A Mula

Um antigo conto diz-nos que vinham pela estrada um miúdo, o seu pai, o seu avô e uma mula. Compadecidos com o animal, que sofreria ao carregar todos sob um sol tão forte, os dois homens e o menino caminhavam à sua frente com os arreios em punho.

Ao passarem por uma vila escutaram os desocupados a rir:

- Que estúpidos! Com uma mula forte como essa caminham neste sol!

Decidiram que se Deus faz sempre o certo e se o quadrúpede nascera mula, então deveria carregar o que lhe pusessem no lombo. Subiram todos para cima do pobre bicho e seguiram viagem.

Algum tempo depois passaram por outra vila e novamente atentaram-se aos palpites dos espectadores:

- É muito abuso! Um sol forte como este e vão todos em cima do burro!

Com a culpa a pesar ainda mais sobre o animal, decidiram que dois deles deveriam descer, ficando apenas um sobre as costas do carregador. O pai achou por certo que fosse o mais velho para que este pudesse descansar e assim foi feito.

Até que passaram por outra vila:

- Que horror! Um menino dessa idade a caminhar sob este sol, enquanto que um velho ainda forte como esse passeia em cima da mula!

Olharam-se e decidiram por o garoto sobre a mula, indo o pai e o avô a caminhar.

Aproximaram-se de outra vila e novos comentários foram feitos:

- Onde é que já se viu? Em vez de ensinarem o garoto desde cedo as coisas certas da vida deixam-no nessa moleza!

O miúdo voltou então para a caminhada juntamente com o seu avô, tendo o pai subido para a mula.

Até que chegaram a outra vila:

- Mas era o que faltava! Colocar um velho e um menino a conduzir a sua montaria! Tenha vergonha na cara!

Não conheço a chave do êxito, mas sei que a chave do fracasso é tentar agradar a toda a gente.

- Woody Allen

O que aprendi com esta história?

Há uma frase da modelo e bailarina Dita Von Teese que diz “Tu podes ser o pêssego mais maduro e suculento do mundo e mesmo assim haverá sempre alguém que odeia pêssegos”. Apesar da frase não ter muito a ver com esta história, lembrei-me dela porque consigo relacioná-la com a moral que se está a tentar passar aqui:

Não interessa quem sejas, não interessa o que faças, irás sempre ser julgada ou criticada de alguma maneira.

Já sabemos: tentar agradar a toda a gente é meio caminho andado para perdermos a nossa identidade e não chegarmos a lado nenhum. Anulamo-nos, adaptamo-nos, mudamos e no final, se for preciso, continuamos a ser criticados. Não há volta a dar. Agradar a toda a gente é, simplesmente, impossível!

E, francamente, também não é suposto.

É verdade que não é fácil ouvir opiniões alheias que servem mais para destruir do que para construir. Ninguém é de ferro. No entanto, é certo e sabido que isso irá sempre acontecer. O truque? Não levarmos para o campo pessoal. Há pessoas que irão sempre criticar tudo e todos.

A vida é assim.

Tenho uma amiga que costuma dizer “pessoas felizes não chateiam ninguém”. É verdade. Criticas destrutivas costumam vir quase sempre de pessoas que não estão bem resolvidas, de alguma maneira, com alguma questão da sua vida. Mesmo que não tenham consciência disso.

O mal-estar precisa sempre de ser expelido do nosso corpo. Seja de que maneira for. E a critica será sempre uma das formas mais fáceis e rápidas que qualquer pessoa irá utilizar para o fazer.

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