Capítulo VII - Pushkar
Dia 17 de Agosto de 2012 || 18h14 – Pushkar (cidade sagrada)
Cheguei às 17h00 a Pushkar. Para trás, no caminho, ficaram as espanholas Maite e Lola com quem tive o prazer de ainda almoçar com elas.
Pushkar é uma cidade sagrada. Tem um lago onde as pessoas se banham e vêm fazer oferendas. As espanholas tinham dito que lhes chocou imenso esta cidade. Mas também foi a primeira que elas visitaram. Vamos ver como me sinto amanhã.
De momento estou a gostar imenso. Mais uma vez porque estou num sítio rodeado de montanhas, onde o ar é fresco e inspirador. Depois de tudo o que já ficou para trás, estar em locais rodeados pela natureza sabe mesmo muito bem. O hotel onde estou fica num desses sítios, a 10/15 minutos do lago. Tem uma piscina, uma horta, e uma espécie de jardim selvagem onde estou de momento, sentada numa maravilhosa cadeira de baloiço.
É realmente muito engraçado como as coisas são. De facto, não há nada como ver o pior para se apreciar de verdade o que se tem. Ou mesmo apreciar pequenas coisas como este baloiço onde me encontro, com vista para o que o mundo tem de melhor (a natureza), e ouvindo pássaros em vez de ensurdecedoras buzinas.
Dia 18-08-2012 || 21h43 – Pushkar
Hoje andei com o Roberto e a Francesca. Tinha que me colar a alguém! Não consegui ontem à noite, nem hoje de manhã no hotel, por isso à primeira oportunidade – “Do you mind If I walk with you?”.
Foi num dos gahts* que eu os conheci. Antes já tinha saído do hotel sozinha e andados uns 10/15 minutos a pé até onde os encontrei. Já estava assustada, claro! Houve um indiano que me “seguiu” praticamente desde o hotel até ao sítio onde parei a primeira vez – o gaht. E depois é o costume: os olhares, os miúdos a pedirem-te comida, as abordagens, enfim. Eu só queria arranjar companhia o mais rapidamente possível!
E ainda bem que o fiz, pois consegui andar pela pequena cidade quase toda e tirar bastantes e boas fotografias, o que não aconteceria se estivesse sozinha.
Afinal não fiquei chocada como as espanholas. Porque, afinal, tudo isto é mais do mesmo… Acho que é mesmo como diz o ditado: primeiro estranha-se e depois entranha-se. De certa maneira lá acabamos por nos habituar ao caos, à sujidade, ao barulho, etc. O que não deixa de ser cansativo na mesma…
Foi interessante ter chegado a uma cidade sagrada. Pushkar tem um lago (castanho, diga-se) onde todos os dias os indianos se banham e fazem oferendas.
Portanto, uma vez que um turista não é hindu, não faz sentido rezar ao(s) deus(es) deles e fazer oferendas, certo? Errado. É que é isso mesmo o que eles querem. Assim que podem dão-te logo para a mão umas pétalas de rosa que dizem que é para tu atirares ao lago sagrado. Até aqui tudo bem. O problema é que logo a seguir vem um “priest” ajudar-te a fazer a oferenda. Ou seja, rezas com ele e fazes o ritual que ele te pede, e quando dás por isso já tens um prato de oferendas ao teu lado. E porque é que eles querem que um turista que não é da religião deles faça isto? Dinheiro, claro! Portanto, como diria um americano “sacred my a**!”. Ou como diz uma famosa canção: “it’s all about the money…”
Então afinal onde está a espiritualidade? Mas depois, como é um lugar sagrado, não podes tirar fotografias… Enfim, quanto mais vejo e aprendo menos acredito na(s) religião(ões).
À tarde já estávamos os três bem cansados e já não sabíamos aonde ir (já não havia mais nada para ver). Eles foram muito simpáticos e vieram comigo até ao hotel, e amanhã vão para Jaipur.
Entretanto, quando cheguei ao hotel, encontrei a família francesa que tinha conhecido no camel safari! É muito giro quando isto acontece, e eu fico muito contente quando encontro caras “conhecidas”.
Observações:
Eu nem acredito que aqui também se pagam estradas! É que algumas parecem mais caminhos de cabras e outras nem sequer existem!
Tenho visto homens nas ruas de cócoras. Parece que estão a fazer xixi, mas é estranho porque os homens fazem-no de pé. Perguntei ontem à italiana se sabia o que faziam. Disse-me que são muçulmanos e que, para eles, só os animais fazem xixi de pé, daí eles fazerem-no assim…
Desde que saí de Bikaner que todos os hotéis onde vou têm o duche no chão da própria casa-de-banho, ou seja, não há banheira nem nada físico que separe o chuveiro do resto da casa-de-banho. Para além disso, os chuveiros, como não são limpos, deitam água só de alguns buraquinhos (o que torna difícil tirar o champô), e depois alguns ainda disparam para o resto da casa-de-banho. Ontem (em Pushkar), havia um que ia direitinho aos interruptores e à tomada!
Cheguei hoje (dia 19) ao hotel de Jaipur, e é a primeira vez que vejo mulheres a trabalhar num hotel.
*Nota: Os gaths são conjuntos de degraus que terminam num rio, onde as pessoas se banham, fazem oferendas ou cremações. Os mais famosos são os de Varanasi.