by Raquel Dominguez

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A ilusão das redes sociais

Quando eu e a minha colega Margarida lançámos a nossa loja online pela primeira vez em Julho do ano passado, fomos logo contactadas por uma blogger que nos propôs fazer uma review sobre a nossa marca.

Ficámos em êxtase, como deves imaginar!

Uma pessoa que tem mais de 100 mil seguidores no Instagram entra em contacto connosco porque quer fazer uma publicação da nossa marca em troca, apenas, de alguns quadros nossos? Espetacular!

Mas não, afinal não foi espetacular. Nem nada que se pareça…

De facto, agora que escrevo estas palavras consigo perceber de uma forma clara que havia qualquer coisa que não fazia muito sentido nesta história.

Uma blogger contactar-nos? Ainda por cima nesta altura do campeonato quando ainda não éramos ninguém?

Alguma coisa não batia certo…

A ilusão das redes sociais

O que é mais importante? Mostrarmo-nos ao mundo como realmente somos ou como achamos que os outros nos querem ver?

Como somos, certo?

Porém, a partir do momento em que vivemos numa era que mais rapidamente premeia aqueles que se encaixam num determinado perfil em detrimento de outros, qual das situações é que achas que te trará maiores ganhos (sejam eles emocionais ou monetários), caso tu não te enquadres no estereótipo que o mundo aprecia ver? 

A segunda, não é?

Até porque se não fosse assim, algumas pessoas nunca teriam o sucesso que têm hoje graças às redes sociais.

Todos nós sabemos que as pessoas mais admiradas e apreciadas são aquelas cujos perfis melhor retratam o estilo de vida que a maior parte de nós gostaria de ter.

Seja porque estão a viajar para sítios onde nós também gostaríamos de ir, a mostrar a boa forma física que nós também gostaríamos de ter, a vivenciar a maior história de amor que nós também gostaríamos de viver, ou simplesmente a fazer algo que a maior parte de nós não pode, não consegue ou não tem oportunidade para fazer.

E porquê que isto acontece? Porque é que nós acompanhamos as histórias de quem está, aparentemente, a viver uma vida de sonho?

Porque todos nós temos algum vazio que precisamos preencher. O ser humano é simplesmente assim. Há sempre alguma coisa que nos falta, uma vez que há sempre alguma coisa que desejaríamos ter ou ser.

Ser mais bonitos, mais inteligentes, mais corajosos, mais criativos, mais confiantes, mais interessantes, mais espirituais…

Ter mais amor, mais dinheiro, mais saúde, mais sucesso, mais liberdade, mais estilo, mais atenção, mais jeito para fazer alguma coisa…

É essa a razão que nos leva a “seguir” e a “gostar” das pessoas que, para nós, representam aquilo que nós também gostaríamos de ter ou de ser.

Mas até aqui tudo bem.

Não tem mal nenhum nós acompanharmos de perto a vida daqueles que, todos os dias, nos mostram através das suas próprias vidas que é possível realizarmos os nossos sonhos.

Todos nós precisamos de ter referências na nossa vida que nos inspirem a ser uma melhor versão de nós mesmos.

Eu também as tenho.

O problema é quando sentimos necessidade de passar uma imagem que não é real, pois estamos demasiados sedentos de atenção ou porque sabemos que a recompensa por se ter um perfil com milhares de seguidores é demasiado tentadora para deixar escapar.

O que muita gente ainda não sabe sobre as redes sociais é que, em muitos casos, a realidade que está a ser mostrada não é a realidade que está a ser vivida.

E a prova disso está aqui.

Todos nascemos originais e morremos cópias - Carl Jung

Nos dias que correm, qualquer pessoa consegue ganhar notoriedade através das redes sociais, desde que consiga passar a imagem de que é ou tem aquilo que os outros também querem ser ou ter.

Há muito tempo que o mundo deixou de premiar os mais audazes.

Agora, o que importa mesmo é o número de “gostos” que temos nas nossas fotos e o número de seguidores que temos nas nossas contas de Instagram.

E porquê?

Porque o prémio que recebemos por chegar a esse patamar é grande, sobretudo a nível financeiro. Daí ser cada vez maior o número de jovens que querem ser YouTubers ou Influencers quando “forem grandes”.

Ao que parece, a vida só é boa quando se chega a esse nível.

Para além de isso gerar um certo descontentamento naqueles que têm uma vida “comum” e sem grandes sucessos, também leva a que muita gente caia na tentação de criar uma vida social que não é real só para conseguir ser “alguém” aos olhos dos outros, uma vez que o vazio que carregamos é demasiado grande para o conseguirmos suportar.

E a prova disso também está aqui.

Seja comum, seja simples, seja você quem for. Não há necessidade de ser importante, a única necessidade é de ser real. Ser real é existencial. Ser importante é viagem do ego. – Osho

Quem vive (ou quer viver) das redes sociais sabe que há truques para se conseguir o que as marcas procuram: números. Isto porque quanto maiores eles forem, maior será o retorno para a marca.

Ou pelo menos assim deveria ser.

Contudo, quando estamos a falar de um perfil que não é “real”, mas sim algo que foi “fabricado” pela própria pessoa, então só um dos lados é que fica a ganhar.

Que foi precisamente o que nos aconteceu.

Assim que uma blogger – que tem mais de 100 mil seguidores no seu Instagram e mais de 4 mil “gostos” em cada foto – publicita uma marca, é normal que os números dessa marca também disparem.

As vendas até podem não aumentar, mas se os seguidores daquela pessoa forem, de facto, pessoas “reais” que acompanham a vida daquela pessoa porque a tomam como uma inspiração, então é natural que haja repercussões positivas para as marcas que ela publicita.

Mas não foi isso o que nos aconteceu.

De todo.

Para te dizer a verdade, nem sequer um seguidor a mais tivemos na nossa página.

E porquê?

Porque era tudo falso.

Todos aqueles 4 mil “gostos” e todos aqueles 100 mil seguidores eram uma ilusão. Uma ilusão criada pela própria pessoa para conseguir os tais números que as marcas procuram (há formas de se fazer isso).

O que faz com que toda esta questão das redes sociais seja levada a um outro nível. Um nível a que eu, infelizmente, não estava preparada…

Ser importante é uma ilusão

Apesar de na altura eu ter ficado bastante chateada com o que nos aconteceu, a realidade é que a culpa não é da blogger que nos contactou.

Ela apenas também se deixou levar pelos valores que regem a sociedade nesta época em que vivemos.

Porque se ser importante é assim tão valorizado pela nossa sociedade, então o vazio não era só dela. O vazio também era meu…