Como viver de forma minimalista
Viver de forma minimalista não é fácil. Eu também o sei bem…
Muito rapidamente acumulamos coisas. Muito rapidamente precisamos de coisas. Muito rapidamente nos dão coisas. E muito dificilmente as conseguimos deitar fora.
No que diz respeito à decoração, até podemos não gostar muito da ideia de viver sob o lema less is more. Mas que há coisas que nos ajudam a ter mais paz de espírito – e menos pó para limpar – há. E uma delas é ter uma casa que só contém o essencial.
O problema é saber o que significa para nós ter o essencial.
Se não usas é porque não precisas
Lembro-me de uma vez ter precisado de espaço em casa para guardar os meus livros e dossiers da faculdade, mas as prateleiras do escritório estavam todas cheias.
Sim, eu sei o que estás a pensar. Deitar livros fora é das coisas mais difíceis de se fazer. Eu também sofro desse mal.
Mas ocupar uma prateleira inteirinha com a Enciclopédia Larousse não me pareceu nada bem naquela altura em que eu mais precisava de arrumação.
Quem é que ainda hoje recorre a livros para pesquisar palavras em português ou conteúdos de cultura geral?
Eu pelo menos não. E a minha mãe também não. Por isso aquela enciclopédia já não fazia sentido estar ali.
Enquanto não foi preciso arranjar espaço, a famosa enciclopédia francesa de capa vermelha foi-se mantendo no escritório a ganhar pó. Ninguém lhe tocava. Ninguém precisava dela. Ninguém dava por ela.
Mas quando novos livros entraram em casa, a história passou a ser outra…
Quando se trata de viver de forma minimalista, é importante conseguirmos distinguir o que ainda faz sentido manter e o que já não faz.
Nós vamos mudando ao longo da vida. Os nossos gostos mudam. A nossa forma de estar na vida muda. A nossa própria vida também muda. Então, não seria lógico a casa também mudar?
Mas não é isso o que costuma acontecer.
Normalmente o que costuma acontecer é o seguinte: mudamos algumas coisas em casa, mantendo aquilo que já temos. Dito por outras palavras, compramos o novo e guardamos o velho, ou seja, acumulamos.
Fazemos precisamente o oposto daquilo que está escrito no título deste artigo.
Mas para quê manter o que já não se usa?
Para quê manter o que se sabe que nunca mais se vai usar?
Para quê ocupar espaço com coisas que não precisamos, se esse espaço nos está a fazer falta para guardarmos outras coisas que neste momento estamos a precisar mais?
Pois, para mim, ter o essencial é isso mesmo. É ter em casa aquilo que estamos a usar agora.
Quantos precisas?
Vai à tua gaveta dos talheres. Quantos garfos, facas e colheres contas? E quantas pessoas costumam comer em casa?
Agora vai ao armário das panelas e das frigideiras. Quantas tens? E dás uso a todas elas ou estás sempre a usar as mesmas?
A cozinha é talvez dos espaços da casa onde mais acumulamos utensílios que têm o mesmo uso.
Vários pratos. Várias canecas. Várias tigelas. Vários copos. Vários tipos de copos. E a lista continua…
Claro que de vez em quando precisamos de mais pratos ou de uma panela maior do que o habitual para as ocasiões em que recebemos visitas em casa. Mas se esta é a justificação que dás para teres várias quantidades do mesmo objeto, repara como na maioria das vezes o que acaba por acontecer é o seguinte:
Só muito de vez em quando é que tu fazes grandes festas em casa.
O número máximo de pessoas que tens por hábito convidar conta-se pelos dedos de uma mão (e pelos pratos que já tens).
Quando te apercebes que te falta algo para dias como esses, acabas sempre por encontrar uma outra solução. Com sorte, até os convidados te levam coisas! (Toda a gente gosta de ajudar.)
Como vês, raras são as vezes em que precisamos de ter muitas quantidades da mesma coisa.
A casa deve ser pensada para o dia-a-dia e para as pessoas que nela habitam. Não para os eventos esporádicos que acontecem com pessoas que só lá vão de vez em quando.
Mais espaço significa mais coisas
Quando a minha mãe fez obras na cozinha, o espaço que tinha para arrumação mudou drasticamente. De repente este passou para quase metade.
(Pois é, ter uma cozinha moderna e minimalista dá nisso. Mas vale a pena!)
Chegada a altura de decidir o que ficava e o que ia, uma das nossas conversas foi mais ou menos assim:
- Mãe, para quê que queres tantas chávenas de café? (Havia mais do que um serviço.)
- Então, para quando vier cá alguém!
- Quem? Tu nunca convidas cá ninguém a casa! (A minha mãe não gosta de ter trabalho.)
- Sei lá, os teus avós, por exemplo!
- Os avós?! A sério?! Isso nem sequer acontece uma vez por ano! (Os almoços de família costumam ser sempre em casa da minha avó.)
- Hum, está bem, pronto…. Ficamos só com estes…
Normalmente a razão que nos leva a ter mais coisas em casa é o espaço que temos.
Se fores a ver bem, quando vives num T0 és praticamente obrigada a ter apenas o essencial. Mas basta mudares-te para um T1, e a quantidade de coisas que passas a ter muda logo. E não é porque tens um quarto a mais. É porque tens mais espaço para enfiar coisas!
E quando a casa nos dá mais espaço…
Bom, nós aproveitamos, certo?
Mas agora experimenta fazer o contrário. Passar de um T1 para um T0. O que é que acontece? De repente transformas-te numa autêntica profissional a selecionar o que vai e o que fica. O que só demonstra que ter o essencial é uma questão de perspectiva.
Mais coisas não significa melhor qualidade de vida
Ao escrever este artigo comecei a pensar se nós não devemos ter algum tipo de fobia em ver espaços vazios em casa. Sobretudo no que diz respeito aos armários.
Provavelmente isso despoleta em nós algum tipo de instinto de sobrevivência, por se achar que alguma coisa está em falta. Há uma parte da nossa mente inconsciente que deve achar que se está vazio é porque nos falta. E nós não gostamos de sentir isso.
Mas é preciso contrariar esse sentimento. Até porque não faz sentido nenhum ter coisas só por ter. Só porque um belo dia podemos precisar delas. Só porque um belo dia já precisámos delas.
Aprendermos a saber viver com o essencial é, na sua essência, uma boa lição de vida. Se conseguirmos fazer isso, tenho a certeza que deixaremos de sentir aquela sensação de que nos falta sempre alguma coisa. Seja em relação à casa ou a qualquer outra área da nossa vida.
E repara que eu não estou a dizer que viver de forma minimalista signifique, necessariamente, viver com pouco. Na verdade, até é curioso constatar que as pessoas que vivem assim são, na sua maioria, aquelas que mais dinheiro têm.
Para mim, viver de forma minimalista significa, tão simplesmente, viver com aquilo que se precisa de momento.
E eu acho isso tão libertador…