by Raquel Dominguez

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Quando a vida te dá voltas

“Tens mediunidade Raquel, sabias?” - Foi assim que o Paulo dos búzios me disse recentemente qual era, afinal, o meu caminho.

Mas eu não sabia. E também não estava preparada para saber…

É verdade que eu sempre tive medo do escuro e que, por vezes, dormia de luz acesa.

É verdade que consigo sentir, à noite, quando não estou “sozinha” numa casa ou noutro espaço qualquer.

É verdade que já me tinham dito aqui e ali, noutras consultas que faço com este tipo de terapeutas, que sou uma pessoa extremamente “sensitiva” e que não era bem o Feng Shui aquilo que eu iria fazer.

Também é verdade que sempre tive, desde muito nova, uma atração por cartas de tarot e que de vez em quando pegava nelas, para no momento a seguir as largar, chateada com o facto de me estar sempre a sair “O Eremita”.

Mas daí até me dizerem isso e que é com a espiritualidade que eu tenho de trabalhar vai alguma distância…

“Quando estiveres no teu caminho todas as outras portas se vão abrir”

Foi isto o que o Paulo também me disse na primeira consulta que fiz com ele há quase dez anos atrás. A diferença é que, naquela altura, eu ainda estava longe de saber qual era o “meu caminho”.

Trabalhar com pessoas era algo que nem sequer me passava pela cabeça, quanto mais fazê-lo através da espiritualidade. A verdade é que sempre fui, e continuo a ser, uma pessoa extremamente racional, o que me levou sempre a acreditar que de “intuitiva” eu não tinha nada.

Mas quando a vida tem planos para ti, não há nada que possas fazer para fugir deles. Mais cedo ou mais tarde eles acabarão por vir ter contigo, quer estejas preparada quer não.

Foi o que me aconteceu quando decidi tirar o curso de Feng Shui.

Vai e confia

Como boa “racional” que sou, assim que comecei a aprender Feng Shui abracei logo a parte mais “mental” do mesmo (o Feng Shui Clássico), deixando para segundo plano toda e qualquer forma de Feng Shui Intuitivo.

Apesar do fascínio que até tinha por este método – e por todas as pessoas extremamente intuitivas e até mediúnicas que fui conhecendo ao longo do curso –, eu continuava a achar que as minhas capacidades nesse campo eram bastante limitadas (principalmente quando me comparava com essas mesmas pessoas).

Até que um dia fui posta à prova.

Lembro-me perfeitamente como se fosse hoje. Estava no carro com a minha colega Mónica a caminho da Feira Zen na Ericeira, pedindo-lhe fervorosamente que fizéssemos todas as consultas de Feng Shui Simbólico em conjunto, pois eu não conseguia ver absolutamente nada nas plantas que as pessoas desenhavam.

Nessa feira nós estávamos ao serviço da Escola Nacional de Feng Shui, a dar consultas por donativo a quem estivesse interessado. Nessas “mini-consultas” as pessoas desenhavam a planta da sua casa e de seguida nós líamos o seu desenho, tentando perceber o que o seu inconsciente nos estava a tentar dizer.

Para quem gostava de praticar Feng Shui usando uma bússola cheia de caracteres chineses como eu, olhar para um desenho e tirar informações dali era algo que estava completamente fora da minha zona de conforto.

Mas enquanto eu fui fazendo isso com a ajuda da Mónica a coisa lá foi andando. O problema foi quando me vi obrigada a fazê-lo sozinha porque a Mónica já estava ocupada a atender outra pessoa.

Fiquei em pânico, como deves imaginar!

Então e agora como é que eu ia fazer isto? E se eu não conseguisse ver nada? E se eu estivesse a ver tudo errado? Estava tramada!

Pensava eu.

Assim que começas nunca mais voltas atrás

O difícil é começar. É como se costuma dizer. E é bem verdade.

Não há nada como seres atirada aos leões para perceberes que até és capaz de correr. E bem!

Quando as coisas estão lá, estão lá. Não há hipótese. Elas acabarão por vir ao de cima quando menos esperares e quanto menos tempo tiveres para pensar nelas.

Foi precisamente o que me aconteceu.

De repente, comecei a dizer coisas. E quanto mais coisas dizia, mais informação me vinha. E quanto mais informação me vinha, mais sentido tudo me fazia.

Estava dado o clique e já não havia mais forma de voltar atrás. Agora só me restava continuar.

Foi o que eu fiz.

O segredo está no equilíbrio

À medida que ia fazendo mais consultas de Feng Shui – agora com o Feng Shui Intuitivo incluído – ia tendo, também, uma melhor noção daquilo que eu era capaz de fazer e, principalmente, daquilo que eu realmente gostava mais de fazer: trabalhar com pessoas, utilizando a minha intuição.

Incrível, não é?

Como é que uma pessoa que se achava tão racional começa a trabalhar de forma tão intuitiva?

Eu digo-te.

Porque uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Ser racional não é incompatível com ser intuitivo. Ser racional é apenas a outra face da mesma moeda. E por isso tu não precisas escolher qual delas é que queres “ser”.

Todos nós somos seres racionais e intuitivos. Não somos seres racionais ou intuitivos. E para mim o equilíbrio está precisamente aqui. Em saber usar os dois no momento certo e não em escolher um, desdenhando o outro. Até porque um não é melhor do que o outro. Um é apenas o oposto do outro.

E ponto final.

Os sinais estão sempre lá. Nós é que fazemos de conta que não os estamos a ver.

Lembro-me bem de um dia estar no Porto a dar consultas de Feng Shui Intuitivo em conjunto com uma amiga numeróloga e de repente virar-me para a pessoa que tinha à minha frente e perguntar-lhe:

 - Tu és médium, não és?

- Sou, respondeu-me ela.

- Como é que sabes isso? – perguntou-me a minha amiga – Estás a ver na planta?

Não, não estava a ver na planta. E também não sei como é que o sabia. Eu só sei que o sabia.

As evidências começavam a estar lá. E eu apercebia-me disso. Eu apenas lhe dava outro nome. Chamava-lhe “intuição”.

Achava que era normal o que conseguia fazer e que qualquer pessoa era capaz de o fazer (e ainda acho). Afinal de contas, eu não vejo espíritos e nem falo com espíritos. Eu apenas sei algumas coisas quando estou em consulta com as pessoas.

A informação é te dada de uma forma tão normal e natural que até parece que és tu que a estás a ter.

Mas não é.

Quantas vezes precisas de bater com a cabeça nas paredes?

A vida tem, de facto, uma capacidade incrível de te empurrar para aquilo que é suposto fazeres, se estiveres disposta a ver “os sinais”. O problema é que ela costuma fazê-lo de uma forma muito pouco simpática.

Puxa-te aqui um tapete. Puxa-te ali outro. Não deixa que certas coisas na tua vida se desenrolem como gostarias. Enfim, é preciso bater com a cabeça nas paredes muitas vezes – e cada vez com mais força – para perceberes, de uma vez por todas, aquilo que ela te está a tentar dizer.

E, ao que parecia, chamar Feng Shui àquilo que eu fazia não era bem o que eu estava a fazer, nem “o caminho” que era suposto seguir.

Se nunca tentares, nunca saberás.

Ter respostas é muito bom. É aliviante. É libertador.

Dizerem-te o porquê de as coisas estarem como estão e o que deves fazer para as mudar é deveras tranquilizante.

Contudo, por mais que estes terapeutas te queiram ajudar, há sempre uma coisa que a maior parte deles não te consegue dizer:

Como é que vais fazer esse caminho. Porque isso és tu que tens de descobrir.

Confesso que fiquei perdida durante algum tempo. Mas eu sabia que ninguém me podia ajudar. Só eu é que sei quem sou, como sou, o que gosto de fazer e como gosto de o fazer. A partir daí é uma questão de tentar. De experimentar. Não há fórmulas certas. Cada um encontra a sua. E é assim que é suposto ser.

Eu decidi começar por aqui, mas sabe-se lá por onde a vida me vai levar. O importante mesmo é manter-me flexível e deixar-me navegar.