by Raquel Dominguez

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Como lidar com o medo de falhar?

O dicionário online da Priberam diz que falhar significa, entre outras coisas, não produzir o efeito desejado.

Mas… e se esse efeito desejado não for a melhor coisa que nos podia acontecer? E se aquilo que estiver reservado para nós for maior do que aquilo que nós conseguimos imaginar?

Será que isso faz do ato de falhar algo assim tão mau?

Quando tomamos o ato de falhar como sinónimo de algo que queríamos muito e não conseguimos, falhar torna-se, de facto, uma situação bastante dolorosa pela qual evitamos a todo o custo passar.

Afinal de contas, ninguém gosta de ser contrariado. Desde pequenos que somos assim. 

Sonhar faz parte do ser humano. Concretizar objetivos também. O sentimento de realização pessoal que daí advém é impagável. E todos nós queremos senti-lo.

Vezes e vezes sem conta…

Às vezes não conseguir o que se quer é uma tremenda sorte - Dalai Lama

Quando no início de 2017 abri um espaço com uma amiga, eu trazia na cabeça todo um cenário de expectativas de que as coisas iriam correr bem. Ninguém investe dinheiro a meter-se numa coisa que à partida acha que não vai dar certo. NinguémPodemos até ter medo, mas pensar que não vai funcionar é que não.

No entanto, não foi isso o que acabou por acontecer. O efeito desejado não se deu, para minha grande surpresa e das minhas expectativas. Tudo estava a falhar e eu não queria acreditar.  

Os joelhos foram ao chão. A cara também. E, infelizmente, outras coisas mais…

Eu falhei, e não havia nada que eu pudesse fazer senão começar de novo, ao mesmo tempo que tentava limpar todos os estragos que tinha feito ao longo do caminho.

Quem é que quer passar por uma coisa assim?

Nenhum de nós quer. É por isso que tanta gente não arrisca fazer aquilo que sente que é melhor para si. Porque tem medo que algo falhe pelo caminho.

Mas vai falhar.

E sabes quantas vezes?

As que forem precisas para te levar até onde é suposto estares.

E ainda bem que assim o é.

Por muito que me tenha custado, foi preciso eu ter batido com a cara no chão para finalmente aceitar aquilo que já tinha percebido uns meses antes, mas com o qual eu não queria lidar.

No fundo, no fundo, eu sabia que o Feng Shui já não era (apenas) aquilo que eu queria fazer para o resto da minha vida. E, por isso, abrir um espaço para dar formações de Feng Shui não fazia qualquer sentido.

Era um erro do qual o meu inconsciente já tinha perfeita noção, mas a minha mente consciente não. Essa andava ocupada a trabalhar noite e dia, a tentar perceber como é que eu iria ter os meus workshops cheios de gente. Pois era isso o que eu queria ter. Era esse o efeito desejado.

E ainda é. Apenas não com o Feng Shui…

Com o tempo apercebi-me de que aquele falhanço foi, na verdade, um grande alívio para mim. Sem me dar conta, eu estava a fazer algo que não acreditava totalmente. É claro que o desfecho só podia ter sido esse.

Caso tivesse sido outro, o mais provável era eu não estar aqui a escrever este texto agora. Algo que se aproxima muito mais daquilo que eu sempre disse (para mim, em segredo) que um dia queria fazer com a minha vida:

Inspirar pessoas.

Se já o faço ou não, não sei. Algumas pessoas dizem-me que sim, apesar da minha mente super exigente e perfecionista dizer que não.

Se vou conseguir fazê-lo numa escala maior ou não, também não sei. Mas acredito que sim, mesmo não sabendo quando e como.

Se vou falhar mais vezes durante o caminho, ah, isso é quase garantido que sim. O que não me deixa outra hipótese senão ajustar a forma como eu escolho lidar com o ato de falhar.

Parar é que não!

Crescer é doloroso. Mudar é doloroso. Mas nada é mais doloroso do que ficar preso num lugar onde não se pertence - Autor desconhecido

Falhar faz parte do processo de aprendizagem. E por isso não temos como fugir dele.

Mas o nosso mecanismo de defesa interno é esperto e tenta, pelo menos, controlar a dimensão com que ele nos atinge. Mesmo que isso signifique ficar preso a uma vida, trabalho, relação ou qualquer outra coisa que já não faça mais sentido para nós.

Só que, para mim, isso é como morrer aos bocadinhos…

Eu sei que não somos todos iguais e que não queremos todos chegar ao mesmo sítio. E nem é suposto ser assim.

Porém, tenho a certeza que muitos de nós tem à sua espera uma vida bem mais feliz para viver do que aquela que vive agora, desde que estejamos dispostos a tentar descobrir o lugar onde pertencemos.

Custe isso os falhanços que custar…

*** 

Não queria terminar este texto sem antes partilhar contigo este vídeo (a partir do minuto 7:48) de um discurso que a JK Rowling – autora dos famosos livros do Harry Potter – fez para os finalistas de uma universidade. Uma vez que ele está em inglês, bem como as suas legendas, eu decidi traduzir livremente uma parte do seu discurso, pois não queria que perdesses um único significado das suas palavras.

Espero que te inspire :)

Eu falhei de forma épica. Um casamento excecionalmente curto tinha acabado; eu estava desempregada; era mãe solteira e estava tão pobre quanto é possível estar numa Inglaterra moderna sem se ser um sem abrigo. Os medos que os meus pais tinham por mim - e que eu também tinha - tornaram-se realidade. E de acordo com todos os padrões da altura, eu era o maior fracasso que conhecia. Esse período da minha vida foi sombrio. Eu não fazia ideia na altura do quão fundo era o túnel. E, por muito tempo, qualquer luz que eu visse no final do mesmo era mais uma esperança do que uma realidade.

Mas porque vos quero falar sobre os benefícios do fracasso? Simplesmente porque o fracasso significou para mim eliminar o que não era essencial. Eu parei de fingir a mim mesma que era outra coisa senão aquilo que era, e comecei a direcionar toda a minha energia em terminar o único trabalho que importava para mim.

Se eu tivesse sido bem-sucedida em qualquer outra coisa, talvez nunca tivesse descoberto a determinação para ter sucesso na única área em que eu realmente acreditava pertencer. Eu fui libertada porque o meu maior medo tinha sido reconhecido e eu ainda estava viva. Ainda tinha uma filha que adorava, uma velha máquina de escrever e uma grande ideia. E assim o fundo do poço tornou-se a base sólida sobre o qual eu reconstruí a minha vida.

Vocês até podem nunca vir a falhar na mesma escala que eu, mas passar por algum tipo de fracasso na vida é inevitável. É impossível viver sem falhar em alguma coisa, a não ser que tu vivas com tanto cuidado que também acabarás por não viver de todo – o que fará com que falhes por defeito. O fracasso ensinou-me coisas sobre mim mesma que eu nunca poderia ter aprendido de outra maneira. Eu descobri que tinha uma grande força de vontade e mais disciplina do que aquilo que pensava. E também descobri que tinha amigos cujo valor estava muito acima do preço de qualquer rubi.

Saber que conseguiste erguer-te mais forte e mais sábia das adversidades significa que poderás estar sempre segura na tua capacidade de sobrevivência. Tu nunca te conhecerás verdadeiramente, nem saberás quão forte são os teus relacionamentos, até que ambos tenham sido testados pela adversidade.

Esse conhecimento é uma verdadeira dádiva, apesar de ser dolorosa, e valeu mais do que qualquer qualificação que eu já tenha obtido. Assim, se eu viajasse no tempo, eu diria ao meu eu de 21 anos que a felicidade pessoal reside em saber que a vida não é uma lista de aquisições ou conquistas. A vida é complicada e está além do controlo total de qualquer pessoa. E a humildade de saber isso irá permitir-te sobreviver às suas vicissitudes.