais caminhos de cabras e outras nem sequer existem!
Tenho visto homens nas ruas de cócoras. Parece que estão a fazer xixi, mas é estranho porque os homens fazem-no de pé. Perguntei ontem à italiana se sabia o que faziam. Disse-me que são muçulmanos e que, para eles, só os animais fazem xixi de pé, daí eles fazerem-no assim…
Desde que saí de Bikaner que todos os hotéis onde vou têm o duche no chão da própria casa-de-banho, ou seja, não há banheira nem nada físico que separe o chuveiro do resto da casa-de-banho. Para além disso, os chuveiros, como não são limpos, deitam água só de alguns buraquinhos (o que torna difícil tirar o champô), e depois alguns ainda disparam para o resto da casa-de-banho. Ontem (em Pushkar), havia um que ia direitinho aos interruptores e à tomada!
Cheguei hoje (dia 19) ao hotel de Jaipur, e é a primeira vez que vejo mulheres a trabalhar num hotel.
*Nota: Os gaths são conjuntos de degraus que terminam num rio, onde as pessoas se banham, fazem oferendas ou cremações. Os mais famosos são os de Varanasi.
Capítulo VI - Udaipur
Dia 15 de Agosto de 2012 || 23h10 – Udaipur (The Lake City)
Hoje o caminho para Udaipur foi longo. Primeiro porque havia uma estrada que estava completamente destruída pela chuva e o trânsito estava parado por isso. Até que conseguimos mudar de caminho. Não melhorou assim tanto (não havia era camiões), até porque, da maneira como é a Índia, chove torrencialmente por uma hora e fica logo tudo num caos. Segundo porque parámos num templo lindíssimo a caminho daqui. E pela primeira vez vi um pouco de “espiritualidade” quando um dos “padres” do templo se pôs a ensinar a uns turistas como meditar. E então, em posição de ioga sentado, lá se pôs a entoar um cântico muito agradável de se ouvir.
Mas melhor que isto, para mim, foi o caminho que fizemos do templo até Udaipur – entre montanhas e verde. Muito verde! Foi lindo. Parecia que nem estava na Índia. Que paisagens deliciosas. O ar era fresco e por isso fomos o resto do caminho de janelas abertas. Realmente começo a chegar à conclusão que estar entre a natureza é que é viver um momento de verdadeira espiritualidade.
Até ao templo fomos sempre atrás do carro das espanholas. No caminho encontrei a espanhola com quem estive a falar ontem à noite no hotel em Jodhpur, mais a amiga com quem viaja. E foi com elas que acabei por passar a noite (estamos no mesmo hotel). E amanhã vou visitar a cidade com elas. Isto porque o meu motorista viu que eu também as conhecia, e então já não ligou para o motorista das outras. Enfim, eu já não digo nada. Eu só não quero é estar sozinha.
Dia 16-08-2012 || 23h00 – Udaipur
Udaipur foi das cidades que eu mais gostei até agora. Talvez porque tem um lago, talvez porque está entre montanhas, ou talvez porque foi a cidade que algumas vezes me pareceu menos com a Índia caótica e feia que tenho conhecido.
Hoje estive com as espanholas Maite e Lola. De manhã fomos a um pequeno parque que os nossos condutores nos levaram. E depois ficámos por nossa conta. Fomos ao city palace, o palácio principal da cidade, e que eu gostei muito. Já era hora do almoço, mas ainda fomos a um templo que está mesmo ao lado. Enquanto elas ficaram a ouvir os cânticos eu fui tirar fotos com o maquinão da Maite, porque entretanto já tinha ficado sem bateria na minha máquina fotográfica.
Fomos almoçar a um roof top restaurante, como todos os que há aqui (e nas outras cidades também), e pela primeira vez conheci um casal (já adulto) de portugueses!!! Mal percebi que estavam a falar em português fui logo ter com eles! E ficámos a conversar um pouco. Que bem que me soube falar um bocadinho de português em terras indianas.
Depois do almoço fomos andar de barco pelo lago da cidade (adorei! adoro a água…). Queríamos deixar o resto do dia para passar nas ruas estreitas de Udaipur, cheias de pequenas lojas feitas especialmente para os turistas. No entanto, o senhor do tuc-tuc que nos levou e trouxe até ao barco fez a sua última paragem na loja onde o seu filho vendia pinturas em miniatura (só podia!). Ficámos mais de uma hora (serviram-nos chá), e já muito estoiradas acabámos por levar uns “regalos para nosotras” para pôr em casa. Entretanto já eram quase 19h e esta era a hora para irmos ver umas danças tradicionais. Eu queria ir pelas ruas adentro, ver mais lojas, tirar umas quantas fotos, trocando as danças por isto mas elas não. O problema é que eu tinha medo de me perder sozinha porque isto é muito confuso. No final, não fui nem ver mais lojas, nem às danças porque não me apeteceu. E agora arrependo-me de não ter feito nem uma coisa nem outra (elas encontraram a Leticia e a Irene nas danças).
Amanhã vou a Pushkar sozinha (oh). E agora só encontro a Leticia e a Irene em Jaipur no 2º dia (se o meu condutor quiser!), e a Maite e a Lola no voo para casa.
Espero continuar a ter sorte, e conseguir arranjar companhia para o resto dos meus destinos: Pushkar, Jaipur, Agra e Varanasi. A verdade é que estas companhias têm sido ouro para mim.
Capítulo V - Jodhpur
Dia 13 de Agosto de 2012 || 17h20 – Jodhpur (The Blue City)
Cheguei ao hotel de Jodhpur. É simplesmente… horrível! Tal como a cidade. Parece Delhi, mas de uma outra maneira. As ruas e estradas estão completamente alagadas! Choveu muito hoje e o facto de haver por todo o lado rios de água lamacenta ainda torna a cidade mais caótica e horrível do que já parece ser.
No caminho para cá fiz amizade com duas espanholas. O condutor delas conhece o meu e por isso parámos nos mesmos sítios. Ao almoço sentei-me com elas. Estão praticamente a fazer o mesmo tour que eu, nos mesmos dias. A diferença é que de Udaipur para Jaipur eu paro no meio em Pushkar e elas em Bundi. E depois de Agra eu apanho o comboio e elas continuam de carro até Varanasi, parando primeiro em Khajuraho, e depois vão de avião até Delhi. Mas espero mesmo que dê para estar com elas nas cidades em que coincidimos. Pelo menos hoje o meu condutor vinha atrás do carro delas. Elas foram para outro hotel aqui perto e daqui a pouco vou-me encontrar com elas.
(PS: este hotel não tem água quente, não tem toalhas nem sitio para as pendurar, e nem dão sabonete para lavar as mãos.)
Dia 14-08-2012 || 23h47 – Jodhpur
Começando pelo final do dia de ontem, bom, acabei por não estar com as espanholas porque o meu condutor não percebeu nada do que o outro lhe disse. De qualquer forma (e já estava eu desesperada porque não sabia o que fazer sozinha neste hotel horrível), de repente, quando ia eu sair para (supostamente) ir ter com as espanholas, chega ao hotel o casal de italianos que eu conheci em Jaisalmer! Que alegria! Fiquei com eles o resto do dia e foi muito bom.
Entretanto, quando me ia deitar, e quando pensava que a coisa não poderia piorar mais, o meu telemóvel pifou!!! Eu ainda nem acredito. Porquê??!! E o pior é que o telemóvel de toda a gente funciona! Enfim, já nem quero pensar mais nisso…
Hoje passei o dia todo com as espanholas e foi muito fixe. Fomos de manhã ao forte e depois o motorista delas levou-nos até ao mercado (o meu ia atrás). Foi a 1ª vez que estive fora de um sítio turístico. Claro que é horrível como qualquer outro sítio, mas foi muito interessante. Ainda comprei o chá deles (Masala) porque fiquei fã!
Depois fomos almoçar a um sítio que o condutor delas nos levou (é sempre assim; que sorte que tiveram…), e depois eu e a Leticia fomos a uma loja de antiguidades. Espetacular! Com portas e móveis antigos. Mesmo muito bonito.
Como ainda era cedo e já não havia mais nada para ver, elas foram para o hotel e eu perguntei se também podia ir com elas e ficar por mais um tempo (ainda eram 17h). Bom, realmente viver com luxo é outra coisa. De facto há que experimentar de tudo (e eu acho que o estou a conseguir um pouco aqui na Índia), mas ir no final do dia para um hotel que tem quartos que parecem mini-apartamentos com tudo de bom e do mais bonito é outra coisa…
Às 19h vim-me embora (com muita pena minha) para o meu hotel. Quando estava a jantar sozinha vi outra rapariga na mesa ao lado que também estava sozinha. Meti conversa com ela (é espanhola, por supuesto!), mas cedo descobri que está a viajar com uma amiga.
Falámos bastante, e continuámos a conversa no meu quarto (que entretanto já é outro porque não aguentava estar naquele; puseram-me noutro maior no mesmo piso; eu queria mesmo era ir para o último andar que, comparado com o que tenho, parece um luxo!). Descoberta fantástica: elas vão no mesmo voo que eu!!! Já estivemos a falar para ver se conseguimos ir juntas.
Amanhã vou continuar o meu dia com as espanholas e o seguinte também (iupi!), mas depois infelizmente não as vou ver mais (snif). São muito simpáticas. Ainda bem que as conheci e a toda a gente que tenho conhecido até agora. De facto, têm sido todas “muy amables” comigo.
Ah! Esqueci-me de dizer que choveu a porcaria do dia todo!
Capítulo IV - Jaisalmer
Dia 04 de Agosto de 2012 || 19h00 – Jaisalmer (The Golden City)
A viagem de Bikaner até Jaisalmer foi, mais uma vez, de paisagens áridas. Saímos às 9h30 e chegámos lá para as 16h e qualquer coisa. Desta vez não passámos por nenhuma grande zona de casas. Mas quando isso acontecia, a vista era sempre a mesma: “casas” feitas à beira da estrada, muita terra/lama, lixo, vacas, etc. Apesar de eles ficarem contentes com a chuva, a verdade é que a Índia não tem condições para a receber. Claro que quando chove é com muita intensidade, mas fica logo tudo alagado.
Durante a viagem, para além de ter continuado a ver muitas, muitas vacas (das quais nós temos que nos desviar), camelos a puxar carroças e camiões cheios de gente (tão cheios que se houvesse uma travagem violenta haveria logo uns quantos que seriam cuspidos do camião), vi também “peregrinos”. Já tinha visto ontem, mas hoje havia muitos mais. Quando pergunto o Dimple diz-me que vão para o templo, mas a verdade é que nem ontem nem hoje vi qualquer templo… E o mais estranho é que eu vi, no princípio, uns a caminhar no sentido em que eu ia, e depois vi outros a caminhar no sentido contrário e, portanto, presumi que o templo estivesse no meio. Mas não…
Ainda vi ao longe um edifício que achei que poderia ser o templo, mas o Dimple disse-me que não. Eu acho que ele me disse o que era esse edifício, só que, para variar, eu não percebi. Mas para além disto, o mais estranho ainda foi ver, a partir de uma certa altura, e à beira da estrada, sapatos. Muitos sapatos. Mas mesmo muitos sapatos! Perguntei. Não percebi se ele sabia o que era, se eu é que não lhe consegui perceber, ou se de facto ele também não sabia porque estavam ali os sapatos. Sem pessoas… Sem templo…. Só mesmo os sapatos…
No caminho parámos uma vez a meio da manhã para tomar algo, e eu bebi um iogurte com lassir de manga (acho que é isto). Soube-me bem, mas, não sei se foi isso ou o jantar da noite anterior, ou o pequeno-almoço de hoje, que me levou direitinha à casa-de-banho na paragem seguinte para o almoço. (Aqui já havia sanitas.) E o problema não era só esse. Eu também não me estava a sentir muito bem disposta. E só me apetecia comer torradas, ou algo assim, mas sabia que também não podia comer pouco porque tão cedo não ia comer outra vez. Decidi pela omelete de queijo com tostas. Estava quase no final e ainda não me sentia bem. Pedi uma Coca-Cola (por causa do gás e do açúcar) e voilá, comecei a arrotar e acabei por ficar bem! Quando fui para o carro tomei um anti-diarreico (just in case, pois não quero ter de sair do carro a correr para ir para o meio do nada despejar a minha dor de barriga!).
Antes de chegarmos a Jaisalmer o meu motorista avisou-me: amanhã vou para o forte sozinha (a pé) e não falo com ninguém! Se alguém me perguntar alguma coisa digo que não sei ou não respondo (tipo, de onde és, quantos dias vais ficar, etc). E não vou a mais lado nenhum sem ser ao forte. À tarde ele leva-me ao “camel safari”. Ok!
Chegámos a Jaisalmer e… tenho que dizer que esta seria uma cidade muito bonita se não fossem as típicas peculiaridades que caracterizam a maior parte das “paisagens” da Índia… Isto porque o tipo de construção e cores utilizadas (dentro dos amarelos) são muito bonitas e interessantes, mas claro, não há passeios, não há ruas, não há mais nada sem ser pessoas, vacas, cães abandonados e lama, muita lama.
O hotel onde fiquei tem mais do que um edifício e eu fiquei naquele onde não está o restaurante. Ou seja, para ir jantar ou tomar o pequeno-almoço eu tenho que andar a pé, por uma ruela que não inspira confiança, até ao edifício principal. Não gostei e disse que queria ligar ao meu agente. Eles lá falaram uns com os outros e com o meu motorista e depois disseram-me que esta noite ficava no edifício onde estou e amanhã (depois do “camel safari”) põem-me noutro. Ok. “E como é que eu faço para jantar hoje? É que eu não quero andar sozinha de noite na rua!” Dizem que há um restaurante bom e muito perto onde estou a dormir. Ok.
Entretanto peço para ligar para casa. Não dá. E internet? Estava a sala cheia (de indianos). Dizem ao meu motorista para tentar noutro sítio. Era só de internet. Falaram-lhe noutro. Uma lojinha de cadernos de um senhor que tinha um telefone com um “meter”. Porreiro! Consegui falar com a minha mãe!
Venho-me embora com o Dimple para o hotel, para ele me mostrar o restaurante. Mas, ao chegar, vi um casal de italianos a fumar cá fora. Comecei logo a falar com eles e a perguntar se não se importavam que eu fosse jantar com eles (também iam ao tal restaurante). Tudo bem! Fiquei à conversa com eles e combinámos às 20h irmos jantar.
Dia 12-08-2012 || 23h20 – Jaisalmer
A noite de ontem e o dia de hoje foram muito bons. Isto porque estive com outros turistas. Apesar de que também gostei muito da cidade.
Ontem à noite fui jantar com os italianos. Muito simpáticos, e o restaurante era muito agradável. E quando chegámos ao hotel conhecemos um casal de espanhóis (muito novos). Não havia luz na cidade (já começa a ser hábito em qualquer lado), e por isso ficámos na entrada a falar, e depois no telhado/terraço do hotel. Os espanhóis também são muito simpáticos e estão a fazer a viagem à Índia com eu pensava fazer – com alguns bilhetes de comboio já comprados e o livro da Lonely Planet como guia (toda a gente o tem!). Como eles também iam visitar o forte esta manhã perguntei se podia ir com eles, mas na recepção não me deixaram cancelar o guia. Ainda perguntei se eles queriam vir comigo, mas a rapariga não falava muito bem inglês e por isso não quis ir.
No entanto, a visita ao forte com o guia foi muito boa. Pela primeira vez consegui perceber quase tudo o que ele dizia! A meio da visita, como tínhamos que esperar pelas 11h para ir a uns templos dentro do forte, ele levou-me à sua casa e a sua mulher serviu-nos chá (não me recordo do nome, mas é um chá deles muito bom).
No final da visita (que estava combinada pelo hotel custar 300 rupias) dei-lhe 400 rupias. 100 a mais porque tinha gostado da sua tour. No entanto, e como eu já deveria esperar, ele fez uma cara descontente por eu lhe estar a pagar só aquilo…
Por acaso isto é uma das coisas mais chatas que os indianos têm – estão sempre à espera de mais. Nunca é suficiente. Bolas, nem todo o europeu que viaja é rico! Isto é cansativo.
Quando íamos para o hotel encontrei os espanhóis e aproveitei e fui almoçar com eles num restaurante aconselhado pelo Lonely Planet, claro! Era bom.
Às 15h fui com o Dimple até ao camel safari. Uma hora de caminho.
Quando cheguei ao local já lá estava uma família de franceses e logo a seguir chegou um casal de italianos. Aproveitei e meti logo conversa com todos eles! E depois, claro, lá vinha a pergunta que todos os outros turistas me fazem: porque é que eu estou a viajar sozinha? Sinceramente, já nem eu sei! Só sei que quero voltar para casa o mais depressa possível. Apesar de estar tudo a correr bem, e de haver coisas interessantes para ver, confesso que isto está a ser um pouco difícil para mim. Mais do que eu estava à espera. E estar no “mundo” dos indianos é muito cansativo (por várias razões…).
Os camelos já estavam prontos, mas como íamos ficar no deserto a fazer tempo para ver o pôr-do-sol decidimos esperar um pouco mais no local onde estávamos.
Na verdade, aquilo a que se pode chamar de “deserto” é apenas uma pequena parte do terreno árido de Jaisalmer.
No entanto, o passeio de camelo (de quase uma hora) foi muito agradável (à parte que o meu “condutor” de camelos estava sempre a olhar para mim – um velho com turbante. Estes olhares são de facto muito desconfortáveis…).
No fim, esperámos pelo pôr-do-sol, mas como este estava completamente tapado por nuvens, desistimos e viemos embora. Voltámos para o mesmo sítio onde, juntamente com outros turistas, jantámos enquanto uns indianos dançavam e tocavam música. Depois houve quem ficasse porque ia dormir no deserto sob as estrelas, mas eu já tinha decidido vir para o hotel. E ainda bem que o fiz, pois estava a desesperar para tomar banho e porque aqui descanso melhor.
Capítulo III - Bikaner
Dia 10 de Agosto de 2012 || 23h30 – Bikaner
Mais uma vez dormi muito mal. Os ares condicionados ou as ventoinhas dos hotéis fazem muito barulho. E, ou se dorme com o barulho, ou se dorme com o calor. Mas dormir com o barulho às vezes também implica levar com o ar frio na cara. Até podia dormir na viagem porque são sempre mais de 4h de viagem, mas não quero dormir no carro…
Saímos às 9h00 e chegámos a Bikaner por volta das 13h15. O condutor parou a meio num desses pontos de comércio e comida para turistas. Comi torradas!
O caminho de Mandawa até Bikaner não tem muito para ver. É sobretudo uma paisagem de vales áridos. De vez em quando lá se passa por casas à beira da estrada e pouco mais.
Chegando a Bikaner fomos ao hotel. E como eu ainda não tinha fome fomos até ao forte (que é o ponto turístico daqui). Como o forte é grande e eu não queria ir sozinha paguei a entrada ao motorista para ele ir comigo. 200 rupias para mim e 30 para ele!…
Na entrada do forte, depois de já termos os bilhetes, estava uma fila de rapazes à espera para entrar, mas o meu motorista (que se chama Dimper ou Dimple…) passou à frente (?!) e entrámos. Penso que esses rapazes estavam numa visita de estudo e, não sei como, acabei por ficar também com o guia deles.
A visita foi interessante, mas mais uma vez não percebia muito bem o que o guia me dizia em inglês… Este sabia falar, mas o problema dos indianos é o sotaque. É difícil perceber o que dizem em inglês.
No final da visita, claro, o guia ficou à espera da gorjeta. Dei-lhe 10 rupias e ele ficou a olhar para a nota, para mim e para o condutor…. Perguntei ao condutor o que se passava e se deveria dar mais. Disse que pelo menos dão-se 100 rupias. 10 rupias é para os rapazes dos hotéis que nos levam as malas para o quarto. Ah! Ok!…
Seguimos para o hotel outra vez e fui almoçar. Mais turistas! Mas passado pouco tempo mandaram sair os turistas porque precisavam da sala para um grupo de indianos que vinha aí…. Levaram-me até a um quarto, e logo de seguida um casal de espanhóis. Ficámos os três a comer no quarto ao pé da cama, numa mesa baixa com sofás. Para mim foi maravilhoso porque pus-me à conversa com eles. Falar com outros turistas é quase como uma lufada de ar fresco!
Depois de comer fui com o condutor até ao templo dos ratos. Aquele onde os ratos são sagrados e lhes dão de comer. Bom, para templo, era muito feio (visto de fora). Aqui na Índia o que não falta são templos e costumam ser mais interessantes.
O templo fica num recinto onde há comércio há volta para comprar as oferendas. E há também um sítio para irmos deixar os sapatos… “Ainda bem que estou de meias”, pensei. Mas, por acaso, e a mim, o rapaz deu-me uns daqueles chinelos dos hotéis. Graças a Deus que me deu isso! É que, neste templo, os ratos estão soltos e andam pelo templo todo, onde as pessoas também andam… descalças! É simplesmente nojento! Muito mesmo! E se por fora o templo não era nada de especial, por dentro então era horrível! Imundo, e sem nada para ver a não ser milhares de ratos a comer, e alguns já mortos por aí.
Não fiquei lá muito tempo, até porque o templo não tem nada para ver. Quando saí vi uns turistas a entrar e reparei que o rapaz estava descalço, sem meias. Estive quase para lhe dizer para não entrar assim, mas ele ia perceber isso logo à entrada.
Voltámos para o hotel e logo a seguir levantou-se muito vento, poeira, e começou a chover. Parece que foi o primeiro dia de chuva há mais de 1 ano e eles estavam contentes por isso.
Descansei um pouco e fui ver se comia qualquer coisa. Encontrei os espanhóis outra vez e sentei-me com eles. Entretanto já tinha tentado duas vezes ir à recepção para ver se conseguia falar com a minha mãe. Não consegui. Perguntei se era fácil para mim arranjar um cartão para o meu telemóvel. Parece que não. Aqui, para se comprar um cartão tem que se dar a nossa identificação, e tem que ser uma identificação de cá (da zona onde se vive). Como não estava a ter sucesso, o recepcionista (ah! parece-me que na Índia só trabalham homens nos hotéis…) levou-me até ao patrão dele, que se apresentou como sendo o dono do hotel (apesar de ser bem novo). Disse-me que me ajudava a arranjar um “SIM Card” e pediu-me o meu passaporte.
Fui jantar. Quando voltei ele ainda não tinha o cartão. Fui então à sala da internet. Ele foi comigo e… ficou lá comigo enquanto eu estive no computador. Pagavam-se 60 rupias por uma hora ou 30 por meia-hora. Ele disse-me que era grátis para mim…. Hum, pois. Então acabei por só mandar um email para a minha mãe e fui-me embora. Ele disse-me que depois ia ao meu quarto para me dar o cartão. E veio.
Bateu à porta. O problema deste hotel é que a chave que tranca a porta está junto com o cartão que acende as luzes. Ora, isto quer dizer que, ou acendemos as luzes, ou trancamos a porta às escuras… A minha sorte é que eu trouxe uma pequena lanterna. Então, enquanto o chefe estava a bater continuamente à porta, eu estava a tentar tirar a chave do cartão para não ter que lhe abrir a porta com o quarto às escuras.
Não consegui. Mas ele, entretanto, tentou abrir a porta… Lá tive eu que tirar o cartão da ranhura, ficar às escuras, abrir a porta com a lanterna, e voltar a pôr o cartão na ranhura.
Ele entrou logo para o quarto. Fiquei apreensiva. Pediu-me o telemóvel e pôs o cartão da Vodafone que ele trazia. Não deu. Mas enquanto tentava ia-me perguntando coisas. E, claro, as perguntas são sempre as mesmas: O que é que fazes em Portugal?; És casada?; É a primeira vez que vens à Índia?; etc. Ainda por cima ele não era casado, nem tinha namorada. Medo! Mas pronto, o cartão não deu e ele lá acabou por se ir embora. Deu-me um passou-bem e… um abraço e um beijo! (“Vai-te embora, por favor!”)
Agora, para além do meu telemóvel ainda não dar, está a ficar sem bateria e aqui não o consigo carregar porque as tomadas são diferentes. Enfim… welcome to India.
Capítulo II - Mandawa
Dia 09 de Agosto de 2012 || 18h20 – Mandawa
Saí às 9h00 do hotel em Delhi com o motorista de turbante que me vai levar pelo Rajastão fora.
Continuo nervosa e cheia de medo.
A viagem até Mandawa, uma vila antiga, levou 7h30. Parámos no caminho para almoçar, num sítio à beira da estrada que está feito especialmente para os autocarros turísticos levarem os turistas a comer.
Que miragem! Pela primeira vez vi uma série de turistas! Só me apetecia dizer “Can I stay with you?”. O meu motorista não fala muito (quase nada). Ele não sabe muito inglês e por isso o caminho foi todo feito em silêncio, apenas com o rádio a tocar que eu pedi para ligar ao sairmos de Delhi.
A viagem foi… uma mistura de emoções. Primeiro, o medo de que me acontecesse alguma coisa. Segundo, o choque do que ia vendo ao longo do caminho. Terceiro, o desespero porque tinha fome; porque queria beber, mas não queria correr o risco de ficar com vontade de ir fazer xixi; porque nunca mais chegávamos; e porque o meu telemóvel não tem rede…
Curiosidade: as estradas também se pagam aqui. Mas chamar alguns destes “caminhos” de estradas é muito. Algumas estavam inundadas com a chuva. E a saga do caótico trânsito continuava. Primeiro foi em Delhi. Não tem explicação! Um autêntico mar de carros completamente descontrolado. Depois foi nas “estradas” secundárias. Aqui na Índia não há faixas de rodagem “uma para cá e outra para lá”. Não. Há uma só estrada por onde tudo o que anda circula, e ponto! Aqui até os camelos andam na estrada a puxar carroças. E vacas? Muitas! Muitas vacas. Agora sim vi muitas vacas, e algumas são tão magras quanto as pessoas que as alimentam…
De resto, era assustador ver uma “extensão” das ruas de Delhi pelas beiras da estrada. A degradação, a sujidade, o lixo, a pobreza. Tudo isto em pequenas “ilhas” isoladas ao longo do caminho, separadas por vastos “campos”, alguns agrícola.
A meio da manhã o condutor parou e comprou-me umas bananas. Cada vez que ele parava para fazer alguma coisa (pôr gasolina, encher os pneus, fazer uma mijadinha, etc.) o meu coração acelerava: “O que é que ele vai fazer?”
O tal restaurante onde parámos para comer (ele também comeu ali, mas noutro sítio) era de self-service e custou-me 400 rupias. Fui à casa-de-banho “she” onde, pela 1ª vez, fiz xixi para um buraco no chão (era louça sanitária, mas no chão, com um sítio para pôr os pés). À porta estava um homem a dar guardanapos. E lá dentro a única iluminação que tinha era apenas a luz do dia que entrava pela porta.
Em certas partes das estradas havia também uma cancela (como aquelas que há nas nossas portagens). De um lado tinha uma pedra enorme presa à cancela; do outro um homem que segurava a cancela com uma corda para ela não subir…
A estrada que nos trouxe até Mandawa era estreita, do tamanho de uma faixa de rodagem, mas onde de vez em quando passava um carro no sentido contrário ao nosso. Este caminho ficava num vasto campo, isolado de tudo.
Quando chegámos à vila o motorista andou às voltas a perguntar onde era o hotel. E enquanto ele procurava eu perguntava a mim mesma porque raio é que o Ravi quis que eu visitasse este sítio. Aliás, o que eu perguntava a mim mesma era: “o que é que eu estou aqui a fazer?” e “oh, meu Deus, mas em que raio de hotel é que eu vou ficar?”.
Entretanto, quando já faltava pouco para chegarmos ao hotel (mas eu ainda não sabia disso), entra um rapaz no carro e senta-se ao lado do motorista. Medo! Não pergunto nada e vejo o que acontece…
O rapaz trabalha no hotel e levou-nos até lá.
Na recepção deu o voucher ao senhor. Ele pede-me o meu passaporte. Pergunto se depois mo dão e dizem que sim, depois de 5/10 minutos. Vou à procura do meu motorista. Afinal tenho que combinar com ele por causa de amanhã (e ter a certeza que ele passa a noite neste hotel). Diz-me que às 9h00 saímos.
Entretanto mostram-me o meu quarto. O hotel é bem pequeno e tem os poucos quartos existentes à volta de um pátio interno. O edifício tem ar de ser antigo. As portas de entrada para os quartos são como as dos castelos, mas mais pequenas. A da casa-de-banho também.
O quarto era quente. Ligaram as ventoinhas do tecto e mostraram-me as instalações. De repente perguntaram-me se eu queria um quarto com ar condicionado. Disse que sim. No quarto seguinte disseram-me que eu só tinha que esperar que viessem limpar a casa-de-banho. Ficou na mesma… É… nojento… Ainda bem que eu trouxe uma toalha. E um lençol e uma fronha.
Peço o passaporte ao rapaz. Agora já pela segunda vez. A resposta é sempre a mesma, mas agora digo que não espero. Quero o passaporte comigo! Dão-me o passaporte.
Perguntaram-me se quero ir visitar a vila e se quero que um dos rapazes vá comigo. Pergunto se tenho que pagar. Dizem que dou se eu quiser. Ok, vamos à “cidade”. (O problema do dinheiro é porque não tenho mesmo, principalmente notas pequenas.)
Afinal até tem umas coisas interessantes. São basicamente casas antigas com pinturas lindíssimas. E é neste passeio que vejo mais… turistas! Oh! Aqui estão vocês. Mas não no meu hotel, claro. Aliás, neste hotel de meia dúzia de quartos estou só eu. O rapaz disse que iria chegar um grupo no final do dia. Mas já são 21h20 e eu ainda não vi nem ouvi ninguém…
A visita foi rápida. Eu até queria ver mais, mas sozinha não me atrevi. E até havia mais para ver…
Volto para o hotel com o rapaz (depois da visita guiada da qual eu não percebi nem um quarto do que ele dizia em inglês) e… pareceu-me que ele estava à espera de gorjeta (como todos parecem estar!). Não dei nada, mas fico a pensar nisso. Só tenho notas de 100! Não lhe vou dar 100! Não lhe vou pedir troco!
Lá descobri uma nota de dez, e passadas umas duas horas vou à procura do rapaz. No pátio vejo que uma das portas abertas dá para uma sala de jantar que até está com mesas postas (penso se será para o tal grupo que vem aí…). Pergunto isso mesmo, se é para alguém que vem comer. Como o inglês de todos eles é péssimo o rapaz responde-me dizendo que eu posso comer ali. Não sabia que serviam jantar aqui. Um outro rapaz traz-me o menu. Parece-me bem. Até porque são preços que eu ainda posso pagar com o pouco dinheiro que me resta. Peço arroz com legumes. Ainda bem que consegui jantar. Já estou a começar a ficar farta das bolachas. Mas confesso que me têm salvado a barriga.
Tomo banho (aos bocadinhos porque não tenho água quente outra vez) ao mesmo tempo que vou matando umas espécies de formigas que estão por toda a casa-de-banho.
Amanhã é às 9h00 outra vez.
Nota: Mais uma vez a foto de capa que coloquei para este texto não é referente ao local que descrevo.
Capítulo I - Delhi
Dia 08 de Agosto de 2012 || 19h00 – Delhi
Nem sei o que dizer ou escrever. Índia é… o fim do mundo! Que ingenuidade a minha pensar que poderia fazer esta viagem sozinha. Isto não é coragem. É loucura mesmo! E a loucura paga-se!
Mas vou começar pelo princípio. Pelo voo do Dubai para Delhi.
O avião era igual ao outro, mas desta vez não trazia portugueses. Nem na tripulação. Ao meu lado sentou-se um indiano que vinha com um amigo. Deu-me logo um passou-bem e apresentou-se. A partir daí não se calou mais enquanto eu não fechei os olhos e fingi que estava a dormir. Fez imensas perguntas e abusou um bocadinho da confiança, mas correu tudo bem. A comida (pequeno-almoço) já foi bastante condimentada. Era boa e eu comi-a toda, mas isso acabou por me levar 3 vezes à casa-de-banho.
Aterrámos. Estava difícil o controlo do passaporte por causa da porcaria de um papel que tínhamos que preencher. Quando cheguei à recolha da bagagem já não estava lá a minha mochila. Pânico!
“Madam”, grita um indiano [funcionário do aeroporto] a chamar por mim. Tinha a minha bagagem! Que susto.
Já na zona das “arrivals” sento-me e ponho-me a reler o meu guia da Lonely Planet. Estou com um bocado de receio de apanhar um táxi, pois é quase certo que me “roubem”. E tive razão (infelizmente). Deveria ter sido mais esperta e ter perguntado logo ao taxista quanto era. Um outro rapaz que apontava os nossos nomes e para onde íamos disse-me que era à volta de 500 rupias e que havia o taxímetro.
Guardei a mochila na bagageira, entrei no táxi e… taxímetro? Qual taxímetro? Aqui cada um faz e pede o que quer! 775 rupias foi quanto me pediu no final! Queria dar-lhe só 500, mas ele não deixou. E não me deixava ir a lado nenhum enquanto eu não lhe pagasse o que queria. Nem 700 aceitou. Perguntei-lhe se tinha o troco para os 75 e disse-lhe que não lhe dava mais 100 enquanto não me mostrasse o troco. Acabou por pedir a um homem qualquer que passava na rua os 25 e deu-mos. E pronto! Lá tive a minha primeira má experiência e o meu primeiro “roubo”.
Depois andei um pouco até ao hotel, onde já tinha reservado e pago os quase 40€ por um quarto sem janela e roupa de cama completamente suja.
22h15 – Delhi
Estive a dormir um pouco e a chorar um bocadinho mais. Isto tudo deu cabo de mim, completamente. Pode não ser perigoso vir sozinha para a Índia, mas difícil é. Muito difícil. E depois, claro, há o problema de não teres ninguém ao teu lado para ires buscar forças, mesmo que essa pessoa fosse menos desenrascada que tu. Não interessava. E já fazia toda a diferença…
Também não me armei em corajosa antes de vir para aqui. Os outros é que me viram assim. Eu apenas queria:
Vir à Índia para conhecer um pouco o país;
Saber porque é “a viagem” de muitas pessoas;
Fazer algo que nunca tinha feito e ver se conseguia.
E, está claro, não o consigo fazer sozinha…
Depois de chegar ao hotel fui até à recepção. Queria ir até à estação de comboios. Quando desci, estava a chover. E muito! Trovejava e tudo*. Fiquei na recepção a falar um bocado com um dos homens. Disse-lhe que ia à estação comprar bilhetes. Persuadiu-me a não ir, claro. Explicou-me que era muito confuso, que tinha muita gente. E disse que havia um sítio melhor para ter informações e comprar os bilhetes. Chamou-lhe de “information point”, mas na verdade levou-me foi a uma agência de viagens. Disse que ficava a 10 minutos de carro do hotel. Ligou a uma pessoa para me levar até lá.
Chegou o Nasir, uma espécie de guia e de “faz-tudo” para os hotéis, pareceu-me. Segui-o até a uma outra rua e a partir de lá ele procurou uma forma de nos levar. Aos dois.
Antes disso vim buscar o guarda-chuva ao meu quarto. De facto ajuda mais que uma capa, pois está muito calor e a capa seria um suplício. E tenho comigo a mochila pequena também.
O Nasir falou com vários auto-rickshaws para nos levar ao nosso destino, mas sem sucesso. Disse-me que tínhamos que ir para o outro lado da estrada para estarmos no sentido que queríamos. E foi assim que tive a minha primeira experiência numa das coisas mais impressionantes da Índia: atravessar uma estrada! É, de facto, algo… surreal! Tal como o próprio trânsito. Não dá para descrever.
As estradas (as principais, não os caminhos ou as ruas secundárias) até têm os traços no chão a indicar as faixas de rodagem, mas… Na Índia penso que só há uma regra que rege este país: não há regras! Os carros simplesmente andam como querem e onde querem. Põe-se à frente dos outros carros e os outros que se desviem. E buzinam. Buzinam muito. Buzinam mesmo muito!
As pessoas também fazem o mesmo. Não há passadeiras. Atravessas quando queres e onde queres. Dás raspões nos carros quando o trânsito está parado ou quase parado, e andas tranquilamente até ao outro lado da estrada. E é incrível como tudo funciona sem um arranhão!
Apanhámos um auto-rickshaw. O Nasir combinou com ele pagarmos 50 rupias. É uma viagem bastante interessante. Ninguém deveria sair da Índia sem andar numa coisa destas pelo menos uma vez.
E pronto! Lá chegámos nós à agência de viagens que eles queriam que eu fosse. Enfim! Eu deveria ser menos estúpida!
Quem pagou o rickshaw foi o Nasir. Eu só tinha uma nota de 100, e ele então chegou-se à frente. Deixou-me na agência e foi-se embora.
Na agência estive horas com o Raja. Primeiro estivemos a ver bilhetes de comboio. Não havia nada para o dia seguinte. Só lá para dia 12. Nem para Agra. E eu queria sair de Delhi o mais depressa possível. Vimos outros sítios, mas estava complicado fazer um roteiro de comboio que fizesse sentido. Então o Raja fez o seguinte: planeou-me um roteiro inteiro (passando por todos os lugares que eu queria ver e mais alguns) com um motorista privado. 890€ (o que dá 50€ por dia até à minha partida) e inclui os hotéis, os bilhetes de comboio para ir de Agra a Varanassi, e o motorista que me leva até onde eu quiser, quando eu quiser. O preço até está bom (comparando com os 1500€ que eu tinha visto numa agência de viagens em Portugal) e ele até tinha razão numa coisa: ok, até podia arranjar todos os bilhetes de comboio que queria, mas e depois? Como é que eu ia para os hotéis (que ainda nem sequer estão reservados) a partir das estações? Como é que eu me deslocava nas cidades que queria ver? E os comboios atrasam-se. E isso poderia trazer-me problemas. Lá está a porcaria da ingenuidade. Estou sozinha, sou mulher, e é a primeira vez que faço uma viagem destas à aventura. E logo na Índia! Como é que eu poderia achar que me safava bem apenas com o guia da Lonely Planet? Isto aqui é um mundo “selvagem”! Outras mulheres podem ter conseguido fazer uma proeza destas, mas eu claramente não sou uma delas. Não sem a ajuda necessária de quem conhece bem este país. No fundo, isto é a lei do salve-se quem puder. E eu tive que me salvar assim. E quase que chorava à frente do Ravi, pois o medo de estar a ser enganada era muito. Sozinha com um motorista o tempo todo…
Cheguei a falar com a minha mãe ao telefone. Ela disse para não fazer isto, exatamente pela mesma razão que me passava pela cabeça: o medo de que me acontecesse algo por estar sozinha num carro com um homem e num país que não conheço. Ela inclusive disse para apanhar um voo de volta para casa. Confesso que se pudesse acho que o teria feito, mas isso significava, sobretudo, que eu à mínima dificuldade tinha desistido de tudo. E não estou a falar só da viagem em si.
Bom, no final, achei que poderia confiar no Ravi. Que outra solução tinha eu?
Agora só me resta esperar que corra tudo bem… e que o meu anjo da guarda me proteja. (Entretanto, já me fartei de chorar aqui no quarto. Afinal o medo é muito. Mais do que aquilo que eu estava à espera…)
Perguntei ao Ravi onde é que eu podia comprar água e algo para comer. Falei num supermercado, mas pelos vistos é difícil arranjar um. Ele pediu ao rapaz novo que trabalha com ele para me levar a uma rua onde eu poderia escolher ir ao McDonald’s ou a um pequeno restaurante que ele indicou. Fomos a pé até a essa rua principal (acho que se chama “market street”). Decidi comer no restaurante. Havia vários tipos de cozinha e eu escolhi a “italiana” – massa com frango e molho de tomate. Cada garfada cada gole de água. Estava super picante!
45 minutos depois o rapaz voltou para me vir buscar como combinado. Andou a perguntar preços nos rickshaws. Entrámos num e passado pouco tempo saímos. O motorista estava a ir por um caminho que o rapaz não conhecia e por isso ele mandou-o parar para sairmos. Apanhámos outro. 50 rupias. O rapaz disse-me que normalmente são 30 rupias para fazer este caminho, mas quando veem que sou turista (mesmo indo com eles) pedem mais. No fim só tinha 40 rupias (e outras notas grandes) para dar. O rapaz deu os outros 10. Perguntei se eles não davam troco se déssemos dinheiro a mais e ele disse logo que não.
Já no hotel falei ao telefone com o Ravi outra vez. Ficou combinado eu sair daqui amanhã com o motorista às 9h00. Ele disse-me que vinha também (eu pedi-lhe).
E afinal como é Delhi? Delhi é o caos. É pobreza. É confusão. É chocante e de certa forma assustador. Vi as pessoas andarem à chuva sem qualquer tipo de proteção, como se não fosse nada com elas. Como se nem sequer se estivessem a encharcar todas. Vi miúdos completamente nus, à chuva, e a andarem descalços. Vi muitos miúdos descalços. Vi pessoas a correrem atrás do autocarro porque este não parou na paragem. Vi cães muito magros por aí. Vi uma “procissão” que passou nessa rua principal (dia 10 celebra-se qualquer coisa). Vi muita coisa que nunca tinha visto. E também fui vista. Muito. Até porque, estrangeiros, não vi nenhum. Nenhum! Eu era a única branca a andar por aquelas ruas todas. Mas onde é que estão os turistas?! Onde?!
Nota: A foto deste texto (onde se vê um homem com um turbante na cabeça) não foi tirada em Delhi, mas sim noutra cidade da Índia. No entanto, como eu não tirei fotos “de jeito” em Delhi (porque também não passeei por lá), decidi pôr esta que é uma das que gosto mais.
*Infelizmente eu fui à Índia na altura das monções. Não recomendo…