by Raquel Dominguez

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À Procura da Felicidade

Um pouco antes da humanidade existir, vários duendes reuniram-se para pregar uma partida aos humanos.

– E que tal se lhe roubássemos algo? – disse um deles.

– Boa ideia! – concordaram todos. –  Mas… e o que é que lhes vamos roubar?

Depois de muito pensarem, de repente um deles gritou:

– Já sei! Vamos roubar-lhes a felicidade!

– Boa! Isso mesmo! Que grande ideia! Mas… e onde é que a vamos esconder?

Houve então um primeiro que propôs:

– Já sei! Vamos escondê-la no topo da montanha mais alta do mundo! De certeza que aí eles nunca a vão encontrar!

Mas logo de seguida alguém respondeu:

 – Hum, não. Recorda-te que eles conhecem a força. E um dia alguém conseguirá subir até lá e acabará por encontrá-la. E quando um a encontrar, já todos saberão onde ela está.

Imediatamente outro disse:

– Então vamos escondê-la no fundo do oceano mais profundo! 

– Também não. Recorda que eles possuem a curiosidade. E um dia alguém irá construir uma máquina para poder descer até lá e assim todos a irão encontrar.

Até que de repente um terceiro gritou:

– Já sei! Vamos escondê-la no planeta mais longe da Terra! Aí é que eles nunca a vão mesmo encontrar!

 – Não. Recorda que eles têm inteligência e um dia alguém irá construir uma nave espacial para poder viajar a outros planetas. E assim que ela for descoberta, todos os outros humanos a irão possuir também.

– Mas então onde é que a vamos esconder?!

Os duendes continuaram a pensar, até que o mais sábio deles todos - que tinha estado em silêncio a escutar atentamente cada uma das propostas - virou-se e disse:

– Eu acho que sei onde é que a podemos esconder, para que eles realmente nunca a encontrem.

Logo de seguida todos se viraram para ele surpreendidos, perguntando:

– Onde?!

E o duende respondeu:

– Vamos escondê-la dentro deles mesmos. Eles irão estar tão ocupados a procurar lá fora que nunca a irão encontrar.

O que aprendi com esta história?

Desde que ouvi esta história pela primeira vez nunca mais me esqueci dela.

Talvez pela sua candura; talvez porque descreve, de uma maneira tão simples e perspicaz, a eterna busca do ser humano pela felicidade; ou talvez porque nos revela, de uma forma impactante, onde encontrá-la.

De facto, há já muito tempo que mestres e sábios nos dizem que a felicidade não se encontra nas coisas externas, sejam elas pessoas ou bens materiais. É verdade que elas são uma parte importante do nosso bem-estar, mas por si só elas não têm a capacidade de nos fazer felizes.

Pelo menos não por muito tempo.

Ultimamente tenho aprendido que ser feliz não significa estar alegre o tempo todo. Há coisas que nos entristecem e isso faz parte da vida. É por isso que há uma grande diferença entre estar feliz e ser feliz. Estar feliz é algo temporário. Tem a ver com os acontecimentos da vida. Ser feliz, pelo contrário, não está dependente de acontecimentos externos.

Eu posso estar feliz e não ser feliz.

Nesse caso, como podemos então ser felizes? A história diz-nos que a felicidade está dentro de nós. Isso significa que ela não nos pode ser dada, nem tirada. É algo inerente a nós. Então, porque não a conseguimos sentir na sua plenitude?

Porque os nossos fantasmas interiores não nos deixam.

Para mim, paz interior e felicidade andam juntas, pois enquanto não alcançarmos a primeira, dificilmente conseguiremos sentir a segunda.

Considero que ser feliz é, até um certo ponto, estar em paz: connosco, com a vida, com o passado, com o que nos aconteceu, com o que nos acontece, com tudo. Não é fácil, eu sei. Para mim também não é. Mas cada vez mais tenho-me apercebido da importância deste estado de espírito e de como ele desempenha um papel preponderante na nossa felicidade.

Se eu tivesse que definir o que significa “ser feliz”, talvez dissesse que é estar de bem com a vida. Com o que se tem. Com o que se faz. Com o que se é.

Dito por outras palavras, penso que ser feliz é, tão simplesmente, a consequência do caminho que se faz rumo a uma paz interior.