by Raquel Dominguez

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Nunca deixes de acreditar!

Quando eu era mais nova o meu pai virou-se para mim um dia e perguntou-me se eu não queria trabalhar no mesmo sítio onde ambos (os meus pais) trabalhavam: uma instituição bancária segura, que dava aos seus funcionários muitas regalias na altura.

A minha resposta foi imediata:

“Não. Eu não gosto desse trabalho.”

Ir atrás daquilo em que se acredita não é fácil

Sempre fui daquele tipo de pessoas que cresceu sem saber bem o que queria fazer “para o resto da minha vida”. Mas apesar de eu não saber o que queria fazer, havia coisas que eu sabia que não queria fazer. E já naquela altura sabia que não queria trabalhar atrás de uma secretária o resto da minha vida, porque isso não tinha nada a ver comigo.

A resposta do meu pai também foi imediata, mas bem mais audível e perentória do que a minha.

“És uma ingrata!” – disse ele.

Mas eu não era só ingrata. Eu era também muitas outras coisas que passavam pela cabeça das pessoas sempre que me perguntavam porquê que eu não ia trabalhar para o mesmo sítio onde os meus pais trabalhavam.

“Há quem tenha um trabalho e não o queira; e há quem queira um trabalho e não o tenha.” E eu, claramente, parecia fazer parte do primeiro grupo…

Anos mais tarde um tio meu perguntou-me o que é que eu um dia queria fazer da minha vida, ao que eu respondi (também de imediato):

“Eu quero trabalhar numa coisa que goste.”

Bom, imediatamente também ele me respondeu:

“Raquel, tu vives no mundo da utopia… Ninguém faz o que gosta!”

Agora, para além de ingrata e de outras coisas mais, também era uma sonhadora irrealista.

Estava, assim, oficialmente sozinha no mundo com a minha maneira de ser e de pensar…

Até que aos 26 anos decidi tirar o curso de Design de Interiores. Achava que já tinha descoberto o que queria fazer “para o resto da minha vida” e por isso fui contar ao meu tio o que estava a pensar fazer. O seu veredicto final – depois de me ter feito ponderar sobre a minha decisão tendo em conta o desemprego que já existia nessas áreas – foi este:

“Raquel, não é para agourar, mas isso nunca vai dar certo!”

Não, agora é que eu estava mesmo sozinha! E ainda por cima a não bater lá muito bem da cabeça. Mas, lá fui eu na mesma com a minha loucura para onde queria…

Quando terminei a licenciatura de 3 anos de Decoração – que adorei fazer, o que para mim já compensava o investimento que tinha feito – inscrevi-me no curso de 3 anos de Feng Shui. Achava que os dois iam bem juntos e que o Feng Shui podia ser uma mais-valia para a minha “nova profissão”.

Até que aos poucos, e como quem não quer a coisa, fui-me apercebendo daquilo que realmente me fazia vibrar. Não, não é o que eu gosto de fazer. É o que me faz vibrar! É o que me faz ficar, quando é preciso, dias inteiros atrás de uma secretária a montar cursos ou workshops, adorando cada segundo que passa!

Que ironia do destino, não?

Mas vale a pena

Não sei porquê, mas sempre acreditei na máxima nada é impossível. Mesmo quando todos à minha volta me diziam o contrário. Mesmo quando ainda hoje me dizem para largar tudo e deixar de sonhar.

No entanto, tenho de ser honesta contigo e dizer que não é nada fácil ir atrás daquilo em que se acredita.

Primeiro porque estamos sozinhos neste barco.

Segundo porque leva tempo até chegarmos lá.

E terceiro porque dá trabalho. Dá mesmo muito trabalho!

Para além de (aparentar) ser um tiro no escuro. Afinal de contas, quem é que me garante que eu consigo lá chegar?

Mas felizmente que existem milhares de pessoas no mundo que nos provam, com a sua própria história de vida, que é possível chegar até onde queremos. E às vezes até nem é “contra tudo e contra todos”. É contra nós mesmos! Contra os nossos próprios medos, dúvidas e inseguranças. Contra a nossa própria indolência e falta de paciência para chegarmos “lá”. E isto não se aplica apenas ao trabalho, mas sim a qualquer área da nossa vida. Pois até mesmo nos relacionamentos, por exemplo, é preciso trabalhar para se chegar “lá”.

É por isso que eu adoro trabalhar com pessoas. Porque eu acredito nelas, mesmo antes de elas acreditarem nelas próprias. Porque eu acredito que qualquer um pode chegar “lá”, mesmo quando parte do seu sonho já morreu algures pelo caminho.

E faço isto não só no meu trabalho, mas em qualquer altura ou circunstância da minha vida. Até quando estou com os pés de molho a ouvir a minha esteticista a falar das suas inseguranças em relação ao seu novo projeto.

Porque “isto” não é apenas o meu trabalho. “Isto” é aquilo que eu sou! Algo que, infelizmente, o meu pai, o meu tio e tantas outras pessoas não se permitem descobrir sobre elas próprias.