Capítulo II - Mandawa

Dia 09 de Agosto de 2012 || 18h20 – Mandawa

Saí às 9h00 do hotel em Delhi com o motorista de turbante que me vai levar pelo Rajastão fora.

Continuo nervosa e cheia de medo.

A viagem até Mandawa, uma vila antiga, levou 7h30. Parámos no caminho para almoçar, num sítio à beira da estrada que está feito especialmente para os autocarros turísticos levarem os turistas a comer.

Que miragem! Pela primeira vez vi uma série de turistas! Só me apetecia dizer “Can I stay with you?”. O meu motorista não fala muito (quase nada). Ele não sabe muito inglês e por isso o caminho foi todo feito em silêncio, apenas com o rádio a tocar que eu pedi para ligar ao sairmos de Delhi.

A viagem foi… uma mistura de emoções. Primeiro, o medo de que me acontecesse alguma coisa. Segundo, o choque do que ia vendo ao longo do caminho. Terceiro, o desespero porque tinha fome; porque queria beber, mas não queria correr o risco de ficar com vontade de ir fazer xixi; porque nunca mais chegávamos; e porque o meu telemóvel não tem rede…

Curiosidade: as estradas também se pagam aqui. Mas chamar alguns destes “caminhos” de estradas é muito. Algumas estavam inundadas com a chuva. E a saga do caótico trânsito continuava. Primeiro foi em Delhi. Não tem explicação! Um autêntico mar de carros completamente descontrolado. Depois foi nas “estradas” secundárias. Aqui na Índia não há faixas de rodagem “uma para cá e outra para lá”. Não. Há uma só estrada por onde tudo o que anda circula, e ponto! Aqui até os camelos andam na estrada a puxar carroças. E vacas? Muitas! Muitas vacas. Agora sim vi muitas vacas, e algumas são tão magras quanto as pessoas que as alimentam…

De resto, era assustador ver uma “extensão” das ruas de Delhi pelas beiras da estrada. A degradação, a sujidade, o lixo, a pobreza. Tudo isto em pequenas “ilhas” isoladas ao longo do caminho, separadas por vastos “campos”, alguns agrícola.

A meio da manhã o condutor parou e comprou-me umas bananas. Cada vez que ele parava para fazer alguma coisa (pôr gasolina, encher os pneus, fazer uma mijadinha, etc.) o meu coração acelerava: “O que é que ele vai fazer?”

O tal restaurante onde parámos para comer (ele também comeu ali, mas noutro sítio) era de self-service e custou-me 400 rupias. Fui à casa-de-banho “she” onde, pela 1ª vez, fiz xixi para um buraco no chão (era louça sanitária, mas no chão, com um sítio para pôr os pés). À porta estava um homem a dar guardanapos. E lá dentro a única iluminação que tinha era apenas a luz do dia que entrava pela porta.

Em certas partes das estradas havia também uma cancela (como aquelas que há nas nossas portagens). De um lado tinha uma pedra enorme presa à cancela; do outro um homem que segurava a cancela com uma corda para ela não subir…

A estrada que nos trouxe até Mandawa era estreita, do tamanho de uma faixa de rodagem, mas onde de vez em quando passava um carro no sentido contrário ao nosso. Este caminho ficava num vasto campo, isolado de tudo.

Quando chegámos à vila o motorista andou às voltas a perguntar onde era o hotel. E enquanto ele procurava eu perguntava a mim mesma porque raio é que o Ravi quis que eu visitasse este sítio. Aliás, o que eu perguntava a mim mesma era: “o que é que eu estou aqui a fazer?” e “oh, meu Deus, mas em que raio de hotel é que eu vou ficar?”.

Entretanto, quando já faltava pouco para chegarmos ao hotel (mas eu ainda não sabia disso), entra um rapaz no carro e senta-se ao lado do motorista. Medo! Não pergunto nada e vejo o que acontece…

O rapaz trabalha no hotel e levou-nos até lá.

Na recepção deu o voucher ao senhor. Ele pede-me o meu passaporte. Pergunto se depois mo dão e dizem que sim, depois de 5/10 minutos. Vou à procura do meu motorista. Afinal tenho que combinar com ele por causa de amanhã (e ter a certeza que ele passa a noite neste hotel). Diz-me que às 9h00 saímos.

Entretanto mostram-me o meu quarto. O hotel é bem pequeno e tem os poucos quartos existentes à volta de um pátio interno. O edifício tem ar de ser antigo. As portas de entrada para os quartos são como as dos castelos, mas mais pequenas. A da casa-de-banho também.

O quarto era quente. Ligaram as ventoinhas do tecto e mostraram-me as instalações. De repente perguntaram-me se eu queria um quarto com ar condicionado. Disse que sim. No quarto seguinte disseram-me que eu só tinha que esperar que viessem limpar a casa-de-banho. Ficou na mesma… É… nojento… Ainda bem que eu trouxe uma toalha. E um lençol e uma fronha.

Peço o passaporte ao rapaz. Agora já pela segunda vez. A resposta é sempre a mesma, mas agora digo que não espero. Quero o passaporte comigo! Dão-me o passaporte.

Perguntaram-me se quero ir visitar a vila e se quero que um dos rapazes vá comigo. Pergunto se tenho que pagar. Dizem que dou se eu quiser. Ok, vamos à “cidade”. (O problema do dinheiro é porque não tenho mesmo, principalmente notas pequenas.)

Afinal até tem umas coisas interessantes. São basicamente casas antigas com pinturas lindíssimas. E é neste passeio que vejo mais… turistas! Oh! Aqui estão vocês. Mas não no meu hotel, claro. Aliás, neste hotel de meia dúzia de quartos estou só eu. O rapaz disse que iria chegar um grupo no final do dia. Mas já são 21h20 e eu ainda não vi nem ouvi ninguém…

A visita foi rápida. Eu até queria ver mais, mas sozinha não me atrevi. E até havia mais para ver…

Volto para o hotel com o rapaz (depois da visita guiada da qual eu não percebi nem um quarto do que ele dizia em inglês) e… pareceu-me que ele estava à espera de gorjeta (como todos parecem estar!). Não dei nada, mas fico a pensar nisso. Só tenho notas de 100! Não lhe vou dar 100! Não lhe vou pedir troco!

Lá descobri uma nota de dez, e passadas umas duas horas vou à procura do rapaz. No pátio vejo que uma das portas abertas dá para uma sala de jantar que até está com mesas postas (penso se será para o tal grupo que vem aí…). Pergunto isso mesmo, se é para alguém que vem comer. Como o inglês de todos eles é péssimo o rapaz responde-me dizendo que eu posso comer ali. Não sabia que serviam jantar aqui. Um outro rapaz traz-me o menu. Parece-me bem. Até porque são preços que eu ainda posso pagar com o pouco dinheiro que me resta. Peço arroz com legumes. Ainda bem que consegui jantar. Já estou a começar a ficar farta das bolachas. Mas confesso que me têm salvado a barriga.

Tomo banho (aos bocadinhos porque não tenho água quente outra vez) ao mesmo tempo que vou matando umas espécies de formigas que estão por toda a casa-de-banho.

Amanhã é às 9h00 outra vez.


Nota: Mais uma vez a foto de capa que coloquei para este texto não é referente ao local que descrevo.

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