Para refletires
A Cobra e o Pirilampo
Quando a tua luz incomoda quem não consegue brilhar.
Deixa-me partilhar contigo uma história que aconteceu comigo relacionada com esta.
Aconteceu durante o confinamento do Covid. Nessa altura comprei um curso online que ensinava a interpretar sonhos e aproveitei para utilizá-lo num sonho estranho e repetitivo que andava a ter há algum tempo e que me incomodava bastante. O sonho era sobre gatos que, sem qualquer razão aparente, começavam a atacar-me.
Nesse curso aprendi que interpretar sonhos não tem nada a ver com aquilo que lemos na internet; antes pelo contrário. Se quisermos interpretar um sonho que tivemos temos de, primeiro, perceber qual é o significado (pessoal) que nós damos àquilo que aparece no nosso sonho, uma vez que esta é a forma simbólica como o nosso inconsciente fala connosco. No meu caso, eram os gatos.
Para além disso, para sermos eficazes na interpretação dos sonhos, é muito importante libertarmo-nos de qualquer julgamento de valor. Ou seja, não há bom nem mau, certo ou errado, melhor ou pior. Há o que significa para nós aquele “símbolo” em particular e ponto. É isso o que nos vai ajudar a decifrar o simbolismo do sonho.
Digo isto porque seria muito fácil para mim sentir-me mal por, nos meus sonhos, ver que os gatos não gostavam de mim. Ainda por cima quando se diz que as pessoas mais sensitivas costumam dar-se muito bem com gatos. No entanto, aqui estava eu a ser atacada por eles. O que será que isso queria dizer sobre mim?
O que acabei por descobrir é que, na verdade, o sonho não era sobre mim, mas sim sobre algumas pessoas que faziam parte da minha vida. Como é que eu descobri isso? Indo, precisamente, ao significado que EU dou aos gatos. Não tem a ver se os gatos são bons ou maus, se gosto deles ou não. Tem simplesmente a ver com a forma como eu os vejo. Ora, sendo eu mais uma “dog lover”, sempre tive mais dificuldade em confiar nos gatos, pois nunca sei quando é que algum deles pode, de repente, dar-me uma arranhadela. Significa isto que, para mim, o símbolo “gato” é sinónimo de “não ser de confiança”. E com isso percebi o que o meu sonho me estava a querer dizer.
Eu tinha uma amizade muito antiga em quem confiava, mas que, afinal, não era assim tão de confiança quanto eu pensava. Para te dizer a verdade, com o tempo comecei a perceber que essa pessoa se sentia melhor com a minha infelicidade do que o contrário. E houve um dia em que isso ficou bastante claro para mim. Só que eu não queria acreditar no que estava a sentir. Eu não queria aceitar essa verdade. Para mim, aquela pessoa era de confiança. E, por isso, acabei por descartar o que tinha visto nesse dia, dando-lhe um significado diferente daquele que eu tinha sentido.
Mas o meu inconsciente sabia o que se estava a passar. E estava a sentir-se cada vez mais desconfortável com isso. Por isso tentava falar comigo através desses meus sonhos, utilizando um símbolo que, ao interpretá-lo corretamente, me dizia: “é fofinho/a, mas não é de confiança”.
O significado estava assim decifrado. Agora só tinha que perceber quem era essa(s) pessoa(s). Foi quando juntei 1+1. Isto porque, com o tempo, fui-me sentido cada vez mais incomodada com o que estava a sentir em relação àquela amizade. Mesmo não querendo ver a verdade, houve outra situação que me mostrou que não dava mais para negar o que eu estava realmente a sentir em relação a essa pessoa e por isso decidi afastar-me.
O sonho dos gatos parou.
Acabou por voltar uns tempos mais tarde. Foi quando me apercebi que estava na altura de me afastar de uma familiar minha.
Parou novamente.
Porque partilho contigo esta história?
Porque com o tempo percebi que a razão pela qual aquela pessoa não era verdadeiramente minha amiga é a mesma que nos mostra este pequeno conto da “Cobra e o Pirilampo”. Há pessoas que, por não conseguirem ver o seu próprio brilho, sentem-se incomodadas com o brilho dos outros (brilho esse que, curiosamente, os próprios muitas vezes também não o veem, que foi sempre o meu caso).
Foi por isso que, depois de ter decifrado o que significavam os gatos para mim, tive tanta dificuldade em perceber a razão pela qual me atacavam sem motivo nenhum.
Com isto não estou a querer dizer que eu sou um “pirilampo que brilha” e os outros “umas cobras invejosas”. Mas, infelizmente, penso que todos nós já sentimos na pele, de alguma maneira, o que é ter uma pessoa à nossa volta que não zela verdadeiramente pelos nossos interesses.
E porque é que isso acontece?
Normalmente é porque essas pessoas não estão de bem com alguma parte de si mesmas e por isso acabam por se sentir incomodadas ao pé de quem acham que “brilha” nessa parte. E como elas não sabem lidar com isso, isto é, com esse “brilho” do outro, preferem apagar a “luz do pirilampo” do que aprenderem elas próprias a brilhar.
Uma das formas de fazerem isso é através da competição. Por exemplo, quando tu e a tua amiga vão a uma festa e ela diz-te que o vestido te fica bem quando na verdade não acha isso, só para que ela possa brilhar mais do que tu. Ou, tal como aconteceu comigo, quando a tua amiga te dá a entender que sente empatia pela tua dor pelo facto de quereres ter filhos e ainda não teres tido oportunidade, quando na verdade está “secretamente feliz” por ela ter tido um filho e tu não (porque pelo menos aqui ela pode brilhar).
É triste e feio tudo isto que estou a dizer, eu sei. Por isso é que eu também levo tanto tempo a ver e a aceitar estas pessoas na minha vida.
E, repara, com isto não estou a querer dizer que essas pessoas são más ou que te querem mal. Elas apenas estão a tentar sentir-se melhor com elas próprias quando estão ao teu lado (até porque, como se costuma dizer, “misery loves company”*). Claro que isto acontece, muitas vezes, de forma inconsciente. De qualquer forma, é importante aceitarmos estas situações como elas realmente são para podermos fazer os ajustes necessários na nossa vida.
É por isso que eu agradeço muito o meu sonho dos gatos sempre que aparece, por mais desconfortável que ele possa ser.
*Traduzindo à letra, “misery loves company” significa "a miséria adora companhia". Esta expressão idiomática significa que pessoas infelizes tendem a encontrar conforto ou validação na companhia de outras pessoas que também estão infelizes. Sugere que compartilhar os próprios problemas ou sofrimentos com outras pessoas pode torná-los mais fáceis de suportar.
Autenticidade
É o que nos distingue dos outros que nos torna únicos e alvo de admiração.
“Podes sempre olhar para os outros para te inspirares, mas nunca para te comparares.”
O Mestre e o Samurai
Qual a diferença entre o céu e o inferno?
“Eu acho que o inferno é algo que tu carregas contigo. Não um lugar para onde vais.”
O Pote Rachado
Há características nossas que são vistas como defeitos aos olhos de outras pessoas. Mas será que são mesmo?
Havia um carregador de água que, diariamente, carregava sobre os seus ombros até à casa do seu senhor dois grandes potes pendurados em cada ponta de uma vara. Um dos potes tinha uma racha, enquanto que o outro era perfeito e, por isso, chegava sempre cheio de água até ao final da longa caminhada entre o poço e a casa do mestre. O pote rachado chegava sempre pela metade.
Assim foi durante dois anos. Todos os dias, o carregador entregava um pote e meio de água na casa do seu mestre.
O pote perfeito estava orgulhoso das suas realizações. Porém, o pote rachado estava envergonhado da sua imperfeição e sentia-se miserável por só conseguir realizar apenas metade do trabalho que deveria fazer.
Um dia decidiu falar com o carregador de água no momento em que se encontravam à beira do poço.
- Estou envergonhado e quero pedir-te desculpa.
- Porquê? - perguntou o homem. - De que estás envergonhado?
- Nestes dois anos só fui capaz de entregar apenas metade da minha carga, porque esta racha que tenho aqui de lado faz com que a água verta ao longo do caminho até à casa do teu senhor. Por causa do meu defeito tens de fazer todo esse trabalho e não ganhas o salário completo dos teus esforços.
O homem ficou triste pelo sentimento do velho pote e disse-lhe amorosamente:
- Quando regressarmos a casa do meu senhor quero que admires as flores ao longo do caminho.
De facto, à medida que eles subiam a montanha, o velho pote rachado notou flores selvagens ao longo de todo o caminho e isso alegrou-o. Mas, no fim do caminho, o pote ainda se sentia mal porque tinha vertido metade da água e pediu novamente desculpas ao homem pela sua falha.
O homem disse então ao pote:
- Notaste que pelo caminho só havia flores do teu lado? Eu, ao conhecer o teu defeito, transformei-o em vantagem. Lancei sementes de flores no teu lado do caminho e, todos os dias, enquanto voltamos do poço tu rega-las. Por causa disso, durante estes dois anos eu pude colher flores para ornamentar a mesa do meu senhor. Se não fosses da maneira que és, o meu mestre não teria essa beleza em sua casa.
Nota: Enquanto passava para aqui esta história, lembrei-me de um vídeo que uma vez vi sobre uma lindíssima arte japonesa que transforma louça partida em peças ainda mais bonitas e únicas. É um vídeo muito bonito e inspirador. Clica aqui para o poderes ver.
Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta o nosso edifício inteiro.
- Clarice Lispector
O que aprendi com esta história?
Cada vez mais tenho-me apercebido de como o ambiente à nossa volta tem um profundo impacto na nossa autoestima, por mais que nós até possamos trabalhar nela.
Há uns anos atrás, por exemplo, ter albinismo ou vitiligo era caso para a pessoa querer passar despercebida o máximo possível dos olhares da multidão. Hoje em dia é até valorizado pela indústria da moda.
Muito simplesmente, porque é diferente.
Antigamente ser diferente era um problema. Agora ser diferente é uma vantagem. Mas só para quem tem a confiança lá “em cima”. Caso contrário, por mais que o mundo até veja beleza nas nossas “rachas”, se nós também não gostarmos delas, não há nada nem ninguém que nos faça estar, com a maior das à vontades, à frente de uma câmara fotográfica. A autovalorização é, e sempre será, um dos sentimentos mais importantes que podemos sentir por nós.
Mas independentemente de como está a nossa autoestima, quem define se certas características do nosso corpo ou da nossa personalidade são motivo para serem apreciadas ou rejeitadas?
Infelizmente, uma parte, é o exterior.
É o ambiente onde estamos inseridos. É o tempo histórico em que nos encontramos. São as pessoas que estão à nossa volta-os carregadores de potes com quem crescemos e partilhamos a nossa vida, os avaliadores do nosso anel*. É por isso que é tão importante sabermos escolher bem as pessoas com quem mais estamos e os lugares que mais frequentamos.
Quer queiramos quer não, a nossa confiança é permeável ao exterior. No sítio “errado” e com as pessoas “erradas”, com o tempo, ela pode ser completamente destruída. Já no sítio “certo” e com as pessoas “certas” ela pode ser elevada a um lugar que nem nós pensaríamos estar. Até porque pegar numa “racha” nossa e construir com ela “um belo jardim” não é para qualquer um.
Que saibamos escolher bem os carregadores dos nossos potes.
A História de Morihei
Como manter a calma quando tudo à nossa volta nos tenta tirar do nosso centro?
Conta a história que na China antiga vivia um homem que dedicara toda a sua vida a procurar sabedoria através das artes marciais.
Para ele, as artes marciais representavam uma forma de crescer na arte do autocontrolo. A sua dedicação e perícia espalhavam a sua reputação por toda a região, o que fazia com que estivesse sempre rodeado de discípulos.
O mais novo de todos eles chamava-se Morihei. Era um menino de baixa estatura e bom coração que já treinava há muitos anos, mas a quem o mestre recusava dar o cinturão que lhe certificava a aprendizagem.
– Quando demonstrares que já aprendeste a estar centrado no meio das dificuldades, – disse ele – o cinturão será teu.
Morihei queixava-se em silêncio, mas ele sabia as razões do ancião. Já há algum tempo que, devido à sua pequena estatura, os miúdos da vila gozavam com ele quando o viam a descer a rua. E embora repetisse várias vezes para si que não precisava de perder a calma, não passava uma semana sem que acabasse por andar à luta.
Quando alguém gozava com ele, ele reagia e esquecia tudo, apesar de saber que, ao fazê-lo, atrasava o seu tão desejado cinturão.
Um dia ele decidiu ir ter com o seu mestre e contou-lhe, entre lágrimas, o quanto ele se esforçava por manter a calma, mas que no final acabava sempre por perder o controlo. Enquanto o mestre o ouvia em silêncio, Morihei decidiu perguntar-lhe algo que nunca antes ousara perguntar:
– Mestre, como é que você faz para nunca perder a calma?
– E quem te disse a ti que eu nunca a perco? – respondeu o mestre, para grande surpresa de Morihei.
– Você? – gaguejou.
– E várias vezes por dia. – acrescentou o ancião.
Morihei não podia acreditar no que estava a ouvir. Se o seu mestre, que dedicara toda a sua vida a praticar o autodomínio, perdia a calma, então que esperanças podia ter ele? Mas o ancião, ao adivinhar a sua frustração, disse-lhe:
– Morihei, todos estes anos de disciplina não fizeram com que eu não saísse do meu centro, mas permitiram-me, sim, que eu voltasse cada vez mais rápido a ele. Antes, – continuou ele – uma ofensa poderia viver meses e até anos dentro de mim. Hoje essa mesma ofensa só poderá desviar-me do meu caminho por alguns segundos. A pergunta – acrescentou – não é: “Como faço para não perder a calma?” Mas sim: “Como faço para recuperá-la cada vez mais rápido?”
– Nunca tinha visto as coisas assim… – reconheceu Morihei.
– Agora, para poderes voltar ao teu centro cada vez mais rápido, precisarás de te apoderar das tuas pausas. – disse o mestre – Quando sentires vontade de reagir, faz uma pausa. Encontra qualquer desculpa para parar e respirar, permitindo que as tuas emoções mudem e as tuas ideias sejam organizadas de acordo com as tuas prioridades.
– Percebo… – disse Morihei - mas é nesses momentos que mais me falta a força para me controlar.
– A força para escolher a pausa em vez da reação – continuou o mestre – vem do coração. Mas o teu autocontrolo irá enfraquecer ou aumentar, dependendo de quantas vezes por dia conseguires disfrutar das satisfações que terás sempre que te mantiveres no teu caminho.
Morihei levou muito a sério os ensinamentos do seu mestre e não só conseguiu parar de lutar na rua, como também se tornou um exemplo ao evitar discussões e impedir, inclusivamente, que outros lutassem.
Numa tarde, o mestre chamou-o e disse-lhe:
– Morihei, há mais de um ano que tu não me perguntas sobre o teu cinturão. Por acaso perdeste o interesse nas artes marciais?
– Não, mestre. As artes marciais tornaram-se a minha vida, mas não procuro mais cinturões. Agora procuro ser o que o cinturão representa.
O mestre sorriu e disse:
– Agora que não precisas mais deles, estás preparado para receber todos os cinturões.
Nota 1: O nome completo deste discípulo é Morihei Ueshiba, o criador do Aikido ou da Arte da Paz como ele o chamava.
Nota 2: Esta história foi retirada e traduzida livremente do livro Cómo Hacer que las Cosas Pasen, de Guillermo Echevarría
Sê seletivo nas tuas batalhas. Às vezes estar em paz é melhor do que estar certo.
- Autor desconhecido
O que aprendi com esta história?
Creio que temos tendência para achar que um mestre zen é alguém que nunca se chateia, que raramente sente raiva, frustrações, medo e todas aquelas emoções que costumamos apelidar de “negativas”, como a inveja ou o ciúme. Tal como um monge budista, ele está em paz consigo e com o mundo a todo a hora.
Mas será que é mesmo assim?
Uma vez ouvi alguém dizer que é fácil para um monge estar nesse constante estado de paz, uma vez que ele vive isolado da realidade na calma do seu mosteiro.
Uma pessoa como eu e tu não.
Sentir emoções é normal, quaisquer que sejam elas. Faz parte do ser humano. Faz parte da vida. Ser dominado por elas é que não. Reprimi-las, fingir que elas não estão lá ou expressá-las descontroladamente também não. Até porque uma pessoa “zen” não é alguém que não sente certas emoções. É sim alguém que as sabe sentir. E talvez seja por isso que ela aparenta estar constantemente num completo estado de paz.
Aquilo que esta história maravilhosamente me ensinou é que, ao contrário daquilo que pensamos, estar em paz não significa que deixamos de sentir a vida como ela é. Estar em paz significa que passamos a lidar com ela de uma forma diferente. Talvez mais consciente e equilibrada. Pois tal como o mestre disse a Morihei, a pergunta certa a fazer não é “Como faço para não perder a calma?”, mas sim:
“Como faço para recuperá-la cada vez mais rápido?”
O Pescador
O que será que um humilde pescador tem para nos ensinar sobre o que é ter, afinal, uma vida de sucesso?
No ancoradouro de uma aldeia da costa mexicana, um homem de negócios americano observava um pequeno barco de pesca que atracava naquele momento trazendo um único pescador. No barco, o pescador trazia vários atuns grandes de barbatana amarela. O americano deu os parabéns ao pescador pela qualidade dos peixes e perguntou-lhe quanto tempo levara para pescá-los.
- Pouco tempo - respondeu o mexicano.
Em seguida, o americano perguntou-lhe porque é que ele não permanecia no mar por mais tempo, o que lhe permitiria uma pesca mais abundante.
O mexicano respondeu que tinha o bastante para atender as necessidades imediatas da sua família.
O americano voltou à carga:
- Mas o que é que você faz com o resto do seu tempo?
O mexicano respondeu:
- Durmo até tarde, pesco um pouco, brinco com os meus filhos, durmo a siesta com a minha mulher Maria, vou todas as noites à aldeia, bebo um pouco de vinho e toco violão com os meus amigos. Levo uma vida cheia e ocupada, senhor.
O americano assumiu um ar de pouco caso e disse:
- Eu sou formado em gestão de negócios pela Universidade de Harvard e posso ajudá-lo. Você deveria passar mais tempo a pescar e, com o lucro, comprar um barco maior. Com a renda produzida pelo novo barco, poderia comprar outros tantos. No fim, teria uma frota de barcos pesqueiros. Em vez de vender o peixe a um intermediário, venderia diretamente a uma indústria processadora e, no fim, poderia ter a sua própria indústria. Poderia controlar o produto, o processamento e a distribuição. Precisaria deixar esta pequena aldeia costeira de pescadores e mudar-se para a Cidade do México, em seguida para Los Angeles e, finalmente, para Nova York, de onde dirigiria a sua empresa em expansão.
- Mas senhor, quanto tempo isso levaria? - perguntou o pescador.
- Quinze ou vinte anos - respondeu o americano.
- E depois, senhor?
O americano riu e disse que essa seria a melhor parte.
- Quando chegar a ocasião certa, você poderá abrir o capital da sua empresa ao público e ficar muito rico. Ganharia milhões!
- Milhões, senhor? E depois?
- Depois - explicou o americano - você reformava-se. Mudar-se-ia para uma pequena aldeia costeira onde dormiria até tarde, pescaria um pouco, brincaria com os netos, dormiria a siesta com a esposa, iria à aldeia todas as noites, onde poderia tomar vinho e tocar violão com os amigos.
O sucesso é apenas felicidade. Quando és feliz, isso é sucesso.
- Jimmy Fallon
O que aprendi com esta história?
Quando olhamos para a vida de uma pessoa, achamos que conseguimos ver, de uma forma relativamente fácil. se ela é bem sucedida ou não. Fazemos isso avaliando, na maioria das vezes, os bens materiais que ela possui, o quanto cresceu na sua carreira ou até a fama que tem. E fazemo-lo comparando todos esses resultados (e outros tantos mais) com os da nossa própria vida. No entanto, o que nós falhamos em ver é se a pessoa, apesar de todo este seu sucesso, é feliz ou não com a vida que tem.
E se não for, será que ela continua a ser uma pessoa bem sucedida na vida?
Avaliar o sucesso olhando apenas para o que se tem é como olhar só para uma parte de uma grande equação.
Por mais que tentemos, nunca vamos conseguir resolvê-la.
Achamos que ao termos o que queremos vamos automaticamente sentir o que sempre desejámos. Daí passarmos uma vida inteira atrás do ter e não do ser. Mas a regra para a resolução desta equação costuma ser bem clara e simples: Crescimento exterior sem crescimento interior é estar a crescer no vazio. É por isso que tanta gente tem tanta coisa e ainda assim se sente tão vazia…
Ter mais não significa necessariamente sentir-se melhor, tal como me ensinou esta belíssima história. Mas sentir-se bem com o que se tem - independentemente do que se tem - é, sem dúvida alguma, meio caminho andado para se sentir que já se tem tudo o que se quer na vida. E, para mim, essa é toda uma nova forma de olhar para o que significa, afinal, ser-se uma pessoa bem sucedida na vida.
O Anel
Quanto vale uma pessoa aos olhos de outra? E quanto vale aos seus próprios olhos?
Há muito tempo atrás, um jovem que vivia desanimado dirigiu-se ao seu professor:
- Venho aqui, professor, porque sinto-me tão pouca coisa que não tenho forças para fazer nada. Dizem-me que não sirvo para nada, que não faço nada bem, que sou lerdo e muito idiota. Como posso melhorar? O que posso fazer para que me valorizem mais?
O professor, sem olhá-lo, disse-lhe:
- Lamento muito meu jovem, mas não posso ajudar. Devo primeiro resolver o meu próprio problema. Talvez depois.
E, fazendo uma pausa, disse:
- Se tu me ajudares, eu poderia resolver este problema com uma maior rapidez e depois, talvez, possa ajudar-te.
- Claro, professor – gaguejou o jovem, sentindo-se de imediato outra vez desvalorizado.
O professor tirou um anel que usava no dedo mindinho e deu ao rapaz dizendo:
- Pega no cavalo e vai até ao mercado. Devo vender esse anel porque tenho de pagar uma dívida. É preciso que obtenhas pelo anel o máximo possível, mas não aceites menos do que uma moeda de ouro. Vai e volta com a moeda o mais rapidamente possível.
O jovem pegou no anel e partiu. Mal chegou ao mercado, começou a oferecer o anel aos mercadores. Eles olhavam com algum interesse até o jovem dizer quanto pretendia pelo anel.
Quando o jovem mencionava a moeda de ouro, alguns riam, outros saíam sem sequer olharem para ele. Só um velhinho foi amável, a ponto de explicar que uma moeda de ouro era muito valiosa para comprar um anel.
Tentando ajudar o jovem, chegaram a oferecer uma moeda de prata e uma chávena de cobre, mas o jovem seguia as instruções de não aceitar menos do que uma moeda de ouro e recusava as ofertas.
Depois de oferecer a joia a todos os que passaram pelo mercado, abatido pelo fracasso, montou no cavalo e voltou. O jovem desejou ter uma moeda de ouro para que ele mesmo pudesse comprar o anel, livrando a preocupação do seu professor e assim receber ajuda e conselhos.
Já na escola, diante do seu mestre, disse:
- Professor, lamento muito, mas é impossível conseguir o que me pediu. Talvez pudesse ter conseguido duas ou três moedas de prata, mas não acho que se consiga enganar ninguém sobre o valor do anel.
- É importante o que disseste, meu jovem... – o professor disse, sorridente. – Devemos saber primeiro o valor do anel. Pega novamente no cavalo e vai até ao joalheiro. Quem melhor do que ele para saber o valor exato do anel? Diz-lhe que queres vender o anel e pergunta quanto ele te dá. Mas não importa quanto ele te ofereça, não o vendas! Volta depois aqui com o meu anel.
O jovem foi até ao joalheiro e deu o anel para examinar. O joalheiro examinou o anel com uma lupa, pesou o anel e disse:
- Diz ao teu professor que se ele quiser vender agora, não posso dar mais do que 58 moedas de ouro pelo anel.
- 58 MOEDAS DE OURO!!! – exclamou o jovem.
- Sim, replicou o joalheiro, eu sei que, com tempo, eu poderia oferecer cerca de 70 moedas, mas se a venda é urgente...
O jovem correu emocionado para a escola para contar o que aconteceu. Depois de ouvir tudo o que o jovem lhe contou, o professor disse:
- Tu és como esse anel, uma joia valiosa e única, e que só pode ser avaliada por um entendido. Pensavas que qualquer um podia descobrir o teu verdadeiro valor?
E, dizendo isso, voltou a colocar o anel no dedo.
No teu absoluto melhor, tu ainda não serás boa o suficiente para a pessoa errada. No teu pior, tu ainda valerás a pena para a pessoa certa.
- Karen Salmansohn
O que aprendi com esta história?
Há uma frase de Abraham Hicks que diz “As pessoas irão amar-te. As pessoas irão odiar-te. E nada disso terá alguma coisa a ver contigo.”
É verdade, não tem. Tem a ver com a pessoa que te ama ou que te odeia. Tem a ver com a sua forma de pensar, as suas crenças, os seus valores; tem a ver com o seu passado e a sua experiência de vida; tem a ver com as suas inseguranças, as suas insatisfações, as suas necessidades e as suas motivações. No fundo, tem tudo a ver com ela e nada a ver contigo.
O teu valor nunca te poderá ser dado por outra pessoa. Ele é intrínseco a ti. Se ele é reconhecido pelos outros ou não, isso tem a ver com os outros. Se ele é reconhecido por uma pessoa que admiras muito, isso tem a ver com essa pessoa e contigo. Se ele é reconhecido por ti, isso tem a ver apenas contigo.
Contudo, é perfeitamente normal quereremos ser reconhecidos por outros, sobretudo por aqueles que nós mais gostamos e admiramos. Ser aceite pelos nossos pares é de extrema importância para nós. Há milhares de anos atrás isso representava até uma ameaça para a nossa vida, pois caso fossemos expulsos da nossa tribo as nossas chances de sobrevivência diminuíam drasticamente.
O problema surge quando ficamos dependentes dessa aceitação externa, olhando para nós da mesma forma como os outros nos olham. Pois tal como aprendi com esta belíssima história, muitas vezes o problema só está no sítio onde estamos, nas pessoas com quem estamos ou até mesmo no tempo em que estamos.
O nosso valor está sempre lá. Nós é que podemos não conseguir vê-lo.
Será Sorte ou Azar?
Por vezes passamos por situações na vida que nos fazem sentir como se tivéssemos sido alvo de um grande azar. Mas será que foi mesmo?
Era uma vez, numa aldeia pobre da antiga China, um menino que se encontrava sentado à porta da sua casa. Ele sentia-se triste porque desejava muito ter um cavalo, mas não tinha dinheiro para comprar um.
Nesse mesmo dia passou uma cavalaria na rua onde o menino morava, que levava um potro incapaz de acompanhar o grupo, atrasando por isso o passo de todos. O dono da cavalaria, sabendo do desejo do menino e vendo a sua tristeza, perguntou se ele queria o cavalinho.
Extasiado, o menino aceitou o presente.
Um vizinho, ao saber do ocorrido, comentou com o pai do menino:
– O seu filho teve muita sorte!
– Porquê? – perguntou o pai.
– Ora, ele queria tanto um cavalo, de repente passa uma cavalaria e ele acaba por ganhar um potrinho. Não é sorte? – perguntou o vizinho.
– Sorte? Azar? Quem sabe? Só o tempo o dirá. – respondeu o pai.
O menino cuidou do animal com muito carinho e zelo, até que ele se transformou num cavalo. Mas um dia, o cavalo fugiu. O mesmo vizinho virou-se novamente para o pai e disse:
– Que azar que o seu filho teve! Ele ganha um potro, cuida dele até à fase adulta e depois o animal foge!
– Sorte? Azar? Quem sabe? Só o tempo o dirá. – disse o pai.
O tempo passou e um dia o cavalo apareceu de novo, trazendo com ele uma manada de cavalos selvagens. O menino, agora um rapaz, conseguiu cercá-los a todos e ficou com eles. Novamente o vizinho foi ter com o pai e disse:
– Que sortudo que o seu filho é! Ele ganha um potro, cria-o, ele foge e depois volta com mais cavalos!
– Sorte? Azar? Quem sabe? Só o tempo o dirá. – disse mais uma vez o pai.
Passado um tempo, estava o rapaz a treinar um dos cavalos, quando cai e parte uma perna. O vizinho, ao saber do ocorrido, comentou com o pai:
– Que azarado que o seu filho é! O cavalo fugiu, voltou com uma manada selvagem e ele depois parte uma perna ao treinar um dos animais!
– Sorte? Azar? Quem sabe? Só o tempo o dirá. – disse o pai.
Dias depois, a China entrou em guerra e todos os homens e jovens rapazes foram convocados para participar nela. No entanto, por ter a perna partida, o rapaz ficou dispensado. O vizinho veio logo a correr falar com o pai, dizendo:
– Que sorte que o seu filho teve!
– Sorte? Azar? Quem sabe? Só o tempo o dirá.
Às vezes não ter o que se quer é uma tremenda sorte.
- Dalai Lama
O que aprendi com esta história?
Às vezes acontecem-nos coisas na vida que são difíceis de ultrapassar. A nossa necessidade de que a vida nos corra como imaginamos é muito grande. Dizem os mais sábios que essa necessidade de controlo vem do ego. Porquê?
Muito simplesmente, porque não nos queremos magoar.
Não há mal nenhum nisso. É próprio do ser humano fazer tudo o que puder para evitar sentir dor. Tal como é próprio da sua natureza criar expectativas de como quer que as coisas aconteçam. Só que as coisas nem sempre acontecem da forma como imaginamos. E é precisamente a isso aquilo a que nós chamamos de azar.
Mas será mesmo azar? Ou será apenas a forma como nós escolhemos olhar para as coisas?
Do mesmo modo que nos acontecem certas situações desagradáveis que não estavam nos nossos planos, também há outras que parecem caídas do céu. Que sorte! No entanto, aquilo que no início nos parecia bom pode, por vezes, torna-se um autêntico pesadelo. Que azar!
Então, é sorte ou azar?
É o que nós lhe quisermos chamar. Quando sabe bem, é sorte. Quando dói, é azar. Mas o que esta história me ensinou é que os acontecimentos dolorosos nem sempre são um azar ou os prazerosos uma sorte. Na verdade, eles são apenas acontecimentos. A qualidade que eles adquirem é atribuída apenas por nós.
Não é sorte, nem azar.
À Procura da Felicidade
Será assim tão difícil encontrá-la?
Conta a história que um pouco antes da humanidade existir, vários duendes reuniram-se para nos pregar uma partida. Um deles disse: “Vamos roubar-lhes algo, mas o quê?”
Depois de muito pensarem, um duende gritou: “Já sei! Vamos roubar-lhes a felicidade! O problema agora vai ser onde a vamos esconder para que nunca ninguém a encontre.”
O primeiro propôs: "Vamos escondê-la no topo da montanha mais alta do mundo!" Mas imediatamente outro retorquiu: "Não, recorda que eles conhecem a força e algum dia alguém poderá subir e encontrá-la. E quando um a encontrar já todos saberão onde ela está.”
De seguida outro propôs: “Então vamos escondê-la no mais fundo dos oceanos!” Mas outro contestou: “Não, recorda que eles possuem a curiosidade e algum dia alguém construirá algum aparelho para poder descer até lá e assim todos a irão encontrar.”
Um outro então gritou: “Vamos escondê-la no planeta mais longínquo da Terra!” Até que alguém respondeu: “Não, recorda que eles têm inteligência e um dia alguém vai construir uma nave para poder viajar a outros planetas. E quando a descobrir todos possuirão a felicidade.”
O último deles, o mais sábio deles todos, era um duende que tinha estado em silêncio a ouvir com atenção cada uma das propostas dos seus companheiros. Analisou cada uma delas e finalmente disse: “Creio saber onde colocá-la para que realmente nunca a encontrem.”
Todos viraram assombrados e perguntaram ao duende: “Onde?”
Ao que o duende respondeu: "Vamos escondê-la dentro deles mesmos. Eles irão estar tão ocupados a procurá-la lá fora, que nunca a irão encontrar.”
Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda a parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!
- Mario Quintana
Reflexões:
Desde que ouvi esta história pela primeira vez nunca mais me esqueci dela.
Talvez pela sua candura; talvez porque descreve, de uma maneira tão simples e perspicaz, a nossa eterna busca pela felicidade; ou talvez porque nos revela, de uma forma deveras surpreendente e impactante, onde realmente a podemos encontrar.
De facto, há já muito tempo que mestres e sábios nos dizem que a felicidade não se encontra nas coisas externas, sejam elas pessoas ou bens materiais. É verdade que elas são uma parte importante do nosso bem-estar, mas por si só elas não têm a capacidade de nos fazer felizes.
Pelo menos não por muito tempo.
Ultimamente tenho aprendido que ser feliz não significa estar alegre o tempo todo. Há coisas que nos entristecem e isso faz parte da vida. É por isso que considero que há uma grande diferença entre estar feliz e ser feliz. Estar feliz é algo temporário. Tem a ver com os acontecimentos da vida. Ser feliz, pelo contrário, não está dependente de acontecimentos externos.
Eu posso estar feliz agora e não ser uma pessoa feliz.
Nesse caso, como podemos então ser felizes? A história diz-nos que a felicidade está dentro de nós. Isso significa que ela não nos pode ser dada, nem tirada. É algo inerente a nós. Então, porque não a conseguimos sentir na sua plenitude?
De tudo o que tenho aprendido, é porque os nossos fantasmas interiores não nos deixam.
Para mim, paz interior e felicidade andam juntas, pois enquanto não alcançarmos a primeira, dificilmente conseguiremos sentir a segunda.
Considero que ser feliz é, até um certo ponto, estar em paz. Connosco, com a vida, com o nosso passado, com o que nos aconteceu, com o que nos acontece, com tudo. Não é fácil, eu sei. Para mim também não é. Mas cada vez mais tenho-me apercebido da importância deste estado de espírito e de como ele desempenha um papel preponderante na nossa felicidade.
Se eu tivesse que definir o que significa “ser feliz”, talvez dissesse que é estar de bem com a vida. Com o que se tem. Com o que se faz. Com o que se é.
Dito por outras palavras, penso que ser feliz é, tão simplesmente, a consequência do caminho que fazemos rumo a uma paz interior.