Diz-me como é a tua casa e dir-te-ei quem és
No princípio deste Verão fui fazer uma consulta de Feng Shui Clássico e Intuitivo a casa de uma cliente.
Bela (nome fictício) chamou-me porque precisava de encontrar equilíbrio pessoal e emocional.
Uma das razões que lhe provocava uma constante angústia era o seu trabalho, o qual já não lhe dava qualquer tipo de satisfação devido ao mau ambiente que existia no mesmo.
A sua tristeza e ansiedade também tinham disparado desde que a sua mãe se havia mudado recentemente para viver com eles após o falecimento do seu pai. A família andava, por isso, à procura de uma nova casa, pois aquela onde se encontravam já não servia para todos.
Apesar de Bela aparentar ter uma vida que muitos considerariam “perfeita” – uma vez que tinha uma família, um trabalho estável, dinheiro e casa própria – a verdade é que ela era uma pessoa profundamente infeliz.
Durante a minha observação atenta à casa, e ao mesmo tempo que trocava algumas palavras com a cliente, reparei logo em várias situações que me mostravam quem realmente era Bela e porque é que a sua vida estava assim.
A casa é um reflexo de quem somos
Em primeiro lugar, Bela tinha uma casa que eu costumo descrever como estando “mobilada” em vez de “decorada”.
Por “decorada” eu refiro-me a uma casa onde eu consigo perceber, só de olhar para ela, alguns gostos ou traços de personalidade da pessoa que nela habita.
Por exemplo, imagina que entras numa casa que está decorada com alguns objetos tradicionalmente portugueses, outros de estilo vintage e ainda uns quantos que vieram da casa de uma querida avó. Será que me conseguirias falar um pouco da pessoa que nela habita? Provavelmente até conseguirias ir mais longe e imaginar como se veste.
Pois bem, no caso da Bela, não era possível fazer isso. Precisamente porque duas das questões que ela tem para trabalhar são o sentido de identidade e a dificuldade em se expressar.
E isso estava claramente refletido na casa.
Quando uma pessoa sabe bem o que quer e o que não quer, e o que gosta e o que não gosta, ela expressa isso.
Quando uma pessoa sabe o que vale – pelo menos no que diz respeito a alguma área da sua vida – ela mostra-se ao mundo tal como é.
Sem qualquer tipo de vergonha ou medo de o fazer.
E quando essa pessoa sabe bem “quem é” (o seu sentido de identidade) e gosta de quem é, ela expressa isso naturalmente através da forma como comunica, como se veste ou até como decora a casa.
Mas Bela, infelizmente, não conseguia expressar-se. E isso via-se não só na falta de expressão que a casa tinha, mas também na forma quase inaudível como falava. O que explicava, até certo ponto, alguns dos problemas com que se deparava no trabalho.
Para além da falta de expressão, a casa também transmitia alguma falta de aconchego. O que é normal. Pois quando uma pessoa não consegue reconfortar-se a si própria, também não consegue passar essa sensação para a sua casa. E quando se tem alguma dificuldade em lidar com as emoções ou com o seu lado mais sensível e vulnerável – preferindo utilizar “apenas” o lado mais racional – a casa também acaba por transmitir isso, nomeadamente através de uma decoração mais “fria” e impessoal.
Outra situação que me apercebi ainda no início da consulta foi que Bela continuava a perpetuar as suas questões de “falta de identidade” e de não saber que caminho tomar em relação ao seu trabalho. Isto porque Bela dava pouco uso ao Sector 1 da sua casa. Mais concretamente, à sua cozinha e ao facto de não cozinhar.
Para quem já está familiarizado de alguma forma com o Feng Shui sabe que o Sector 1 do Bagua corresponde à área do Caminho de Vida.
Contudo, ele não simboliza só isso.
Por ser o sector que representa o Inverno, o frio, a noite e o Elemento Água, o Sector 1 também está associado aos nossos Medos, às nossas Emoções, e ao nosso Sentido de Identidade (pois se eu sei quem sou, também sei para onde quero ir). Ou seja, tudo aquilo com que Bela não queria lidar. Daí utilizar pouco a cozinha…
Depois, ao fazer os cálculos de Feng Shui Clássico, deparei-me com mais uma situação que também espelhava e perpetuava aquilo que já se passava há muito tempo no interior de Bela.
Nós atraímos as casas cujas energias ressoam com a nossa
Quando falamos em “energias” há uma lei muito importante que todos devemos ter em conta, e que diz, muito claramente, os semelhantes atraem-se.
No fundo, o que esta lei quer dizer é que se algo ou alguém tem uma energia X, então irá atrair algo ou alguém com a energia X, e nunca algo ou alguém que tenha uma energia Y.
É por isso que as pessoas com quem mais nos identificamos e gostamos de estar são aquelas que, até certo ponto, são parecidas connosco. Lá diz o ditado e bem, “Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és.”
E é também por isso que todos nós somos atraídos (de forma inconsciente) por casas cuja energia é semelhante à nossa.
Como?
Por exemplo: imaginemos que eu sempre tive problemas com o dinheiro devido às crenças limitadoras (conscientes e inconscientes) que tenho acerca dele. Num caso assim, seria muito normal eu atrair uma casa que, aos olhos do Feng Shui Clássico, não me irá trazer prosperidade. Pois se uma das crenças que tenho é a de que o dinheiro não dá para tudo, então o mais provável é que eu acabe por escolher viver numa casa cuja energia me irá continuamente trazer gastos financeiros, perpetuando assim a minha crença limitadora e fazendo-me acreditar cada vez mais nela.
Se formos a ver bem, aquilo que estou a falar aqui é da já tão conhecida Lei da Atração. Aquela que nos diz que nós atraímos, não aquilo que queremos, mas aquilo em que (inconscientemente) acreditamos.
No caso de Bela, o que aquela casa estava a espelhar e a perpetuar era toda a instabilidade emocional que a mesma sentia dentro de si, acabando isso por se refletir na sua vida (ora estava tudo a correr bem, ora estava tudo a correr mal).
O problema é que Bela nem sequer conseguia ver quando é que “tudo estava a correr bem”, uma vez que tinha a tendência para se focar nos aspetos negativos da vida. E, ao fazer isso, era inevitável que se sentisse constantemente triste, o que agravava o seu sentimento de instabilidade emocional.
Com isso acabava por atrair mais do mesmo, o que por sua vez dava mais força à forma como já se sentia.
O círculo vicioso estava, assim, criado.
Muda-te a ti primeiro e o resto virá
Quando este tipo de situações acontece (e acontece com toda a gente), é muito importante percebermos que enquanto não mudarmos a nossa forma de pensar e de ver as coisas dificilmente conseguiremos sair deste círculo vicioso.
É por isso que eu estou sempre a dizer aos meus clientes para não “fugirem” de uma casa “má” sem antes resolverem dentro de si algumas das suas crenças limitadoras. Caso contrário irão atrair outra casa igual (ou pior), precisamente porque a “sua energia” (isto é, a sua forma de ser e de pensar) ainda não mudou!
Assim, se eu quero atrair uma casa que me traga prosperidade, então primeiro eu tenho que me sentir próspera. Não há outra forma! Esta é a lei, tal como expliquei no primeiro parágrafo.
Claro que Bela não ficou muito convencida com este meu conselho. Afinal de contas, quem é que quer ficar numa casa que já sabe que traz instabilidade? Contudo, não nos podemos esquecer que quem escolheu a casa foi Bela – uma casa cuja energia se assemelhava à sua – logo, seria normal que a escolha da próxima casa refletisse o mesmo.
E foi isso mesmo o que acabou por acontecer…
Quando Bela me mostrou a planta da casa nova na qual já andava de olho há algum tempo eu torci logo o nariz. Mas foi só no dia em que a analisei pessoalmente que constatei aquilo que eu já estava à espera.
Ela tinha, precisamente, a mesma energia de instabilidade que a sua casa atual. Mas aqui o caso ainda era pior! E isso acabou por ficar confirmado na história que conseguimos inferir daquilo que os agentes imobiliários nos contaram sobre a razão que levou os anteriores habitantes a vender aquela casa.
Ao que parece a vida deu uma reviravolta de tal maneira inesperada, que eles se viram obrigados a mudarem de casa para uma outra bem mais pequena.
O bom disto tudo é que o meu conselho inicial de “primeiro trabalhas em ti e na tua casa atual, e só depois é que vais à procura de uma nova casa” acabou por ser levado à letra. O que levou a que Bela se empenhasse nos tpc’s e recomendações que lhe dei.
E apesar de isso ser só o princípio para a sua mudança interior, a verdade é que já se nota uma diferença quer na sua casa, quer na forma como se sente.