À Procura da Felicidade
Um pouco antes da humanidade existir, vários duendes reuniram-se para pregar uma partida aos humanos.
– E que tal se lhe roubássemos algo? – disse um deles.
– Boa ideia! – concordaram todos. – Mas… e o que é que lhes vamos roubar?
Depois de muito pensarem, de repente um deles gritou:
– Já sei! Vamos roubar-lhes a felicidade!
– Boa! Isso mesmo! Que grande ideia! Mas… e onde é que a vamos esconder?
Houve então um primeiro que propôs:
– Já sei! Vamos escondê-la no topo da montanha mais alta do mundo! De certeza que aí eles nunca a vão encontrar!
Mas logo de seguida alguém respondeu:
– Hum, não. Recorda-te que eles conhecem a força. E um dia alguém conseguirá subir até lá e acabará por encontrá-la. E quando um a encontrar, já todos saberão onde ela está.
Imediatamente outro disse:
– Então vamos escondê-la no fundo do oceano mais profundo!
– Também não. Recorda que eles possuem a curiosidade. E um dia alguém irá construir uma máquina para poder descer até lá e assim todos a irão encontrar.
Até que de repente um terceiro gritou:
– Já sei! Vamos escondê-la no planeta mais longe da Terra! Aí é que eles nunca a vão mesmo encontrar!
– Não. Recorda que eles têm inteligência e um dia alguém irá construir uma nave espacial para poder viajar a outros planetas. E assim que ela for descoberta, todos os outros humanos a irão possuir também.
– Mas então onde é que a vamos esconder?!
Os duendes continuaram a pensar, até que o mais sábio deles todos - que tinha estado em silêncio a escutar atentamente cada uma das propostas - virou-se e disse:
– Eu acho que sei onde é que a podemos esconder, para que eles realmente nunca a encontrem.
Logo de seguida todos se viraram para ele surpreendidos, perguntando:
– Onde?!
E o duende respondeu:
– Vamos escondê-la dentro deles mesmos. Eles irão estar tão ocupados a procurar lá fora que nunca a irão encontrar.
O que aprendi com esta história?
Desde que ouvi esta história pela primeira vez nunca mais me esqueci dela.
Talvez pela sua candura; talvez porque descreve, de uma maneira tão simples e perspicaz, a eterna busca do ser humano pela felicidade; ou talvez porque nos revela, de uma forma impactante, onde encontrá-la.
De facto, há já muito tempo que mestres e sábios nos dizem que a felicidade não se encontra nas coisas externas, sejam elas pessoas ou bens materiais. É verdade que elas são uma parte importante do nosso bem-estar, mas por si só elas não têm a capacidade de nos fazer felizes.
Pelo menos não por muito tempo.
Ultimamente tenho aprendido que ser feliz não significa estar alegre o tempo todo. Há coisas que nos entristecem e isso faz parte da vida. É por isso que há uma grande diferença entre estar feliz e ser feliz. Estar feliz é algo temporário. Tem a ver com os acontecimentos da vida. Ser feliz, pelo contrário, não está dependente de acontecimentos externos.
Eu posso estar feliz e não ser feliz.
Nesse caso, como podemos então ser felizes? A história diz-nos que a felicidade está dentro de nós. Isso significa que ela não nos pode ser dada, nem tirada. É algo inerente a nós. Então, porque não a conseguimos sentir na sua plenitude?
Porque os nossos fantasmas interiores não nos deixam.
Para mim, paz interior e felicidade andam juntas, pois enquanto não alcançarmos a primeira, dificilmente conseguiremos sentir a segunda.
Considero que ser feliz é, até um certo ponto, estar em paz: connosco, com a vida, com o passado, com o que nos aconteceu, com o que nos acontece, com tudo. Não é fácil, eu sei. Para mim também não é. Mas cada vez mais tenho-me apercebido da importância deste estado de espírito e de como ele desempenha um papel preponderante na nossa felicidade.
Se eu tivesse que definir o que significa “ser feliz”, talvez dissesse que é estar de bem com a vida. Com o que se tem. Com o que se faz. Com o que se é.
Dito por outras palavras, penso que ser feliz é, tão simplesmente, a consequência do caminho que se faz rumo a uma paz interior.