by Raquel Dominguez

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A minha viagem à Índia e a grande lição que aprendi com ela

Faz este Verão sete anos que fui à Índia sozinha, de mochila às costas, durante três longas semanas. Se eu soubesse o que sei hoje, nunca teria ido…

A Índia é daqueles países que desperta curiosidade em muita gente.

Seja porque se gosta de viajar para países exóticos e de explorar culturas diferentes; porque se deseja conhecer um dos ícones mais famosos do mundo (o Taj Mahal); porque se é praticante de yoga, meditação ou fotografia “à séria”; ou porque se está ligado, de alguma forma, à espiritualidade, a verdade é que a Índia costuma vir na bucket list de muitos amantes de viagens.

Precisamente o meu caso.

Há muito tempo que eu já tinha perdido algum interesse em conhecer praias paradisíacas e cidades megalómanas. Não que elas tivessem deixado de estar na minha lista de lugares a visitar. Nada disso. A questão é que eu agora queria viajar de uma forma um pouco diferente do habitual. Com mais sentido. Não apenas para pôr mais um pin no meu mapa mundo pessoal.

E a Índia parecia-me o sítio ideal para começar.

A vontade já a tinha. A curiosidade também. Mas assim que terminei de ler o famoso livro “Comer, Orar, Amar”, a coisa tornou-se ainda mais séria…

Toda a gente sabe que viajar faz bem à alma. E a minha estava bem vazia naquela altura. A ideia de viajar sozinha para um país completamente diferente do meu parecia-me, por isso, perfeita; precisamente aquilo que eu precisava para me encontrar, bem como a felicidade e o sentido da vida que eu desesperadamente precisava encontrar.

De tanto se perder, uma hora a gente acerta o caminho – Autor desconhecido

Conhecer o mundo através das extraordinárias fotos que outras pessoas tiram faz-nos ter, muitas vezes, ideias romantizadas sobre alguns lugares. Ouvir as suas fascinantes histórias também.

E apesar de isso até despertar em nós a vontade de sair do nosso pequeno casulo (o que é bom), também nos dá, ao mesmo tempo, um grande problema:

O de criarmos expetativas irrealistas sobre o que vamos encontrar e/ou experienciar.

Precisamente o meu caso.

A verdade é que a minha vontade de viajar para a Índia fazia parte de uma das ilusões mais antigas que o ser humano carrega consigo – a de que é preciso sair de onde estamos para encontrarmos aquilo que procuramos.

Porém, as coisas não são bem assim.

Achar que precisamos de viajar até ao Tibete para sabermos o que é o verdadeiro sentido da espiritualidade, ou de ir até à Igreja para podermos estar com Deus, é das maiores falácias que a humanidade escolheu acreditar.

Mas tal como esta história nos ensina, não é preciso ir a lado nenhum para encontrarmos o que mais desejamos, pois tudo o que precisamos já se encontra dentro de nós.

A única coisa que temos de aprender, então, é saber como aceder a isso.

Até porque, tal como nos diz uma famosa frase, o único Zen que encontrarás no topo da montanha é o Zen que levas contigo.

Não, não é a quietude da montanha que te vai iluminar. São os teus próprios pensamentos. E esses tu poderás resgatá-los em qualquer lugar. Em qualquer altura. De qualquer maneira.

Com isto não estou a tirar a importância de se viajar. Até porque viajar torna-nos mais ricos. Abre-nos os horizontes. Se assim o permitirmos.

Mas para que a viagem nos possa dar o melhor que ela tem para nos dar, ela tem de ser feita sem qualquer tipo de objetivo ou expectativa. Sem nenhuma ideia pré-romantizada. Caso contrário, ela poderá sair-nos furada.

Que foi o que aconteceu comigo.

Contudo, nem tudo foi mau.

Para te dizer a verdade, a minha viagem à Índia “iluminou-me” sim. Mas não da maneira como eu pensava que ia acontecer.

Não foi lá que eu tive o meu momento de iluminação. Foi cá. No conforto da minha casa e do meu país.

Foi só quando cheguei a Portugal que percebi que não era preciso sair de onde estava para encontrar as respostas que precisava.

Mas às vezes é preciso sair de onde estamos para dar valor ao que temos. E isso eu aprendi-o bem.

O problema é que foram precisas três longas semanas a viajar num dos países mais desafiantes que eu já conheci, e a viver uma das histórias mais difíceis e marcantes que eu já vivi, para aprender essa valiosa lição.

Eu posso não ter ido aonde pretendia ir, mas acho que acabei onde precisava estar – Douglas Adams

A professora de Yoga sabia bem do que estava a falar quando me deu os seus preciosos conselhos no final da aula, depois de eu lhe ter perguntado o que ela achava sobre o facto de eu ir à Índia sozinha.

“Tens de fazer um reset à tua cabeça em relação a tudo o que já viste, conheces e acreditas. Aquilo que vais encontrar lá não é o que estás à espera, nem aquilo que alguma vez tenhas visto.”

Eu bem que tentei. Juro que tentei. Mas as malditas expetativas já se tinham apoderado de mim e eu não sabia como eliminá-las.

Ela também me disse que achava melhor eu não ir sozinha. Não porque achasse que fosse perigoso, mas porque a Índia oferecia demasiados estímulos para uma pessoa conseguir assimilar tudo sozinha.

Como ela tinha razão…

De qualquer forma, a minha decisão já estava tomada e eu não queria voltar atrás. Para além disso, eu achava que se tanta gente fazia esta viagem e até voltava para mais, então alguma coisa de bom eu iria conseguir tirar disto tudo.

Só que aquilo que eu não sabia na altura, é que são mais as pessoas (ditas) “espirituais” que foram à Índia e não gostaram do que aquilo que eu pensava.

Eu apenas fui mais uma delas…

O diário da minha viagem à Índia

Há pouco tempo li um artigo na internet que explicava porque é que algumas pessoas costumam falar alto sozinhas (sim, eu também sou uma delas…). A dada altura, o texto dizia o seguinte:

“Os sentimentos surgem dos estímulos externos, que são responsáveis por fazer o individuo aceder ao seu conteúdo emocional. Durante um dia, milhares de estímulos despertam emoções diferentes, e não há espaço suficiente para armazenar tantas coisas dentro de um único ser humano. Por isso, verbalizar é uma ótima forma de exteriorizar algumas emoções.”

Pois é. Verbalizar é, de facto, uma excelente forma que o ser humano tem de exteriorizar as suas emoções. Mas infelizmente eu não quis levar ninguém comigo para poder partilhar todas as coisas que a Índia me estava a fazer ver, ouvir, cheirar e sentir.

A minha sanidade emocional só foi salva porque eu me “colei” a todos os turistas que encontrei ao longo do caminho e, sobretudo, porque levei um caderno comigo que utilizei como diário da minha viagem – o único sítio onde eu verdadeiramente depositava tudo o que sentia. A única forma que eu arranjei para exteriorizar as minhas emoções.

É esse mesmo diário que eu tomei coragem para partilhar contigo durante as próximas semanas…

Clica aqui para o poderes ler.


Nota: A partilha do meu diário não tem como objetivo influenciar negativamente a forma como se vê a Índia. Esta é apenas a minha história. Não é a de toda a gente. Assim, nos próximos artigos irei mostrar, em conjunto com os meus textos, as melhores fotografias que tirei durante a viagem; aquelas que, para mim, mostram a Índia como estamos habituados a ver: um país exótico e diferente, que desperta curiosidade e vontade de se conhecer.