Porque é tão difícil realizarmos os nossos sonhos?

Quando publiquei o texto A minha vida não é o que parece na minha página de Facebook, não estava à espera da quantidade de comentários que obtive. Sobretudo os que vieram por mensagem privada.

Houve quem tivesse ressoado com aquilo que escrevi.

Houve quem me tivesse dado força e apoio.

E houve quem me tivesse dito estas palavras:

Olá. Vi o artigo que escreveste sobre A minha vida não é o que parece. E revejo-me muito… E como eu, muitas pessoas como viste… E muitas mais que não se manifestaram… Eu quando li tive a clara sensação que este pode ser mais um caminho para ti e que talvez ainda não estejas a ver. Quem sabe… Estou a partilhar o que senti… Porque não falas tu em vídeo ou live? Sobre esse processo, esse sentir que as coisas não correm como esperavas e dás a volta. Como consegues reencontrar-te. Regressar ao centro, ao foco. É difícil, eu sei, mas se consegues partilha-o. É uma ideia e pode ser uma nova porta para ti, porque sinto que és sensível ao ponto de o poderes revelar de forma a quem precisa de ti.

Dou-te o meu exemplo… Tu falaste que abriste vários workshops e não tiveste número suficiente para avançar. Eu nem nunca tive coragem para o fazer com medo de lidar com essa falta de adesão… (…) E quando te li pensei “tu tens tudo isso… Nem que seja essa história para contar… Essas tentativas e erro. Cair e levantar… Viveste!! ” Não sei como fazes para te reergueres, mas gostava de saber… Aguardo a tua partilha se sentires… Eu e muitas mais pessoas…

“Como consegues motivar-te para que toda essa mudança passe do interior para o exterior?” – Ana Oliveira

Confesso que quando li esta mensagem fiquei meio atrapalhada e sem saber o que fazer.

Para mim, o que esta pessoa me estava a pedir era, pura e simplesmente, algo muito parecido ao que eu sempre imaginei que um dia viria a fazer:

Partilhar a minha história de como consegui realizar os meus sonhos.

O problema é que eu ainda não os consegui realizar. O que faz com que eu ache que não tenha assim muito para dizer…

E isso assustou-me.

Porém, o desafio estava lançado e eu decidi aceitá-lo.

Como não sabia por onde começar, decidi gravar um pequeno vídeo onde pedi às pessoas que me dissessem o que gostariam que eu partilhasse sobre a minha história.

Os comentários, contudo, foram poucos.

As perguntas também.

Uma delas foi a que escrevi em cima (como sub-título desta parte do texto), publicada pela Ana.

A outra, em mensagem privada, foi assim:

Adorei o teu vídeo. E subescrevo as palavras da Pessoa X sobre Comentário Y (que foi feito no post do vídeo). Fazer o coaching contigo fez todo o sentido. (…) Mas ainda não consigo acreditar e nem confiar na minha potencialidade para criar algo meu. Não estou a ser uma boa coach… Com os outros é sempre mais fácil… Por isso te pergunto. Que exercícios fazes para não desistir? E não teres medo de lançar um projeto? O meu medo é sempre o mesmo. Serei sempre mais uma e não faz sentido e desisto…

Demorei muito tempo até me predispor a responder a estas duas perguntas.

Primeiro, porque achava que não tinha muito para dizer…

E segundo, porque não sabia o que dizer…

Mas aos poucos, lá fui respondendo através de algumas postagens que ia fazendo no meu blog e na minha página de Facebook. Às vezes de uma forma mais direta, outras vezes menos. No entanto, no fundo da minha cabeça, havia sempre uma vozinha que me continuava a dizer: Tens de lhes responder.

Até que chegou a hora.

E a minha resposta começa assim:

I can. I will. End of story.*

Imagina que tens um filho doente. Muito doente.

Vais a um médico. Ele vê o teu filho, receita-te alguns medicamentos e manda-te para casa.

Fazes tudo o que ele te diz, mas percebes que o teu filho não melhora.

Vais a outro médico, mas o mesmo acontece.

Vais a outro. E novamente o mesmo.

Aos poucos, começas a perceber que ninguém sabe o que o teu filho tem.

Vais a mais médicos, mas a história é sempre a mesma.

Começas a ficar extremamente preocupada e assustada. Vês o tempo passar, o teu filho a piorar e ninguém te consegue ajudar.

Desistes de procurar ajuda?

Claro que não! Nem te passa tal coisa pela cabeça! Pelo teu filho vais até ao fim do mundo se for preciso!

Continuas a tua procura por um médico que te possa ajudar.

Falas com toda a gente que conheces.

Passas horas a fio a fazer pesquisas na internet.

Tentas tudo e mais alguma coisa. Medicinas alternativas, curandeiros, mezinhas caseiras, rezas – tudo o que for preciso para que o teu filho se cure.

Até que finalmente descobres que ele tem uma doença rara e que o único médico que te pode ajudar vive nos Estados Unidos.

O tratamento é caro. Muito caro mesmo. Já para não falar de todas as despesas associadas à deslocação e estadia que terás de suportar.

É agora que desistes?

Nunca na vida! Já disseste uma vez e voltas a repeti-lo: pelo teu filho vais até ao fim do mundo!

Pedes ajuda à tua família. Dão-te aquilo que podem, mas ainda não é o suficiente.

Vais ao banco e pedes um empréstimo.

É-te negado.

Decides fazer uma angariação de fundos, pedindo donativos a todas as pessoas que conheces e não conheces.

Consegues juntar mais algum, mas ainda não dá para tudo.

Até que resolves vender a tua casa.

Coloca-la à venda, mas rapidamente percebes que o processo demora mais tempo do que aquele que tens para dar.

Baixas o preço.

Baixas mais um bocadinho.

E ainda mais um bocadinho.

A casa é finalmente vendida.

Agora sim, já tens o dinheiro todo que precisas. Dá para pagar o tratamento, as despesas extra e ainda aguentares-te por lá durante algum tempo.

Depois disto tudo, só fica a faltar mais uma coisa: pedires uma licença sem vencimento no teu trabalho.

Para tua grande desilusão, não ta dão!

E agora? O que é que fazes?

Sabes que vais gastar o teu dinheiro todo quando estiveres nos EUA e que, quando voltares, vens com uma mão à frente e outra atrás. O teu trabaho era a segurança que precisavas para começar de novo quando chegasses a Portugal.

Vais finalmente desistir?

Nem pensar! Depois de tudo o que já fizeste até agora?! Que se f*** o trabalho! O teu filho é mais importante do que tudo!

Despedes-te, fazes as tuas malas e mudas-te para os Estados Unidos.

Quando lá chegas, apercebes-te de que as coisas vão ser mais difíceis do que aquilo que imaginavas. O tratamento é longo e requer muito de ti e do teu filho.

Começas a quebrar. Podes ser forte, mas não consegues aguentar tudo. Como estás sozinha num país estrangeiro, decides procurar apoio noutros pais que estejam a passar pela mesma situação do que tu.

À medida que o tempo vai passando, o teu filho vai melhorando. Finalmente vês uma luz ao fundo do túnel, mas sabes que ainda tens muito para caminhar.

O dinheiro vai-se gastando e já não há mais onde o ir buscar. Decides procurar um emprego, mas o teu inglês só te consegue arranjar um trabalho como camareira num hotel. Aceitas.

Com o tempo, a exaustão começa a tomar conta de ti. Tanto física como emocionalmente. Desistir não é uma opção para ti, mas perguntas-te quanto tempo mais conseguirás aguentar.

O tempo vai passando…

Passando…

Passando…

Até que chega o tão esperado dia!

O teu filho está curado e os dois vão finalmente para casa.

Pessoas com metas triunfam porque sabem para onde vão. É tão simples quanto isso – Earl Nightingale

Respondendo agora às questões que me foram colocadas:

Penso que uma das razões que te leva a não desistir de ir atrás de algo - por muito medo que dê e por muito difícil que seja - tem a ver com o quanto tu desejas alcançar isso mesmo. E quando falo em quantidade, falo mesmo em algo que te consome por dentro. Que não te deixa dormir. Que te faz falar e pensar nisso 24h por dia.

Quando queres muito uma coisa (mas mesmo muito!), tu vais atrás. Tu fazes tudo o que estiver ao teu alcance para conseguires chegar até onde desejas estar.

O desejo que te move é tão grande, que só “paras” no dia em que te aperceberes que já chegaste onde querias.

Quando acreditas muito (mas mesmo muito!) no objetivo que queres atingir, tu irás automaticamente dar todos os passos necessários para o conseguires realizar. É assim que vais sentindo, aos poucos, confiança em ti própria. É assim que começas a acreditar em ti.

A motivação aparece com o tempo. Não é preciso ir buscá-la a lado nenhum. Ela vem do forte desejo em quereres alcançar muito o teu objetivo final.   

A força para o realizares também.

Não há nada que tu precises ir buscar ao exterior que já não esteja dentro de ti.

Determinação, persistência, paciência, resiliência – tudo isso virá ao de cima a partir do momento em que decidas que queres muito uma coisa.

É esse o segredo que fará com que tu nunca desistas.

Mesmo quando a vontade às vezes não está lá.

Mesmo quando o teu corpo já não aguenta mais.

Mesmo quando percebes que emocionalmente estás um farrapo.

Mesmo quanto toda a gente à tua volta dúvida de ti.

Mesmo quando estás com medo p’ra caraças.

Mesmo quando as coisas não acontecem como tu querias.

Mesmo quando as coisas falham vezes e vezes sem conta.

Mesmo quando parece que nunca mais chegas lá.

Mas é esse o segredo. Não há exercícios para não desistir. Quando queres muito uma coisa, tu vais atrás até conseguires!

Tal e qual como farias se fosses aquela mãe…

Se é importante para ti, arranjas uma forma. Se não é, arranjas uma desculpa – Ryan Blair

Qual é, então, a diferença entre as duas situações? Porque é que quando se trata do nosso filho nós fazemos tudo o que for preciso para alcançar o objetivo final e quando o assunto é connosco não conseguimos fazer isso?

Uma das razões, lamento dizer, tem a ver com o nosso amor próprio…

O que quero eu dizer com isto?

Que a felicidade do teu filho é mais importante do que a tua.

Que quando se trata do bem-estar deletu queres muito uma coisa. Quando é o teu, já não (isto já para não falar dos sentimentos de culpa que daí advêm; connosco eles não existem, pelo menos não a uma escala que nos incomode ou que nos faça fazer algo em relação a isso).

O que mostra que o “problema” não está na tua falta de fé, dinheiro, apoio, tempo ou outras questões. E muito menos está na falta de capacidades tuas em conseguires realizar o que queres alcançar.

O “problema” está, em parte, na tua falta de amor próprio. Porque, tal como já percebeste, por amor tu fazes tudo. E pelo teu filho tu tem-lo todo.

Por outro lado, o “problema” também pode estar no facto de ainda não teres achado algo que tu queiras muito. Mas mesmo muito!

Tanto que tu serias capaz de ir até ao fim do mundo para o alcançares.

Neste momento, aquilo que tu na realidade tens talvez sejam só desejos. Desejos esses que te fazem dizer: “eu gostava muito de ter isto” ou “eu gostava muito de fazer aquilo”.

Mas até que esses desejos se tornem fortes o suficiente para ti, tu nunca irás correr atrás deles.

Porquê?

Porque a situação “desconfortável” em que te encontras não é, afinal, tão desconfortável assim. Pelo menos não o suficiente que te leve a tomar uma atitude de a querer mudar.

O que me leva à terceira razão pela qual nós muitas vezes não conseguimos ir atrás dos nossos sonhos: o conformismo.

Repara, tu até podes querer muito uma coisa, mas como tens medo de que, ao ir atrás, as coisas possam correr mal e acabes por ficar pior do que já estavas, então decides não correr o risco.

Afinal de contas, mais vale ter pouco do que nada!

Porque o problema do conformismo é esse mesmo:

Ele mói, mas não mata…


*Decidi manter esta frase em inglês porque acho que tem mais impacto, mas se tivesse que a traduzir para português escreveria algo como: Eu consigo fazer. Eu vou fazer. E ponto final.

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