O Lenhador e a Raposa

Havia um lenhador que acordava todos os dias às 6 da manhã para cortar lenha durante o dia todo, só parando ao final da tarde quando já era quase noite.

O lenhador tinha um filho muito bonito de poucos meses e uma raposa, sua amiga, tratada como um animal de estimação e da sua total confiança.

Todos os dias o lenhador ia trabalhar e deixava a raposa a cuidar do seu filho. Todas as noites ao regressar do trabalho a raposa ficava feliz com a sua chegada.

Os vizinhos do lenhador alertavam o homem de que a raposa era um bicho, um animal selvagem e, portando, não era de confiança. Quando ela sentisse fome iria comer a criança.

O lenhador respondia sempre aos seus vizinhos que eles estavam enganados. A raposa era sua amiga e jamais iria fazer isso. Mas os vizinhos insistiam: “Lenhador, abra os olhos! A raposa vai comer o seu filho!”; “Quando sentir fome, ela irá comer o seu filho!"

Um dia o lenhador, já muito exausto do trabalho e cansado de ouvir todos esses comentários, chegou a casa e viu a raposa a sorrir, como sempre, com a boca cheia de sangue. O lenhador começou a transpirar e, sem pensar duas vezes, atirou o machado, acertando-o na cabeça da raposa. Ao entrar no quarto desesperado, encontrou o seu filho no berço a dormir tranquilamente. Ao lado do berço estava uma cobra morta.

O lenhador enterrou o machado e a raposa juntos.

Se escute.
Ouça a sua intuição.
Ouça as suas palavras.
Ouça o seu coração.
Mas não deixe de se escutar.
Quando o que vem de dentro fala mais alto,
O que vem de fora perde a sua voz.

- Amanda Lantiê

 

Reflexões

É verdade que, em certas situações, aqueles que estão de fora conseguem ver melhor aquilo que nós não estamos a conseguir ver. Acontece muitas vezes com os nossos relacionamentos, sejam eles amorosos, de amizade ou de trabalho. Por vezes estamos estão encantados com alguém, que não conseguimos ver aquilo que é óbvio para as pessoas que não estão emocionalmente envolvidas com a situação.

Contudo, há outras situações em que o inverso também acontece, tal como nos conta esta história. Estar por dentro da situação também nos dá um ponto de vista que outros nunca conseguirão ver, mas que nós conseguimos sentir.

Então como podemos saber a diferença entre as situações em que é sensato dar ouvidos àqueles que estão de fora ou à vozinha que fala connosco dentro de nós?

Há uma frase que gosto muito que diz mais ou menos isto: “A alma sabe sempre o que fazer. O desafio é silenciar a mente para conseguir ouvi-la.”

Eu acredito nisso.

Tenho chegado cada vez mais à conclusão de que, independentemente da situação em que nos encontramos, nós sabemos sempre, bem lá no fundo, o que devemos fazer. Mesmo quando o deslumbramento nos tenta dizer o contrário. No fundo, no fundo, nós até somos capazes de ver aquilo que as outras pessoas também estão a ver. Mas preferimos não o ver.

Porquê?

Porque dói. Porque nos obriga a tomar decisões que não queremos tomar. Porque uma dessas decisões pode implicar voltarmos novamente ao ponto de partida. E nós não queremos isso.

Os ingleses chamam-lhe de “gut feeling”. Nós chamamos-lhe de intuição. Mas seja qual for a expressão que utilizamos, a verdade é que nós sabemos. Podemos não conseguir vê-lo logo desde o início, mas há sempre uma altura em que sentimos bem cá dentro das nossas “entranhas” se a raposa é mesmo nossa amiga ou se está só a aproveitar-se de nós.

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