Capítulo IV - Jaisalmer

Dia 04 de Agosto de 2012 || 19h00 – Jaisalmer (The Golden City)

A viagem de Bikaner até Jaisalmer foi, mais uma vez, de paisagens áridas. Saímos às 9h30 e chegámos lá para as 16h e qualquer coisa. Desta vez não passámos por nenhuma grande zona de casas. Mas quando isso acontecia, a vista era sempre a mesma: “casas” feitas à beira da estrada, muita terra/lama, lixo, vacas, etc. Apesar de eles ficarem contentes com a chuva, a verdade é que a Índia não tem condições para a receber. Claro que quando chove é com muita intensidade, mas fica logo tudo alagado.

Durante a viagem, para além de ter continuado a ver muitas, muitas vacas (das quais nós temos que nos desviar), camelos a puxar carroças e camiões cheios de gente (tão cheios que se houvesse uma travagem violenta haveria logo uns quantos que seriam cuspidos do camião), vi também “peregrinos”. Já tinha visto ontem, mas hoje havia muitos mais. Quando pergunto o Dimple diz-me que vão para o templo, mas a verdade é que nem ontem nem hoje vi qualquer templo… E o mais estranho é que eu vi, no princípio, uns a caminhar no sentido em que eu ia, e depois vi outros a caminhar no sentido contrário e, portanto, presumi que o templo estivesse no meio. Mas não…

Ainda vi ao longe um edifício que achei que poderia ser o templo, mas o Dimple disse-me que não. Eu acho que ele me disse o que era esse edifício, só que, para variar, eu não percebi. Mas para além disto, o mais estranho ainda foi ver, a partir de uma certa altura, e à beira da estrada, sapatos. Muitos sapatos. Mas mesmo muitos sapatos! Perguntei. Não percebi se ele sabia o que era, se eu é que não lhe consegui perceber, ou se de facto ele também não sabia porque estavam ali os sapatos. Sem pessoas… Sem templo…. Só mesmo os sapatos…

No caminho parámos uma vez a meio da manhã para tomar algo, e eu bebi um iogurte com lassir de manga (acho que é isto). Soube-me bem, mas, não sei se foi isso ou o jantar da noite anterior, ou o pequeno-almoço de hoje, que me levou direitinha à casa-de-banho na paragem seguinte para o almoço. (Aqui já havia sanitas.) E o problema não era só esse. Eu também não me estava a sentir muito bem disposta. E só me apetecia comer torradas, ou algo assim, mas sabia que também não podia comer pouco porque tão cedo não ia comer outra vez. Decidi pela omelete de queijo com tostas. Estava quase no final e ainda não me sentia bem. Pedi uma Coca-Cola (por causa do gás e do açúcar) e voilá, comecei a arrotar e acabei por ficar bem! Quando fui para o carro tomei um anti-diarreico (just in case, pois não quero ter de sair do carro a correr para ir para o meio do nada despejar a minha dor de barriga!).

Antes de chegarmos a Jaisalmer o meu motorista avisou-me: amanhã vou para o forte sozinha (a pé) e não falo com ninguém! Se alguém me perguntar alguma coisa digo que não sei ou não respondo (tipo, de onde és, quantos dias vais ficar, etc). E não vou a mais lado nenhum sem ser ao forte. À tarde ele leva-me ao “camel safari”. Ok!

Chegámos a Jaisalmer e… tenho que dizer que esta seria uma cidade muito bonita se não fossem as típicas peculiaridades que caracterizam a maior parte das “paisagens” da Índia… Isto porque o tipo de construção e cores utilizadas (dentro dos amarelos) são muito bonitas e interessantes, mas claro, não há passeios, não há ruas, não há mais nada sem ser pessoas, vacas, cães abandonados e lama, muita lama.

O hotel onde fiquei tem mais do que um edifício e eu fiquei naquele onde não está o restaurante. Ou seja, para ir jantar ou tomar o pequeno-almoço eu tenho que andar a pé, por uma ruela que não inspira confiança, até ao edifício principal. Não gostei e disse que queria ligar ao meu agente. Eles lá falaram uns com os outros e com o meu motorista e depois disseram-me que esta noite ficava no edifício onde estou e amanhã (depois do “camel safari”) põem-me noutro. Ok. “E como é que eu faço para jantar hoje? É que eu não quero andar sozinha de noite na rua!” Dizem que há um restaurante bom e muito perto onde estou a dormir. Ok.

Entretanto peço para ligar para casa. Não dá. E internet? Estava a sala cheia (de indianos). Dizem ao meu motorista para tentar noutro sítio. Era só de internet. Falaram-lhe noutro. Uma lojinha de cadernos de um senhor que tinha um telefone com um “meter”. Porreiro! Consegui falar com a minha mãe!

Venho-me embora com o Dimple para o hotel, para ele me mostrar o restaurante. Mas, ao chegar, vi um casal de italianos a fumar cá fora. Comecei logo a falar com eles e a perguntar se não se importavam que eu fosse jantar com eles (também iam ao tal restaurante). Tudo bem! Fiquei à conversa com eles e combinámos às 20h irmos jantar.

Dia 12-08-2012 || 23h20 – Jaisalmer

A noite de ontem e o dia de hoje foram muito bons. Isto porque estive com outros turistas. Apesar de que também gostei muito da cidade.

Ontem à noite fui jantar com os italianos. Muito simpáticos, e o restaurante era muito agradável. E quando chegámos ao hotel conhecemos um casal de espanhóis (muito novos). Não havia luz na cidade (já começa a ser hábito em qualquer lado), e por isso ficámos na entrada a falar, e depois no telhado/terraço do hotel. Os espanhóis também são muito simpáticos e estão a fazer a viagem à Índia com eu pensava fazer – com alguns bilhetes de comboio já comprados e o livro da Lonely Planet como guia (toda a gente o tem!). Como eles também iam visitar o forte esta manhã perguntei se podia ir com eles, mas na recepção não me deixaram cancelar o guia. Ainda perguntei se eles queriam vir comigo, mas a rapariga não falava muito bem inglês e por isso não quis ir.

No entanto, a visita ao forte com o guia foi muito boa. Pela primeira vez consegui perceber quase tudo o que ele dizia! A meio da visita, como tínhamos que esperar pelas 11h para ir a uns templos dentro do forte, ele levou-me à sua casa e a sua mulher serviu-nos chá (não me recordo do nome, mas é um chá deles muito bom).

No final da visita (que estava combinada pelo hotel custar 300 rupias) dei-lhe 400 rupias. 100 a mais porque tinha gostado da sua tourNo entanto, e como eu já deveria esperar, ele fez uma cara descontente por eu lhe estar a pagar só aquilo…

Por acaso isto é uma das coisas mais chatas que os indianos têm – estão sempre à espera de mais. Nunca é suficiente. Bolas, nem todo o europeu que viaja é rico! Isto é cansativo.

Quando íamos para o hotel encontrei os espanhóis e aproveitei e fui almoçar com eles num restaurante aconselhado pelo Lonely Planet, claro! Era bom.

Às 15h fui com o Dimple até ao camel safari. Uma hora de caminho.

Quando cheguei ao local já lá estava uma família de franceses e logo a seguir chegou um casal de italianos. Aproveitei e meti logo conversa com todos eles! E depois, claro, lá vinha a pergunta que todos os outros turistas me fazem: porque é que eu estou a viajar sozinha? Sinceramente, já nem eu sei! Só sei que quero voltar para casa o mais depressa possível. Apesar de estar tudo a correr bem, e de haver coisas interessantes para ver, confesso que isto está a ser um pouco difícil para mim. Mais do que eu estava à espera. E estar no “mundo” dos indianos é muito cansativo (por várias razões…).

Os camelos já estavam prontos, mas como íamos ficar no deserto a fazer tempo para ver o pôr-do-sol decidimos esperar um pouco mais no local onde estávamos.

Na verdade, aquilo a que se pode chamar de “deserto” é apenas uma pequena parte do terreno árido de Jaisalmer.

No entanto, o passeio de camelo (de quase uma hora) foi muito agradável (à parte que o meu “condutor” de camelos estava sempre a olhar para mim – um velho com turbante. Estes olhares são de facto muito desconfortáveis…).

No fim, esperámos pelo pôr-do-sol, mas como este estava completamente tapado por nuvens, desistimos e viemos embora. Voltámos para o mesmo sítio onde, juntamente com outros turistas, jantámos enquanto uns indianos dançavam e tocavam música. Depois houve quem ficasse porque ia dormir no deserto sob as estrelas, mas eu já tinha decidido vir para o hotel. E ainda bem que o fiz, pois estava a desesperar para tomar banho e porque aqui descanso melhor.

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