Porque fazemos coisas que não gostamos assim tanto de fazer?
Mark Manson, o famoso autor do livro “A Arte Subtil de Dizer que se F*da”, neste vídeo explica porquê.
A verdade é que há uma diferença entre gostarmos realmente de fazer uma coisa e gostarmos da ideia de fazer essa coisa. E o problema é que, muitas vezes, e sem nos darmos conta, escolhemos fazer uma coisa porque achamos que isso vai resolver algo na nossa vida, isto é, preencher uma necessidade nossa.
Como?
Mark dá-nos um exemplo.
Houve uma altura da sua vida, antes de ser escritor, que ele queria ser surfista. Até que percebeu que o que ele queria mesmo era ser um tipo cool e atlético - quase como um “sexy vagabundo da praia” (segundo as suas próprias palavras) - e pensou que ao tornar-se surfista conseguiria preencher esse vazio.
Só que o que ele acabou por descobrir, com o tempo, é que ser surfista não é o mesmo do que realmente gostar de fazer surf.
Agora que é escritor ele conta que há pessoas que vêm ter com ele dizer-lhe que também querem ser escritoras e escrever um livro, e perguntam-lhe como podem começar a fazê-lo.
A resposta dele?
É simples.
Se tu queres escrever algo, tu simplesmente começas a escrever. A única questão aqui é: O que é que te está a impedir de o fazer?
Mark acredita que, na maioria dos casos, estas pessoas até nem gostam assim tanto de escrever, mas gostam da ideia de serem escritoras, pois acham que isso lhes vai fazer parecer mais inteligentes ou admiradas. Ou seja, o que nós muitas vezes queremos é a identidade de algo, mais do que a coisa em si. Algo que eu também já falei aqui.
Fazemos coisas que não gostamos assim tanto de fazer pela identidade que isso nos dá. Por isso é que depois sentimos tanta dificuldade em largar o trabalho que nos dá essa identidade, uma vez que já nos identificámos com tudo aquilo que ganhámos com ele. Para além disso, o mais provável é que depois acabemos por ir parar àquele lugar onde não sabemos, afinal, quem somos.
E isso é assustador.
Muitas vezes a coragem de deixar de fazer algo que afinal não gostamos assim tanto, tem mais a ver com o voltar a esse lugar de “não sabermos quem realmente somos e o que queremos fazer”, do que propriamente com o medo de perder dinheiro ou de não ter a aprovação da família.
Assim, uma pergunta que podes fazer a ti mesma se quiseres perceber em que situação estás, é a seguinte:
O que é que na tua vida estás a fazer, não porque gostas de o fazer, mas porque gostas do tipo de pessoa que te torna ou que aparentas aos outros?
Normalmente são estas coisas que nos causam ansiedade ou um sentimento de insatisfação que não conseguimos explicar. Isto já para não falar da estranha sensação de não nos sentirmos verdadeiramente realizados, apesar de todo o sucesso que até possamos ter. Mas é normal sentirmos isso, tendo em conta que nesta área da nossa vida não estamos completamente alinhados com o que realmente somos. Estamos lá pelos benefícios e não pela coisa em si mesma.
E a vida é sobre fazer algo pela coisa em si mesma.
“Como podemos manter a nossa identidade no meio de tanto estímulo externo?”
Fizeram-me esta pergunta num dos encontros que realizei com pessoas deste grupo de whatsapp e penso que faz todo o sentido respondê-la no seguimento do que foi dito até agora. E pegando nalgumas dessas ideias, penso que o problema não está assim tanto na quantidade de estímulos que nos chegam de fora, mas mais na nossa tentativa de querermos preencher os nossos vazios internos com eles.
Vou dar-te um exemplo pessoal.
Durante muito tempo da minha vida eu só queria ter sucesso na vida, sobretudo a nível profissional (apenas não contava com o tempo que demorei a tentar perceber em que área é que isso seria… Podes ler sobre isso tudo aqui). E quando me tornei Consultora de Feng Shui, mais urgência nisso passei a ter. Ainda por cima eu tinha largado tudo para trabalhar apenas com o Feng Shui e, por isso, na minha cabeça, eu tinha que provar que era capaz.
Mas, na verdade, não era aos outros. Era a mim.
Quando comecei a “sabotar” o pouco sucesso que até já tinha conseguido alcançar - porque entretanto já não estava assim tão interessada em fazer Feng Shui como no início -, a minha frustração chegou mesmo aos píncaros. Eu não percebia porque raio é que eu não conseguia ter sucesso na vida! Só que a verdadeira pergunta a fazer era: Mas porque é que eu queria tanto ter sucesso na vida?
Eu digo-te porquê.
Porque, lá no fundo, eu sempre me senti uma falhada. Sim, era essa a verdadeira razão. Era esse o vazio que eu queria preencher ao me tornar uma profissional de sucesso no que quer que fosse que eu escolhesse fazer.
Por isso é que eu me fartava de fazer cursos online e ler livros de desenvolvimento pessoal, nomeadamente aqueles que me ensinavam a ter sucesso na vida. E, aparentemente, até nem havia mal nenhum nisso. Antes pelo contrário. Muito do que eu consumia eram conteúdos que faziam todo o sentido para pessoas que têm negócios próprios, como um curso de Marketing Digital ou um livro que nos ensina a libertarmo-nos de crenças limitadoras. E isto já para não falar de todas as páginas que eu seguia no Instagram de pessoas que tinham atingido uma vida de sucesso e que agora ensinavam outros a consegui-lo também.
Para mim elas eram uma inspiração.
E, até certo ponto, continuam a ser. Tal como todos os cursos que continuo a fazer e os livros que continuo a ler.
Então qual é a diferença?
É subtil, mas está lá. Só que a resposta à questão não tem tanto a ver com o que faço, mas sim com a razão pela qual o faço.
Como te disse antes, eu fazia-o para, inconscientemente, colmatar inseguranças minhas. O problema é que, por mais cursos que fizesse ou livros que lesse, essas inseguranças nunca se iam embora. Ou seja:
Coisas externas 0. Inseguranças 1.
Foi por isso que te disse, no início deste trecho, que talvez o problema não esteja tanto nos estímulos que nos chegam de fora, mas sim na razão pela qual não conseguimos deixar que eles absorvam tanto a nossa atenção ou nos influenciem tanto quanto gostaríamos. Isto porque tenho-me apercebido de que quanto mais conheço os meus “vazios” e trabalho neles em terapia, menos permeável me vou sentindo às influencias externas.
Se é sempre assim?
Não. E penso que nunca vai ser. E acho que é aí que também está um dos nossos maiores erros. O de acharmos que um dia iremos estar completamente resolvidos.
Somos humanos. Não máquinas.
E acho que o desenvolvimento pessoal têm-nos feito esquecer um pouco isso (a minha psicóloga que o diga).
Por isso, independentemente do que te disse até agora como resposta à questão “Como podemos manter a nossa identidade no meio de tanto estimulo externo?”, o que quero realmente responder-te é isto:
Não te preocupes com isso. Há coisas na tua identidade que vão mudando ao longo da vida e ainda bem que assim o é. E são precisamente os estímulos externos que têm um papel preponderante nisso, pois é através deles que nós nos conhecemos, que nós nos perdemos e que nos voltamos a encontrar.
Assim, não te agarres àquilo que achas que é a tua identidade. Até porque quanto mais fazemos isso, mais a vida nos puxa o tapete e faz-nos recomeçar tudo outra vez.
Nota: a primeira parte do texto foi retirada, inspirada e traduzida deste vídeo de Mark Manson.