À Procura da Felicidade

à procura da felicidade

Conta a história que um pouco antes da humanidade existir, vários duendes reuniram-se para nos pregar uma partida. Um deles disse: “Vamos roubar-lhes algo, mas o quê?”

Depois de muito pensarem, um duende gritou: “Já sei! Vamos roubar-lhes a felicidade! O problema agora vai ser onde a vamos esconder para que nunca ninguém a encontre.”

O primeiro propôs: "Vamos escondê-la no topo da montanha mais alta do mundo!" Mas imediatamente outro retorquiu: "Não, recorda que eles conhecem a força e algum dia alguém poderá subir e encontrá-la. E quando um a encontrar já todos saberão onde ela está.”

De seguida outro propôs: “Então vamos escondê-la no mais fundo dos oceanos!” Mas outro contestou: “Não, recorda que eles possuem a curiosidade e algum dia alguém construirá algum aparelho para poder descer até lá e assim todos a irão encontrar.”

Um outro então gritou: “Vamos escondê-la no planeta mais longínquo da Terra!” Até que alguém respondeu: “Não, recorda que eles têm inteligência e um dia alguém vai construir uma nave para poder viajar a outros planetas. E quando a descobrir todos possuirão a felicidade.”

O último deles, o mais sábio deles todos, era um duende que tinha estado em silêncio a ouvir com atenção cada uma das propostas dos seus companheiros. Analisou cada uma delas e finalmente disse: “Creio saber onde colocá-la para que realmente nunca a encontrem.”

Todos viraram assombrados e perguntaram ao duende: “Onde?”

Ao que o duende respondeu: "Vamos escondê-la dentro deles mesmos. Eles irão estar tão ocupados a procurá-la lá fora, que nunca a irão encontrar.”

Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda a parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!

- Mario Quintana

 

Reflexões:

Desde que ouvi esta história pela primeira vez nunca mais me esqueci dela.

Talvez pela sua candura; talvez porque descreve, de uma maneira tão simples e perspicaz, a nossa eterna busca pela felicidade; ou talvez porque nos revela, de uma forma deveras surpreendente e impactante, onde realmente a podemos encontrar.

De facto, há já muito tempo que mestres e sábios nos dizem que a felicidade não se encontra nas coisas externas, sejam elas pessoas ou bens materiais. É verdade que elas são uma parte importante do nosso bem-estar, mas por si só elas não têm a capacidade de nos fazer felizes.

Pelo menos não por muito tempo.

Ultimamente tenho aprendido que ser feliz não significa estar alegre o tempo todo. Há coisas que nos entristecem e isso faz parte da vida. É por isso que considero que há uma grande diferença entre estar feliz e ser feliz. Estar feliz é algo temporário. Tem a ver com os acontecimentos da vida. Ser feliz, pelo contrário, não está dependente de acontecimentos externos.

Eu posso estar feliz agora e não ser uma pessoa feliz.

Nesse caso, como podemos então ser felizes? A história diz-nos que a felicidade está dentro de nós. Isso significa que ela não nos pode ser dada, nem tirada. É algo inerente a nós. Então, porque não a conseguimos sentir na sua plenitude?

De tudo o que tenho aprendido, é porque os nossos fantasmas interiores não nos deixam.

Para mim, paz interior e felicidade andam juntas, pois enquanto não alcançarmos a primeira, dificilmente conseguiremos sentir a segunda.

Considero que ser feliz é, até um certo ponto, estar em paz. Connosco, com a vida, com o nosso passado, com o que nos aconteceu, com o que nos acontece, com tudo. Não é fácil, eu sei. Para mim também não é. Mas cada vez mais tenho-me apercebido da importância deste estado de espírito e de como ele desempenha um papel preponderante na nossa felicidade.

Se eu tivesse que definir o que significa “ser feliz”, talvez dissesse que é estar de bem com a vida. Com o que se tem. Com o que se faz. Com o que se é.

Dito por outras palavras, penso que ser feliz é, tão simplesmente, a consequência do caminho que fazemos rumo a uma paz interior.

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Será Sorte ou Azar?